Exclusivo: Comunidades próximas do aterro de Marituba estão expostas a contaminantes metálicos

Comunidade Santa Lúcia (Cristino Martins / O Liberal)

Estudo do Instituto Evandro Chagas encontrou metais como alumínio, ferro, chumbo e mercúrio em níveis acima do que é permitido pela legislação brasileira

Nove comunidades próximas ao aterro sanitário de Marituba estão expostas a contaminantes metálicos encontrados na poeira domiciliar, nos solos subsuperficiais e nas águas subterrâneas e/ou da rede alternativa de abastecimento. Essa é a conclusão de um relatório técnico-científico do Instituto Evandro Chagas (IEC) que aponta o risco de exposição humana a contaminantes atmosféricos gerados pela Central de Processamento e Tratamento de Resíduos (CPTR) de Marituba.

As amostras estudadas foram coletadas entre o segundo semestre de 2017 e o primeiro semestre de 2018, em cinco residências de cada uma das seguintes comunidades: Santa Lucia I, Santa Lúcia II, Albatroz I, Albatroz II, Campina Verde, São João, Almir Gabriel, Beija-Flor e São Pedro.

ÁGUA

Nas águas usadas para consumo humano em seis comunidades com maior proximidade da CPTR (Santa Lucia I, Santa Lúcia II, Albatroz I, Albatroz II, Campina Verde, São João), foram encontrados níveis de alumínio, ferro, chumbo e mercúrio acima dos valores máximos permitidos na legislação brasileira.

Segundo o relatório, estes teores alterados podem indicar uma anomalia regional ou possível contaminação dos aquíferos subterrâneos a partir de uma fonte antrópica, sendo altamente recomendados estudos mais aprofundados para compreensão das origens desses contaminantes.

“Considerando que elementos como chumbo e mercúrio são altamente tóxicos, estando ambos listados entre as dez substâncias mais perigosas à saúde humana pela Organização Mundial de Saúde (OMS), seria importante o estabelecimento na região de programa de monitoramento contínuo para avaliar a exposição ambiental a esses contaminantes nestas comunidades”, recomendou o coordenador do estudo, o pesquisador Marcelo Lima.

POEIRA

Na poeira domiciliar, em pelo menos uma das residências das comunidades localizadas neste primeiro raio de abarangência, foram encontrados níveis alterados de chumbo, bário, cobalto, cobre e manganês quando comparados aos valores norteados para áreas não expostas a esses contaminantes. Esses resultados são indicativos de maior exposição ambiental a esses contaminantes a partir das poeiras domiciliares de residências localizadas em áreas mais próximas à CTPR.

“Estes dados reforçam a necessidade de estabelecimento de programa de monitoramento dos níveis de metais no material particulado atmosférico ao redor deste empreendimento”, acrescentou o pesquisador.

SOLO

Já nos solos subsuperficiais dos quintais das residências da comunidade Santa Lúcia II, os resultados alterados de cobre indicam que esta área pode estar ambientalmente mais exposta a contaminantes metálicos entre as nove avaliadas.

“Na camada mais externa dos quintais, onde as crianças brincam”, pontuou o pesquisador. O estudo apontou que os níveis fora dos padrões de normalidade para águas subterrâneas e da rede alternativa de abastecimento e poeira domiciliar para bairros localizados no segundo nível periférico do empreendimento (Almir Gabriel, Beija-Flor e São Pedro) pode sugerir outras possíveis fontes de contribuição oxógena.

ANOMALIAS

“Encontramos várias anomalias. Entre os mais nocivos: mercúrio, chumbo e manganês. Encontramos cobalto, elemento muito difícil de se encontrar na água. Geralmente está associado a materiais condutores, como bateriais e placas. Também identificamos cobalto na poeira. E, no solo, destaco a presença de cobre em um nível muito alto na Santa Lúcia II. O cobre está muito associado ao lixo. E esse é o maior indicador de que tem um problema com resíduos”, detalhou.

“Mas não há nenhum estudo que prove que os metais apareceram por conta do aterro nem que essas pessoas estão contaminadas. Apenas que essas comunidades estão expostas a contaminantes metálicos”, ponderou.

Segundo Marcelo Lima, o estudo foi solicitado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e pela Fundação Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) e já foi entregue para ambas no final do ano passado. Ele também informa que o Ministério Público do Estado do Pará também já recebeu o relatório.

“Teríamos que realizar uma segunda etapa, onde usaríamos um equipamento para capturar tudo o que vem do ar em filtros durante 24h em três dias. E, depois, comparar com a coleta de outra área que não fosse essa. Mas, para isso, seria necessário recursos e a solicitação da Semas”, explicou Marcelo.

O pesquisador acrescenta que, independentemente da possível nova solicitação da Semas, o IEC já desenhou um estudo próprio para avaliar o toxicológico humano em Marituba. “Estamos submetendo ao nosso comitê de ética. Devemos aprovar ainda neste semestre. Temos que discutir se essas pessoas estão absorvendo contaminantes”, concluiu Marcelo.

SEMAS

Em nota, a Semas esclareceu que a equipe de fiscais não teve acesso, até a presente data, ao referido relatório. “Como não houve a entrega do estudo no prazo de vigência do contrato estabelecido entre a secretaria e a Fadesp e não houve aditivo, a equipe de fiscais se posicionou pelo encerramento do contrato no ano de 2018”, informou a nota.

MARITUBA

A Prefeitura Municipal de Marituba também se pronuciou e informou que ainda não teve acesso a este relatório. “Assim que tivermos conhecimento dos fatos e estas informações forem confirmadas, tomaremos as medidas cabíveis”, garantiu em nota.
Por:João Thiago Dias

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