Diamante gigante: negociante no meio do mistério

(Foto: Reprodução / REDES SOCIAIS) – Sinal de comemoração, em publicação na internet, Wado Borges mostra satisfação com a pedra em uma das mãos crédito:

Grande negociante de diamantes em Minas Gerais, o empresário Oswaldo Borges da Costa Netto, de 53 anos, conhecido como Wado Borges, é apontado como o comprador do segundo maior diamante do Brasil, de 646,78 quilates. A gema foi apreendida pela Polícia Federal (PF) e Agência Nacional de Mineração (ANM), e o empresário também é alvo de investigação.

A ação ocorreu no último dia 27 de agosto, quando a pedra preciosa receberia o lacre do Certificado do Processo Kimberley (CPK), documentação necessária para ser exportada.

O diamante foi retido por agentes da ANM de Brasília e policiais federais por suspeitas de furto e desvio – crimes e irregularidades que são apurados em processo administrativo sigiloso da agência e investigação da PF, como mostrou com exclusividade reportagem do Estado de Minas publicada em 2 deste mês.

Fontes do mercado informaram que representantes de um comprador belga da Antuérpia estariam no Brasil negociando com Wado Borges nos dias em que o segundo maior diamante do Brasil receberia o lacre do CPK.

Nas redes sociais, há diversos vídeos circulando, inclusive nas redes pessoais de Wado Borges, mostrando o empresário de posse da pedra preciosa gigante. Nos registros, ele aparece em situações como a bordo de seu avião sobrevoando Coromandel, no Alto Paranaíba, em uma mesa assinando documentos com a gema à sua frente e também destacando a pesagem do segundo maior diamante do país.

A empresa Diadel Mineração Ltda. revelou a existência da gema e afirmou que a extração aconteceu em seu garimpo no Rio Douradinho, em Coromandel. A pedra foi registrada no Relatório de Transações Comerciais (RTC) do Cadastro Nacional de Comércio de Diamantes (CNCD) em 29 de maio de 2025.

Contudo, a PF investiga se a verdadeira origem da pedra preciosa foi uma extração legal no Rio Araguari, em Araguari, no Triângulo Mineiro, pertencente à Carbono Mineração. A suspeita é de que o diamante possa ter sido furtado e desviado.

Entre a documentação que a Diadel Mineração apresentou para a ANM consta a nota fiscal de venda e o pedido de exportação (CPK), indicando que ocorreram pagamentos, mas que com a pedra preciosa apreendida teriam de ser restituídos.

Corre entre integrantes do mercado de diamantes de Coromandel – desde negociadores a garimpeiros – que uma parte do pagamento prometido pelo diamante não teria sido concluída e que por esse motivo surgiram ameaças e insatisfações, agravadas com a apreensão da pedra.

Nesse contexto, Wado Borges surge em um vídeo divulgado nas redes sociais e que despertou mais suspeitas. O empresário aparece em uma pista de pouso falando ao telefone atrás de uma das asas de seu avião monomotor, que tem a hélice acionada, porém está bloqueado por três caminhonetes, sendo que em meio aos veículos se vê um homem que aparentemente seria um policial militar.

A filmagem é narrada por um homem que se revela entre as caminhonetes e do lado oposto da asa do avião. Ele faz diversas acusações a Wado Borges, gravando o piloto e alguém que está dentro da aeronave, identificado pelo narrador como sendo o filho de Borges, que esconde o rosto com as mãos.

A reportagem não localizou um boletim de ocorrência relacionado ao fato. Wado é filho de Osvaldo Borges da Costa Filho, o Osvaldinho, que mora nos EUA, foi presidente da Codemig, na época da construção da Cidade Administrativa e chegou a ser investigado pela PF no inquérito do processo de superfaturamento da obra, mas por ter mais de 70 anos o crime prescreveu.

Wado Borges é um conhecido negociante e comprador de diamantes de alto valor no Brasil, com uma reputação consolidada no mercado exterior e vasta cartela de clientes. Muitos vendedores de pedras preciosas buscam o empresário por acreditarem que, ao tratar com ele, estão vendendo diretamente para o mercado internacional, o que ele tem feito há bastante tempo.

Wado possui conhecimento profundo dos trâmites de exportação e frequentemente atua intermediando vendas para empresas internacionais, ajudando a evitar bitributações.

A aparição repentina de Wado com o diamante, sem que houvesse um processo de leilão ou consulta a outros compradores brasileiros, levantou suspeitas no mercado. Negociadores brasileiros afirmaram não terem sido consultados sobre a compra, o que é incomum para uma gema de tamanha relevância.

