“Nature” coloca brasileira entre 10 cientistas mais importantes de 2016

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A brasileira Celina Turchi, especialista em doenças infecciosas, foi escolhida como uma das dez cientistas mais importantes de 2016 pela revista britânica “Nature”. Professora da Universidade Federal de Goiás e pesquisadora-visitante do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPQAM), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco, Celina lidera o grupo que pela primeira vez associou cientificamente a infecção pelo vírus da zika em grávidas a casos de bebês com microcefalia.

Para realizar o estudo, Cecilia entrou em contatos com cientistas de todo o mundo para pedir ajuda. Ela formou uma força-tarefa de epidemiologistas, especialistas em doenças infecciosas, pediatras, neurologistas e biólogos especializados em reprodução.

“Nem no meu pior pesadelo eu imaginei uma epidemia de microcefalia em bebês”, lembrou a pesquisadora em entrevista à “Nature”, dizendo acreditar que o Brasil estava vivendo uma emergência de saúde pública com o surto da doença.

Cecilia disse que o trabalho foi um desafio por não haver testes confiáveis sobre o vírus e nenhum consenso em relação à definição de microcefalia. Mas o intenso contato dentro da rede de especialistas formada por ela permitiu gerar evidências suficientes para ligar a infecção por zika e a doença no primeiro trimestre da gravidez.

Embora a relação entre o vírus da zika e a microcefalia já tivesse sido observada anteriormente, foi só a partir do trabalho de Celina e seus colegas do Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia (Merg, na sigla em inglês) – que inclui cientistas de diversas instituições de pesquisa e assistência de Pernambuco, assim como a London School of Hygiene and Tropical Medicine, no Reino Unido – que esta associação ganhou um caráter mais certeiro.

Publicado em setembro último no periódico “Lancet Infectious Diseases”, o estudo, ainda em fase preliminar, inclui crianças nascidas com microcefalia em oito hospitais públicos da Região Metropolitana de Recife entre 15 de janeiro e 2 de maio deste ano. Para cada um dos casos de microcefalia registrados na pesquisa, com exceção de dois, os cientistas incluíram mais dois nascimentos chamados “controles”, definidos como os primeiros dois bebês que vieram à luz na manhã seguinte sem microcefalia em um dos oito hospitais. Ao todo, foram 62 controles e 32 vítimas de microcefalia, que também foram pareados de acordo com a região de residência da mãe e a data esperada para o parto.

Após o recrutamento dos casos e controles, os pesquisadores analisaram o líquido cefalorraquidiano (líquor) e o o sangue do cordão umbilical de todos bebês em busca de sinais de infecção congênita pelo zika, e em 13 deles (41%) os testes deram positivo em uma ou ambas amostras. Já entre os controles, nenhuma das crianças apresentou indícios de exposição ao vírus. Além disso, exames mostraram que ao menos 24 de 30 das mães que tiveram filhos com microcefalia (80%) foram atingidas pela doença, contra 39 de 61 das mães dos controles (64%). Estes testes, no entanto, não podem dizer se elas adoeceram antes ou depois do início da gestação, nem em qual fase.

Segundo os pesquisadores, tentar detectar a presença do vírus da zika ou de seus anticorpos no sangue e no líquor são os únicos meios disponíveis atualmente para identificar a infecção congênita em recém-nascidos. Mas a confiabilidade deste método, especialmente quando a infecção acontece logo nos primeiros meses da gravidez, ainda não é bem compreendida. Assim, eles consideram que esta dificuldade pode explicar, pelo em parte, porque 19 (59%) dos 32 casos de microcefalia do estudo preliminar não deram positivo para zika.

Outros escolhidos pela “Nature” foram a argentina Gabriela González, por uma pesquisa inovadora sobre ondas gravitacionais, e o espanhol Anglada Defendi, que entrou na lista por ter descoberto que um planeta parecido com a Terra próximo da estrela Alpha Centauri.

O cocriador da empresa de inteligência artificial DeepMind, Demis Hassabis, entrou no ranking por ter desenvolvido o programa AlphaGo, que foi capaz de vencer o campeão mundial do “Go”, conhecido como “xadrez oriental”.

O nascimento do primeiro bebê do mundo através de uma técnica de reprodução assistida que usa o DNA de três pais diferentes também se tornou realidade neste ano, o que fez a “Nature” incluir na lista de personalidades o especialista em fertilidade John Zhang.

Outro que está na relação é Kevin Esvelt, que obteve o reconhecimento da revista pelo descobrimento dos possíveis efeitos negativos de uma polêmica técnica, que ele mesmo ajudou a criar, que usa a edição genética CRISPR para fomentar ou suprimir a expressão de certos genes em populações de uma espécie para perpetuar um traço entre os indivíduos.

De acordo com o redator da “Nature” Richard Monastersky, os cientistas que aparecem na lista deste ano compõem um “grupo muito diverso”, mas todos tiveram um papel muito importante nos principais eventos científicos de 2016.

Por  Época
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