Juíza diz estar ‘mais motivada ainda’ após sofrer ataque em Fórum de SP

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Juíza Tatiane Moreira de Lima; vídeo com ela sendo mantida refém por Alfredo José dos Santos; e imagem de agressor detido pela polícia (Foto: Reprodução / TV Globo / Polícia Civil)- A  juiza Tatiane Moreira Lima, de 37 anos, disse que o ataque que sofreu no Fórum Regional do Butantã, na Zona Oeste de São Paulo, do vendedor Alfredo José dos Santos, é um ataque a todo poder judiciário, e que achou surreal ser vítima de agressão em pleno Fórum. Ela voltou a trabalhar nesta segunda-feira (4) na Vara de Violência Doméstica e disse estar “mais motivada ainda” após o ataque sofrido.

“Me senti mais motivada ainda, porque eu ouvi os relatos dessas mulheres e, de repente, eu estava naquela história”, afirmou Tatiane em entrevista coletiva na tarde dessa segunda-feira.

“Quando aconteceu o fato, eu sequer me dei conta. Eu achava tão surreal, tão inesperado, você estar no seu trabalho e aquilo ser invadido, e você ser subjugada, que eu nem me dei conta.”

“Acho que não foi só um ataque a uma mulher, a uma juíza, mas um ataque a todo o poder Judiciário. E o Judiciário não pode se amedrontar. De forma alguma.”

A juíza afirmou que o ataque foi um ato isolado e que o agressor estava fora de controle. “Não sinto raiva, sinto extrema compaixão. O que ele quis fazer foi justiça com as próprias mãos. Mas a Justiça existe justamente para que não voltemos à barbárie.”

A magistrada considera que não apenas as mulheres devem ser atendidas, mas o agressor também precisa de acompanhamento.

O presidente do Tribunal de Justiça disse que vai aumentar a equipe terceirizada de segurança após o ataque. “O Fórum é área de conflitos não pode haver entrada de armas. É importante que haja revista e que as pessoas possam ser monitoradas.”

Na última quarta-feira (30), a magistrada ficou meia hora refém nas mãos do vendedor Alfredo José dos Santos, que ameaçou incendiá-la. O agressor exigiu que ela gravasse um vídeo no celular dizendo que ele era inocente das acusações de bater na ex-mulher. O homem, que é réu num processo, culpava equivocadamente Tatiane por ter tirado dele a guarda do filho. Esse processo, porém, não estava com ela, mas sim com outra magistrada.

As imagens das ameaças e da prisão de Alfredo foram gravadas por policiais militares. Logo após a Polícia Militar (PM) deter o homem, num momento de distração dele, as cenas foram compartilhadas pelo aplicativo WhatsApp, viralizando nas redes sociais.

Ainda segundo a assessoria do TJ, o presidente do tribunal, Paulo Dimas de Bellis Mascaretti, e um represente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) irão nesta tarde ao fórum onde a juíza foi atacada para dar apoio a ela.

No domingo (3), Tatiane falou ao Fantástico que se sentiu como as mulheres vítimas de agressões que vê nas audiências. Também disse que, apesar de ter sido agredida por Alfredo, não tem raiva do homem.

“Não tenho sentimento de rancor ou raiva. Fiquei realmente com pena porque vi ali um ato de desespero”, disse a magistrada. “O que percebi foi que eu estava sendo vítima como as mulheres que vêm todos os dias nas audiências”.

Em depoimento à Polícia Civil, Alfredo havia dito que invadiu o Fórum do Butantã e fez Tatiane refém porque “queria chamar a atenção”. Ele alegou que se sentia injustiçado pela juíza por ela ter tirado dele a guarda do filho e a todo momento pedia para os policiais filmarem ele e chamarem a TV.

Réu no processo pelo qual responde pela agressão da ex-mulher, mãe da criança, o vendedor tinha audiência marcada com a juíza na tarde da última quarta-feira. Apesar disso, chegou mais cedo, passando direto pela segurança, driblando a revista.

Com uma mochila nas costas repleta de garrafas com líquido inflamável, ele ateou fogo nas escadas, impedindo que um vigilante armado o detivesse. O segurança chegou a atirar, mas o disparo atingiu uma parede.

Já na sala da magistrada, Alfredo imobilizou a mulher, segurando seu pescoço. Em seguida, molhou a juíza com mais combustível e pegou um isqueiro. Obrigou Tatiane a gravar um vídeo no celular dizendo que ele era inocente sob a ameaça de queimá-la junto com ele. O homem pretendia mostrar a imagem para o filho.

“Seu pai é inocente”, diz a magistrada no vídeo que o homem queria que fosse mostrado ao seu filho. “Pilantra”, diz Alfredo para a juíza.

Com a chegada da PM teve início a negociação para que o agressor libertasse a juíza e se entregasse. Alfredo exigiu que os policiais também o filmassem. Num momento de distração do vendedor, que permitiu que Tatiane se levantasse para tirar cacos de vidro do corpo, a Polícia Militar o deteve.
Não tenho sentimento de rancor ou raiva. Fiquei realmente com pena porque vi ali um ato de desespero”
juíza Tatiane Moreira de Lima

De acordo com o boletim de ocorrência registrado no 51º Distrito Policial (DP), no Butantã, Alfredo ameaçou matar Tatiane e se suicidar em seguida. Por esses crimes, ele foi indiciado por tentativa de assassinato, incêndio e resistência à prisão.

Com sinais de transtornos psicológicos, Alfredo foi medicado num hospital. Mais calmo, falou que não queria matar a juíza e se suicidar, como disseram os policiais militares.

Na quinta-feira (31), o vendedor foi transferido para o Centro de Detenção Provisória (CDP) Belém, na Zona Leste da capital paulista. O G1 não conseguiu confirmar se ele já constituiu advogado para defendê-lo.

A juíza Tatiane também foi ouvida pelos policiais quando foi levada ao Hospital Albert Einstein. A mulher teve ferimentos e cortes no corpo por causa de uma garrafa de vidro quebrada pelo agressor com um líquido inflamável dentro. A magistrada foi liberada do centro médico.

Em mensagem de voz enviada a grupos de amigos juízes no WhastApp, ela agradeceu o apoio que recebeu após ter sido refém do vendedor. “Não vou deixar que um maluco impeça que eu faça meu trabalho que eu amo tanto”, afirmou num dos trechos do áudio (ouça abaixo).

Por causa do incidente, o fórum ficou fechado para o público na quinta-feira (31) e só foi reaberto na sexta-feira (1º). Todas as audiências agendadas foram canceladas e serão remarcadas. De acordo com Tribunal de Justiça (TJ), se forem constatadas falhas na segurança, “medidas corretivas serão tomadas de imediato”.

POR Paulo Toledo Piza e Kleber TomazDo G1 São Paulo
Publicado por Folha do Progresso fone para contato Cel. TIM: 93-981151332 / (093) WhatsApp (93) 984046835 (Claro) Fixo: 9335281839 *e-mail para contato: folhadoprogresso@folhadoprogresso.com.br

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