Normalmente, uma descoberta desse porte desencadearia um leilão para inflacionar o preço do diamante, garantindo a melhor proposta. O valor especulado para a venda do diamante, entre R$ 16 milhões e R$ 18 milhões, também chamou a atenção por ser considerado muito abaixo do que a pedra poderia alcançar no mercado.

Especialistas estimam que a gema poderia facilmente valer R$ 50 milhões. Essa diferença significativa no preço, aliada à falta de publicidade na negociação, sugere uma tentativa de concluir o negócio rapidamente, possivelmente antes que questionamentos sobre a procedência da pedra pudessem surgir. A divulgação tímida e amadora dada a uma descoberta de tal envergadura também produziu estranheza, pois não atrairia investidores para a operação.

A principal suspeita apurada pela investigação é se a pedra foi mesmo furtada e desviada de Araguari para Coromandel para “esquentar” sua documentação na Diadel Mineração, conferindo-lhe uma legalidade aparente com a procedência em um garimpo legal. Não se sabe se Wado é apenas um comprador que desconhece essas suspeitas ou se teria atuado antes e usado a Diadel.

Fundada em 2004, a Diadel Mineração tem como sócio-administrador desde 2024 o empresário Carlos César Manhas, de 63 anos. Manhas é uma figura conhecida no meio dos diamantes em Coromandel e estaria ligado a grupos de israelenses que atuam no mercado internacional de pedras preciosas.

Em 2002, Manhas foi preso pela PF em Rondônia, junto com um grupo de brasileiros e israelenses, por posse de 44 diamantes e uma ametista. As pedras seriam provenientes da Reserva Indígena Roosevelt, dos Cinta-Larga, uma terra onde a atividade garimpeira é proibida.

Manhas foi condenado por receptação de bem pertencente à União, com a acusação de facilitar o comércio ilegal de diamantes para compradores estrangeiros, especialmente israelenses, com quem ele manteria conexões até hoje.

A investigação da PF e da ANM também se debruça sobre o rastreamento de todas as pessoas que tiveram contato com o diamante. Isso inclui desde os garimpeiros que supostamente encontraram a pedra até possíveis compradores e intermediários, buscando identificar seus vínculos de trabalho, valores recebidos e comprovar a localização nos dias da suposta extração.

A Diadel Mineração chegou a impetrar um mandado de segurança na Justiça Federal da 14ª Vara Federal Cível de Minas Gerais, solicitando acesso a informações sigilosas do processo administrativo que culminou na apreensão do diamante. A empresa alegou que a falta de acesso violava seu direito ao contraditório e à ampla defesa.

No entanto, a Justiça Federal indeferiu o pedido de liminar, pois o juízo apontou a necessidade de esclarecimentos por parte da ANM sobre a fundamentação do sigilo antes de avaliar uma possível violação de direitos. A decisão judicial também determinou a notificação do superintendente da ANM para que preste informações e remeteu a ação ao Ministério Público Federal (MPF). O MPF poderá intervir para defender os interesses da União, especialmente diante da suspeita de não recolhimento de impostos sobre uma venda supostamente abaixo do valor de mercado.

A PF e a ANM têm mantido sigilo sobre os detalhes da investigação, alegando razões de segurança e proteção dos envolvidos. A PF informou que “não compartilha qualquer informação sobre investigações em curso”, e a ANM “acompanha a situação com rigor”, em conformidade com os princípios administrativos.

A reportagem buscou contato com Wado Borges em várias empresas onde ele aparece como sócio, mas ainda não foi respondida. Na Forbi Holding Ltda., onde é sócio-administrador, e também na concessionária onde consta como membro do conselho, a informação é de que Wado não ficava lá, apenas o seu pai, mas que os contatos para resposta seriam repassados a ele.

Na empresa Serra Norte Mineração Ltda., onde o nome de Wado está no quadro societário, a informação é de que ele é sócio, mas que não vai ao escritório da empresa. A reportagem forneceu mais uma vez os contatos para a secretária, que afirmou que os repassaria internamente a Wado.

Um ex-sócio do empresário – que atualmente presta serviço na instalação e manutenção de maquinários para extração de diamantes – disse que não tinha autorização para fornecer o contato dele, mas que passaria o recado e os contatos da reportagem.

As empresas Black Rock Minérios Ltda. e a Star Diamantes Ltda., onde consta o nome de Wado como sócio, também foram procuradas, mas a reportagem não conseguiu contato pelos registros públicos existentes.

A Diadel Mineração e o seu sócio-administrador foram mais uma vez procurados, mas não retornaram à reportagem. A Carbono Mineração também não respondeu aos questionamentos do EM.

 

Fonte:  Estados de Minas e Publicado Por: Jornal Folha do Progresso em 15/09/2025/15:30:45

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