Empresa que administra Usina de Belo Monte no PA quer queimar toras de madeira para ‘fins energéticos’ em siderurgia

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Madeiras são provenientes de área da Usina Hidrelétrica Belo Monte fica localizada no rio Xingu, no Pará — Foto: Norte Energia

Pedido feito pela Norte Energia ao Ibama está em análise. Material inclui madeiras nobres e protegidas por lei.
Cerca de 3,5 mil metros cúbicos de madeira, incluindo toras nobres e protegidas por lei, podem virar carvão no Pará. As toras poderiam preencher dois campos de futebol.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) analisa um pedido feito pela Norte Energia, que administra a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, para que o estoque de toras armazenado nos pátios da empresa vire carvão, como revelou o jornal O Estado de São Paulo. Ao g1, o Ibama informou que o objetivo é reverter o material para “fins energéticos” em uma siderurgia.

O prazo para conclusão da análise não foi informado pelo Ibama. Após saber da possível destinação da madeira, o Governo do Pará informou que pretende requisitar o material “para dar destinação social, tendo em vista a prioridade do recurso para a construção de moradias, pontes, espaços públicos”. Segundo a Universidade Federal Rural da Amazônia, em bom estado, esta quantidade de madeira seria suficiente para construir cerca de 70 casas de 72 m². A data que o Estado pretende fazer o pedido não foi detalhado até o início da tarde desta terça-feira (28).

No entanto, segundo a Norte Energia, a maior parte do material está em decomposição, sem especificar a quantidade de madeira que está de fato podre. Segundo a empresa, o pedido ao Ibama é referente a “material lenhoso como galhadas, resíduos para cavacos, resíduos de toras sem qualquer outra possível utilização tendo como alternativa de destinação a absorção pelo solo por meio de decomposição”, informou em nota.

O material é proveniente da área onde fica a usina, localizada na bacia do Rio Xingu, e foi contabilizado no período de dezembro de 2020 a abril deste ano. O ano de retirada dessas árvores, a maioria castanheiras, não foi detalhado pela empresa e pelo Ibama, mas segundo especialistas procurados pelo g1, seria de 2016 e 2017.

Segundo a autarquia, a empresa Siderúrgica Norte Brasil S.A. “demonstrou interesse no aproveitamento das madeiras armazenadas para a produção de bioredutor energético, destinado ao processo fabril de siderurgia da empresa”.

O bioredutor, funciona como combustível orgânico para reduzir a emissão dos gases que provocam efeito estufa das siderúrgicas. Atualmente, 11% da produção do aço produzido no Brasil é com bioredutor.

Situação da madeira

A Norte Energia disse que “quase a totalidade (da madeira) está em processo de decomposição”. A solicitação para uso energético foi feito pois, segundo o Ibama, “o material apresenta baixo volume para serraria, tornando-se inviável operacionalmente e economicamente”.

Ainda de acordo com o Ibama, das madeiras e toras especificadas no pedido da Norte Energia, são:

1.650,87 m³ é de madeira protegidas por lei;
522,11 m³ é de madeira considerada madeira nobre;
576,13 m³ de madeira comercial de primeira;
293,47 m³ de madeira branca;
369,77 m³ de madeira definida com mourões;
e 90,07 m³ não comercial.

Destinação adequada

Para especialistas, o ideal é que o material tivesse uma destinação sustentável antes de a madeira estragar, como aponta o pesquisador e consultor ambiental Tarcísio Feitosa, que acompanhou a instalação do complexo hidrelétrico na região.

Para ele, converter a madeira em carvão é o que chamou de “crime climático”. No entanto, como o material ficou anos à margem do clima, não restam muitas alternativas.

“O mais impressionante é a Norte Energia deixar essa madeira apodrecer e não ter dado uma destinação sustentável associando emprego e renda. […] Pelo tempo que foi exposta a intemperes climáticas e como não foi aproveitada antes, a única opção seria ou virar adubo, ou parte dela ser usada em artesanato ou queimar o restante”, detalha.

Feitosa lembra ainda que a queima do material, assim como também seu transporte, emitem gases que provocam efeito estufa.

O Ibama informou ao g1 que 31,6% de toras provenientes de áreas onde fica a usina tem tido destinação mais adequada, como produção de madeira serrada de espécies protegidas e comerciais; uso interno na obra principal, atendimento às populações ribeirinhas; obras do entorno; doações; destinação ao mercado local e regional. A madeira destinada a estes fins é de 82.537,90 metros cúbicos.

Em nota, a autarquia disse que “vem acompanhando o atendimento dos objetivos, metas e status de execução dos Projetos estabelecidos no Plano Básico Ambiental (PBA) para aproveitamento e destinação do material florestal gerado, em especial, por meio de vistorias, seminários técnicos, e análise de documentos e relatórios”.

“Contudo, observa-se dificuldades para destinação do grande volume de madeira gerada na supressão de vegetação da UHE Belo Monte, dentre os quais destacam-se: restrições legais à comercialização de espécies protegidas por lei; a qualidade e o estado físico das madeiras dispostas nos pátios; o potencial de industrialização e valor de mercado da madeira; bem como processos que envolve fiscalização e emissão de documentos regulatórios; organização e estruturação logística das operações de transporte da matéria-prima, produção e transporte do produto ao local de uso, entre outros”, afirma o Ibama.

Por g1 Pará — Belém

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