Ouça alguns trechos do áudio em que Jucá fala em deter Lava Jato

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A conversa entre o senador Romero Jucá, do PMDB, e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, foi gravada antes da presidente Dilma Rousseff ser afastada do cargo. Antes de Romero jucá ser nomeado ministro do Planejamento.

De acordo com a reportagem da Folha de S.Paulo, nas conversas, ocorridas em março deste ano, Romero Jucá e Sérgio Machado falam que uma mudança no governo federal resultaria em um “pacto” para “estancar a sangria” representada pela Operação Lava Jato, que investiga os dois.

Sérgio Machado foi citado por delatores como o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, que disse em depoimento que recebeu R$500 mil reais em propina de Sérgio Machado. A Folha de S.Paulo divulgou o áudio de partes da conversa gravada.

Sérgio Machado:Como tem aquela delação do Paulo Roberto, não tem, dos R$ 500 mil e tem a delação do Ricardo, que é uma coisa solta, ele quer pegar essas duas coisas. Não tem nada com os senadores, joga ele pra baixo. Então tem que encontrar uma maneira…

Romero Jucá:Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. Tem que ser política. Advogado não encontra solução pra isso não. Se a solução é política, como é política? Tem que resolver essa p***. Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria.

Jucá, segundo a reportagem, orientou Machado a procurar o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex-presidente José Sarney porque temia que as apurações contra Machado fossem enviadas do supremo para o juiz Sérgio Moro.

De acordo com o jornal, Machado fez uma ameaça velada e pediu que fosse montada uma estrutura para protegê-lo e perguntou: “Como montar uma estrutura para evitar que eu ‘desça’? Se eu ‘descer'”. Mais adiante, segundo a Folha, Machado voltou a dizer: “Então eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que encontrar uma saída”.

Sérgio Machado e Jucá falaram também da crise política e do impeachment de Dilma.

Machado diz:Romero, então, eu acho a situação gravíssima.

Juocá respnde: Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro [da Casa Civil], para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque, se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais crédito a ele para p*** nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?

Machado comenta:Agora ele acordou a militância do PT.

Jucá: Sim.

Machado ainda diz: Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar m***. […] Tem que ter um impeachment.

E Jucá completa: Tem que ter impeachment. Não tem saída. […]

Em outro trecho, a reportagem diz que o senador também afirmou que havia conversado com os generais, os comandantes militares e que eles haviam dado garantias ao PMDB a respeito da transição.

Jucá diz: Estou conversando com os generais, comandantes militares. está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.

No encontro com Jucá, Sérgio Machado também criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal de determinar prisões depois de uma condenação em segunda instância e não quando se encerra a possibilidade de novos recursos. De acordo com a reportagem, Machado disse que novas delações na Lava Jato não deixariam “pedra sobre pedra”, e Jucá concordou que o caso de Machado “não pode ficar na mão do juiz Sérgio Moro”.

Sérgio Machado: Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez, vai todo mundo delatar.
Romero Jucá: Exatamente. E vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
Sérgio Machado: Odebrecht vai fazer.
Romero Jucá:Seletiva, mas vai fazer.
Sérgio Machado:Camargo, não sei se vai fazer, ou…eu tô muito preocupado porque eu acho que, o, o Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
Romero Jucá: Mas como é que tá sua situação?
Sérgio Machado:Minha situação tá…não tem nada, ele não pegou nada, mas ele quer jogar tudo pro Moro. Como não tem nada, e como eu estou desligado…

Machado disse também, se referindo ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot: “Ele acha que eu sou o caixa de vocês”.

Jucá chamou o juiz Sérgio Moro de “uma torre de Londres” em referência ao castelo inglês em que ocorreram torturas e execuções entre os séculos 15 e 16.

Na gravação, ainda de acordo com o jornal, Jucá acrescentou que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”, e Machado disse que “aí parava tudo”. E Jucá repondeu que” delimitava onde está”, a respeito das investigações.

Jucá disse que havia mantido conversas com ministros do supremo, os quais não nominou, e na versão de Jucá. Eles teriam relacionado a saída de Dilma ao fim das pressões da imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações da Operação Lava Jato.

Jucá disse: Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem: ‘ó, só tem condições de (..) sem ela’. Enquanto ela estiver alí, a imprensa, os caras querem tirar ela. (..) Não vai parar nunca, entendeu?

Em outro trecho, Jucá afirmou que há poucos no STF aos quais não tem acesso. Um deles seria o ministro Teori Zavascki, a quem classificou de “um cara fechado”.

“Generais”, os comandantes militares e que generais, comandantes militares e que eles haviam dado garantias ao PMDB a respeito da transição. Em outro trecho do áudio divulgado pela Folha, o ex-presidente da Transpetro fala a Romero Jucá:

Machado:Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [se referindo a Temer].
Jucá:Só o Renan que está contra essa p*** ‘porque não gosta do michel, porque o michel é eduardo cunha’. gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, p***.
Machado:É um acordo, botar o Michel em um grande acordo nacional.
Jucá:Com o Supremo, com tudo.
Machado: Com tudo, aí parava tudo.
Jucá:É. Delimitava onde está, pronto. [….]

Na sequência dos trechos publicados, Machado disse a Jucá:

Machado:O Renan é totalmente “voador”. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo, se referindo ao presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.

Jucá:Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.

Em outro trecho, Machado diz:

Machado:A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…
Jucá:acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…
Machado:Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
Jucá:Caiu. Todos eles. Aloysio [o senador Aloysio Nunes], Serra [o hoje ministro José Serra], Aécio [o senador Aécio Neves.
Machado:Caiu a ficha. tasso, o senador Tasso Jereissati, também caiu?
Jucá: Todo mundo na bandeja pra ser comido.
Machado:O primeiro a ser comido vai ser o Aécio. […]

Depois a conversa segue sobre Aécio, em outro trecho do áudio:

Machado: O Aécio, rapaz…o Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…
Jucá: A gente viveu tudo.

A Folha não informou como obteve a gravação.

De acordo com investigadores, a conversa foi gravada pelo próprio Sérgio Machado, que assinou um acordo de delação premiada que está sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu recentemente autorização para incluir o nome de Machado no principal inquérito da Lava Jato porque ele foi citado por pelo menos tres delatores.

A defesa de Romeró Jucá pediu ao Supremo Tribunal Federal uma cópia do áudio e perguntou se o senador vai ser investigado por isso. Jucá já é alvo de dois inqueritos na Lava Jato por suspeita de recebimento de propina.

A defesa de Sérgio Machado disse que, por causa do sigilo no processo, não pode fazer comentários.

O presidente do Senado, Renan Calheiros, disse que não tomou conhecimento das citações ao nome dele.

A assessoria do PSDB e do senador Aécio Neves disse que, no diálogo, não há nenhuma acusação ao psdb e aos senadores citados.

Opresidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, não quis comentar.

A assessoria do ex-presidente José Sarney disse que não conseguiu localizá-lo.

O ministro das Relações Exteriores, José Serra, está em Buenos Aires e a assessoria de imprensa também informou que não conseguiu localizá-lo.

Por G1 Globo/Vladimir NettoBrasília, DF

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