Nove urnas funerárias com 500 anos viajam de barco e carro de Tefé a Santarém

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Foto: Reprodução- Mais de 1.200 quilômetros de distância, três cidades e cinco dias de viagem por rios do Amazonas e Pará. Esse foi o trajeto percorrido por urnas funerárias que podem ter mais de 500 anos e ajudam a contar a história de civilizações pré-colombianas nas américas – se somando a registros de até 1.400 anos de idade, encontrados das Cordilheiras dos Andes até a boca do rio Amazonas.
Escavações acharam as nove urnas em julho, no interior do Amazonas (Bernardo Oliveira)

As peças arqueológicas foram encontradas durante escavações feitas ainda em julho do ano passado em uma comunidade rural no Amazonas. Depois de meses, sob a guarda e análises do Instituto Mamirauá, na cidade de Tefé (AM), o destino foi a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em Santarém, onde as investigações em busca do passado e origem dessas urnas continuam.

As noves urnas funerárias pertencem à chamada tradição polícroma da Amazônia, um conjunto estilístico e cultural de cerâmicas arqueológicas cujos registros mais antigos datam de 1.400 anos, e são encontradas em vestígios espalhados entre os Andes e a foz do rio Amazonas, no Pará e Amapá. No Brasil, essa foi uma das primeiras vezes em que urnas foram desenterradas por especialistas in situ – ou seja, retiradas diretamente do solo, conservando seu contexto original de enterramento.
Valor inestimável: peças são relíquias da tradição polícroma amazônica (Bernardo Oliveira)

LOGÍSTICA

O deslocamento das urnas entre as duas instituições científicas foi realizado em fevereiro, e exigiu preparo especial para o deslocamento das cargas, que têm grande valor histórico e científico.

À equipe de arqueólogos do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o esforço exigiu conduzir as urnas do sítio arqueológico na comunidade Tauary (AM), de onde foram retiradas, até à sede do instituto, no município amazonense de Tefé. O percurso levou cerca de três horas, a bordo de um “batelão”, o barco a motor característico da região.

“As urnas foram armazenadas no Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá, em um ambiente controlado e mantidas em temperatura constante durante alguns meses. Nesse período, elas passaram pelo parecer de uma conservadora e preparamos o transporte para a UFOPA”, detalha Márcio Amaral, arqueólogo do Instituto Mamirauá. “Houve um trabalho de acondicionamento dessas urnas em embalagens de madeira, construídas especificamente para prevenir o impacto e demais eventualidades durante a viagem”.
Urnas foram acondicionadas em caixas e viajaram sob refrigeração (Bernardo Oliveira)

Foto: Reprodução
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DE BARCO PARA SANTARÉM

Com autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), as urnas começaram a jornada até o Pará no último dia 19 de fevereiro. Escoltadas por Márcio Amaral e pela arqueóloga Emanuella Oliveira, as relíquias encaixotadas partiram do porto de Tefé em uma embarcação de três andares, comumente conhecida no Amazonas como “recreio”, rumo a Manaus.

O trecho pelos rios Solimões e Amazonas exige três dias de viagem. As urnas foram guardadas em clima refrigerado, em uma suíte do barco. Chegando à capital do Amazonas, mais um deslocamento, para outro “recreio”, e dessa vez com parada final em Santarém. O traslado entre embarcações contou ainda com apoio de duas caminhonetes, cedidas pelo Museu da Amazônia (MUSA).

De Santarém a Manaus, foram mais dois dias de viagem até aportar na cidade paraense que fica às margens do rio Tapajós. Lá, a equipe da UFOPA, liderada pela arqueóloga Anne Rapp Py-Daniel, aguardava para conduzir os vasos funerários até o laboratório da universidade.

“Para a nossa felicidade, todo material chegou como saiu daqui: em perfeitas condições, sem quebra ou deslocamento de peças. Nesse sentido, foi um sucesso muito grande o transporte”, avaliou Márcio Amaral. A logística para o transporte das urnas arqueológicas foi custeada pela Fundação Gordon and Betty Moore.

Foto: Reprodução
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HISTÓRIA MILENAR

Especialista em análises de vestígios ósseos arqueológicos, Anne Rapp Py-Daniel informa que, através do estudo desse material, a intenção é verificar se todos os vasos são de fato urnas ou se alguns são vasos de acompanhamento. “Além disso, queremos identificar quem eram os indivíduos enterrados. Para isso, vamos estudar os ossos em si e, dependendo do estado de conservação, buscar conhecer o sexo biológico, a idade e eventuais patologias. Caso tenhamos material suficientemente preservado também queremos fazer análises de DNA, de isótopos e datações”, detalha a pesquisadora.

“Ademais, queremos analisar o solo dentro das urnas para ver se outros elementos, como plantas ou flores, também foram colocados como oferendas junto com ossos”, destaca Anne Rapp. “Após as escavações começaremos o processo de limpeza e análise do material cerâmico, que será feito simultaneamente aos procedimentos de conservação e eventuais restauros. Esse estudo também permitirá entender como os produtores dessas urnas se relacionavam com os outros grupos humanos na região”.

Fonte: O Liberal

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Foto: Reprodução
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