Ministro admite alta do desmatamento, mas diz que sistema de alerta não serve para comparações mensais

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Foto:Reprodução- Ricardo Salles alega que dados de desmatamento do INPE não estão incorretos, mas foram interpretados de “maneira equivocada”. Licitação vai contratar nova empresa de fiscalização, diz ministro.
Governo anuncia que vai mudar forma de monitorar o desmatamento

O ministro Ricardo Salles, titular do Ministério do Meio Ambiente, admitiu nesta quarta-feira (31) que o desmatamento vem crescendo no país, mas afirmou que os dados apresentados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no sistema conhecido como Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), não devem ser usados para fazer comparações de um mês para o outro.

Segundo Salles, a pasta vai lançar licitação para contratar uma nova empresa de fiscalização porque, em sua avaliação, o país “precisa ter um sistema melhor de fiscalização”.

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O sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontou que os alertas de desmatamento atingiram 920,4 km² em junho. Quando comparado com o mesmo período do ano passado, os números representam um aumento de 88%. Os dados de satélite compilados pelo Deter podem ser conferidos publicamente na plataforma Terra Brasilis, também mantida pelo Inpe.

Os dados mais recentes na plataforma mostram que, entre 1º e 25 de julho de 2019, a extensão dos alertas de desmatamento já ultrapassou a marca de 1.864 quilômetros quadrados, mais do que triplicou em relação a julho de 2018. Os números podem ser ainda maiores porque a plataforma, que é atualizada quase diariamente, ainda não incluiu os dados relativos aos dias 26 a 31 de julho.
Alertas de desmatamento na Amazônia por mês (em km²)
Evolução histórica do sistema de alertas Terra Brasilis

Porém, o balanço parcial mostra que julho de 2019 já teve a extensão mais alta de alertas desde agosto de 2015, dados mais antigos disponíveis no Terra Brasilis.

Dados do desmatamento

O ministro afirmou ainda que os dados do Inpe não estão errados, mas a interpretação das estatísticas da entidade foi feita “de maneira equivocada”. Segundo o ministro, o volume de desmatamento só é apontado nos dados consolidados que são divulgados pelo Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes).

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“[Esta entrevista] é para dizer que realmente os percentuais que foram divulgados na imprensa não estão corretos, não porque o Inpe errou, mas porque que quem os interpretou, o fez de maneira equivocada, seja por desconhecimento ou pra criar impacto midiático na sociedade. Isto é uma irresponsabilidade”, disse Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente.

“O Inpe não disse. Ele não disse dos 88% [de aumento]. Ele não disse percentual comparativo mês a mês nenhum”, disse. “Quem está fazendo essa comparação percentual para criar impacto midiático são aqueles que querem criar uma polêmica em torno do desmatamento.”

Na noite desta quarta, Salles voltou a abordar o tema em um vídeo publicado em seu perfil em uma rede social. Ao lado do ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, Salles disse que se reuniu com representates do Ibama e do Inpe para discutir “a melhoria dessa tecnologia”, referindo-se ao Deter.

Pontes, por sua vez, afirmou que a reunião desta quarta “é a primeira de muitas”, e disse que “aqueles dados, 88%, apresentados em junho, aquele dado foi utilizado de maneira incorreta”. Ainda segundo ele, o Deter “não foi feito pra isso, ele foi utilizado de maneira incorreta”.

O que diz o Inpe

O diretor do Inpe, Ricardo Galvão, afirmou nesta quarta que não esteve na reunião interministerial em Brasília e que ainda não teve acesso aos dados e melhorias apontados pelo ministro do Meio Ambiente, mas que os técnicos presentes no encontro “contra-argumentaram todos esses possíveis ‘erros’ apresentados, e fizeram isso com base no trabalho desenvolvido pelo Instituto ao longo dos anos”.

Ele também ressaltou que, desde que foi implementado, em 2004, o Deter foi responsável por uma redução drástica no desmatamento. Ele ressaltou que o sistema não deve ser usado para medir o desmatamento “mês a mês”, mas que uma análise mais completa do desmatamento poderá ser feita a partir dos dados do Prodes, que devem sair no fim de agosto, e, segundo ele, devem consolidar os dados já divulgados pelo Deter.

