Pai desabafa em velório da filha transexual espancada em BH: “Será que uma trans não tem direito a viver?”
Foto: Reprodução | O enterro de Alice Martins Alves, de 33 anos aconteceu na tarde de segunda-feira (10), no Cemitério Parque da Colina, na Região Oeste de Belo Horizonte (MG).
O velório de Alice Martins Alves, de 33 anos, foi marcado por comoção e revolta. Familiares, amigos e militantes da causa LGBTQIAPN+ prestaram as últimas homenagens à mulher trans. O enterro aconteceu na tarde dessa segunda-feira (10), no Cemitério Parque da Colina, na Região Oeste de Belo Horizonte. Alice morreu, nesse domingo (9), após ter sido brutalmente agredida por desconhecidos, na Savassi, Região Centro-Sul.
“Será que um homossexual não tem direito a viver?”. O questionamento do pai da vítima, Edson Alves Pereira reflete o sofrimento e indignação pela perda da filha, com quem morava junto no bairro Betânia, também na Região Oeste. “Perdi uma grande amiga, parceira, minha companheira de assistir filmes e tomar uma cervejinha em casa”, relatou.
O pai contou que a filha estava no Rei do Pastel, na Rua Sergipe, quando atravessou em direção à Avenida Getúlio Vargas. “Três caras estavam esperando por ela. Agrediram violentamente. Quebrou o nariz, várias costelas, e parece que pisaram nas pernas dela, que ficaram roxas. Foi socorrida pelo Samu, não fizeram exames como radiografia ou tomografia. Ela foi encaminhada para a UPA Centro-Sul e em seguida chamou um uber e foi para a casa”, disse ele.
Durante a madrugada, Edson acordou e foi ver Alice. Ao abrir a porta do quarto ela disse: “Pai, olha o que fizeram comigo”. O pai afirmou que esteve no local do crime, tentou imagens e analisou câmeras de segurança, mas ninguém forneceu nada. “Depois que ela voltou para a casa foi só luta. Ela começou a vomitar, não conseguia se alimentar, perdeu 13 quilos. Estava muito fraca e com muita dor”, comentou.
Alice, conforme contou o pai, sempre saía sozinha, gostava de se arrumar e maquiar. “Ela deitava no meu colo, eu fazia carinho na cabeça dela e toda hora ela falava: ‘pai, eu te amo’. Edson revelou ainda que Alice costumava sair nas quartas e quintas-feiras para a região da Savassi, e sempre ia ao Rei do Pastel, nas unidades 1,2 e 3.
O pai ainda disse que a filha estava com um pressentimento ruim antes do ocorrido. “Há uns três meses ela estava em casa, não estava saindo. Falava: ‘ah pai, não vou sair, estou com medo’. Insisti para que ela saísse um pouco, já estava muito tempo só em casa, e acontece uma coisa dessas”, lamentou em lágrimas.
“Que ódio é esse?”
Em entrevista à imprensa, Pereira compartilhou como foi a relação entre pai e filha. “No princípio tem um machismo, no qual fomos educados. Mas desde pequena ela já demonstrava essa tendência. Fui mudando o coração e aceitei. Ela é uma mulher trans”, ressaltou. Segundo ele, desde então escolheu ser amigo.
“Deixei de viver a minha vida para acompanhar a minha filha. Ela perdeu amigos, deixei de sair para fazer companhia. Eu sou pai, amigo. Já enfrentei pessoas que questionavam ela usar o banheiro feminino. Que ódio é esse? Tem que respeitar, não tem jeito de mudar, não existe tratamento. Precisa haver uma postura de amor ao ser humano. Eles têm direito de viver”, protestou Edson, que acredita que a violência contra a filha foi um crime de ódio.
A militante LGBT+, Malu Almeida também prestou homenagens à Alice e ressaltou estar ajudando a família a tomar as devidas providências. Ela ressaltou o cenário de brutalidade contra essa população.
“Não tem 20 dias que enterramos uma pessoa trans em BH. A vida de pessoas trans também importa.
Nesse momento conseguimos, pelo menos, atrair a atenção das pessoas para verem o descaso que acontece com a nossa comunidade. Sofremos isso no nosso cotidiano, seja com uma risada, uma piada, um apontamento na rua, e o resultado disso é um homicídio. Só vamos mudar alguma coisa, se a sociedade compreender que pessoas trans também são seres humanos”, desabafou ela.
À reportagem, a irmã da vítima, Ana Júlia contou que não conheceu Alice em vida e mencionou, entre lágrimas, como recebeu a notícia. “Foi devastador. Ficamos muito abalados. Fiquei com aquele peso de que poderia ter feito alguma coisa. Saber que sou irmã dela e não fiz nada é triste demais”, lamentou. As duas são filhas de mães diferentes, e segundo Ana, houveram tentativas de encontros, mas por escolha da vítima, acabaram nunca se conhecendo.
Como aconteceu o crime?
Na madrugada de 23 de outubro, Alice foi atacada por um homem, acompanhado de dois outros que riam e zombavam da violência. Segundo o boletim de ocorrência, registrado pela própria vítima em 5 de novembro, o agressor era alto, branco, de cabelos castanhos escuros ou pretos, vestia calça jeans e blusa preta. A mulher afirmou não conhecer o homem e relatou que a agressão foi inesperada e sem motivo aparente, o que caracteriza um ato de transfobia.
Após a agressão, Alice perdeu a consciência e foi socorrida pelo Samu, sendo encaminhada para a UPA Centro-Sul. Em 2 de novembro, ela foi levada de ambulância para o Pronto Atendimento da Unimed Contagem, onde exames apontaram fraturas nas costelas, cortes no nariz e desvio de septo. Segundo o pai, ela passou os dias seguintes debilitada e com dores abdominais intensas.
No sábado (8), os médicos diagnosticaram uma perfuração no intestino, possivelmente causada por uma das costelas quebradas ou, segundo suspeita do pai, agravada pelo uso de anti-inflamatórios após a agressão. Alice foi submetida a uma cirurgia de emergência, mas não resistiu à infecção generalizada.
Cinco dias após o registro, e quase 20 após a agressão, ninguém foi preso. Procurada, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) se limitou a informar em nota: “O caso é investigado pelo Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídios (Neif) do Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)”.
Fonte: Estado de Minas e Publicado Por: Jornal Folha do Progresso em 12/11/2025/09:43:27
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