As origens do surto de ebola na África Ocidental

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Suspeitas indicam que o surto começou com garotos de 2 anos morto em dezembro

PESQUISADORES SUSPEITAM QUE o paciente zero do surto de ebola tenha sido um garoto de dois anos que morreu em 6 de dezembro, dias depois de ter ficado doente em Guéckédou, região do sudeste da Guiné que faz fronteira com Serra Leoa e Libéria. A mãe do menino morreu uma semana depois; em seguida foi a irmã de trêsanos e a avó. Todos tiveram febre, vômitos e diarreia, mas ninguém sabia o que tinha causado a doença. No enterro dessa última, duas pessoas levaram o vírus para a aldeia onde moravam; um enfermeiro o levou para a sua, onde morreu, assim como o médico que o tratou. E ambos infectaram parentes que moravam em outros vilarejos.

Quando o ebola foi reconhecido, em março, dezenas de pessoas já tinham morrido em oito comunidades da Guiné e novas suspeitas surgiam na Libéria e em Serra Leoa, três dos países mais pobres do mundo. Em Guéckédou, onde tudo começou, “todo mundo estavacom medo”, conta o Dr. Kalissa N’fansoumane, diretor do hospital, que teve que convencer os funcionários a ir para o trabalho. Agora, com mais de mil mortes e quase o dobro de infectados, inclusive alguns na Nigéria, o surto está fora de controle e é bem provável que supere todas as outras 24 epidemias já ocorridas juntas. Epidemiologistas preveem que levará vários meses para controlá-lo.

Os governos da região podem se desestabilizar. A Guiné fechou suas fronteiras com a Serra Leoa e Libéria na tentativa de impedir a disseminação do vírus. Os médicos temem que o número de mortes por malária, disenteria e outras doenças suba, pois o ebola está exigindo recursos de um sistema de saúde já fragilizado. Médicos e enfermeiros, já em falta, foram seriamente atingidos: 145 foram infectados e 80 já morreram. Embora a Organização Mundial de Saúde tenha decidido ser ético ao usar remédios não testados para combater a epidemia, as quantidades são limitadas.

Ao contrário da maioria dos surtos anteriores, ocorridos em regiões remotas do Congo e Uganda, esse começou em uma região onde as estradas, em melhor estado, vivem lotadas de moto-táxis e lotações sempre cheias. E como em várias outras partes da África de hoje, a maior mobilidade faz com que seja difícil conter os surtos de doenças. Nesse caso, o ebola já tinha se espalhado antes que as autoridades percebessem. Também não ajuda o fato de essa região nunca ter tido qualquer contato com a doença. Médicos e enfermeiros não a reconheceram e não tinham nem o treinamento, nem o equipamento necessários para evitar a própria contaminaçãoe a de outros pacientes.

Mesmo em meados de março, a Médico Sem Fronteiras em Guéckédou a princípio suspeitou que a doença fosse febre de Lassa —, mas era muito pior. As unidades de isolamento foram montadas às pressas e os testes revelaram a presença do ebola. Com a doença, espalhou-se também o medo e em algumas áreas as pessoas chegaram a atacar médicos e enfermeiros, e até a acusá- -los de disseminar o vírus. “No início do surto, a população de pelo menos 26 vilarejos ou cidadezinhas não quis cooperar com o pessoal da saúde pública, tipo, nem os deixou entrar”, disse Gregory Hart da OMS.

No Hospital Donka, em Conacri, o dr. Simon Mardel, médico emergencista britânico que trabalhou em sete surtos anteriores da febre hemorrágica, percebeu logo que esse seria o pior de todos que já presenciou. Um dia, um homem chegou arfando e com dores abdominais. Alguns dias antes tinha recebido cuidados em duas clínicas particulares, tomou soro e foi liberado. Ninguém suspeitou de ebola porque ele não tinha febre, mas a temperatura pode cair no estágio final da doença. A sala de tratamento estava mal iluminada e não havia nem pia, apenas alguns baldes com uma solução de cloro, mas a equipe não conseguia lavar as mãos entre os pacientes.O homem morreu duas horas depois de dar entrada.

Mais tarde os testes confirmaram que ele tinha ebola. Inúmeros médicos, enfermeiros e futuros pacientes tinham sido expostos à doença. “As equipes não conseguiam confirmar nem acompanhar os contatos de todos os pacientes — e os casos insuspeitos resultantes, que apareceram nos hospitais sem que houvesse medidas padrão de controle de infecção, reforçaram a disseminação em um círculo vicioso”, conta o médico.

Fonte: ORMNews.

Publicado por Folha do Progresso fone para contato  Tel. 3528-1839 Cel. TIM: 93-81171217 e-mail para contato:folhadoprogresso@folhadoprogresso.com.br

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