Aumento e licitação

O ministro disse que o desmatamento vem aumentando desde 2012, e também que o índice vem subindo mês a mês, inclusive no mês de julho. Ele não divulgou percentuais, lembrando que esses dados serão compilados pelo Prodes.

Salles disse ainda que o desmatamento precisa ser contido através de diversas políticas públicas e de criação de um novo sistema de monitoramento. “A avaliação que nós fazemos é de que precisa ter um sistema melhor de fiscalização. Para isso, vamos lançar a licitação para poder contratar”, disse Salles.

“Daqui pra frente, é construir um sistema que seja mais rápido na detecção, que permita orientar as ações de comando e controle, de fiscalização, e reconhecer, por outro lado, que precisa ser encarada quais são as origens do desmatamento ilegal da Amazônia”, disse Salles.

Observatório do Clima

Em nota, a rede de entidades reunidas no Observatório do Clima afirmou o ministro Ricardo Salles, “faz ginástica retórica” ao tentar questionar os dados de desmatamento, “botando a culpa na mídia pela interpretação dos dados”.

Segundo a organização, o ministro “não conseguiu descredenciar o Inpe”, “não apresentou nenhum dado alternativo aos do sistema Deter, que divulga alertas de desmatamento”, “não explicou o aumento da devastação na Amazônia” e “não disse o que vai fazer para conter a explosão da devastação, que é sua responsabilidade”.

O Observatório do Clima ainda criticou o fato de que o ministro “reafirmou a intenção de usar dinheiro público para contratar mais um sistema de sensoriamento remoto, quando o que falta na Amazônia neste momento é fiscalização e investimento em atividades sustentáveis”.

Tasso Azevedo, coordenador-técnico da organização, afirmou ao Jornal Nacional que os dados do Deter são confirmados pelo sistema que divulga a “taxa oficial” em 90% dos casos.

Por que o governo é contra usar os dados do Deter?

Tanto o ministro do Meio Ambiente quanto o de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, criticaram nos últimos dias o uso de dados do Terra Brasilis e do Deter como indicadores de desmatamentos.

O Deter é usado desde 2004 e tem como função principal servir como um alerta para dar apoio a ações de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). Já as taxas oficiais de desmatamento no Brasil também são divulgadas pelo Inpe, mas anualmente e usando informações do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), usado desde 1988.

Ambos os sistemas usam imagens de satélite para fazer seus levantamentos, mas a principal diferença entre os dois sistemas é que o Prodes analisa as imagens com mais tempo – os dados do Prodes, inclusive, são publicados duas vezes ao ano: primeiro, em novembro, com uma estimativa a partir de uma análise inicial; depois, em agosto, saem os dados oficiais, considerados como a taxa anual de desmatamento do Brasil.

Apesar da precisão não ser de 100%, o Deter é uma importante ferramenta em tempo real de possíveis ações de derrubadas de árvores na Amazônia Legal, e funciona como um “termômetro” do que está acontecendo na região, para permitir ações do governo federal de combate ao desmatamento, fiscalizando, inibindo e punindo quem pratica o crime ambiental.

Deter ajuda a verificar tendências

A comparação mensal dos alertas, segundo explicou ao G1 Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC), não deve ser feita entre um mês e o anterior, porque os índices costumam seguir a sazonalidade do clima (todos os anos, o desmatamento costuma aumentar em junho, quando começa a época da seca no país).

Porém, comparações podem ser feitas de um período do ano com o mesmo período de anos anteriores. “Mais importante é a tendência, o aumento em relação ao ano passado”, explicou Rittl. A própria plataforma Terra Brasilis, em seu site, oferece um gráfico histórico e mensal dos índices.

A imagem mostra como o número de alertas em junho de 2018 já havia se igualado a meses com área desmatada recorde até agora, e como os alertas entre 1º e 25 de julho já superaram todos os recordes com folga, mesmo antes do balanço final para o mês.
Por Ana Carolina Moreno e Patrícia Figueiredo, G1

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