“Para traficante, é pena de morte”

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Delegado diz que os gestores da área de segurança do Pará são frouxos.
Em entrevista ao jornalista Paulo Silber, diretor de conteúdo do Grupo Liberal, o deputado estadual Éder Mauro, falou sobre: a violência no Pará, dos problemas com a segurança pública, conduta policial, milicias, tráfico de drogas, entre outros assuntos polêmicos. Acompanhe, em texto e vídeo.

O Liberal: deputado, você sai da polícia para entrar na política, levantando a bandeira do combate à violência. No entanto, de lá pra cá, a violência aumentou muito. Você se arrepende de ter saído da polícia?

Éder Mauro: na verdade, eu não saí. Eu me sinto polícia o tempo todo. Na hora que tiver que intervir, eu vou intervir. A questão da violência afeta o Brasil como um todo e lá na Câmara eu estou também lutando. O problema é que, no Pará, a violência já é maior até que a do Rio de Janeiro. Aqui morrem, proporcionalmente, mais agentes da segurança do que no Rio. Aqui morre, proporcionalmente, mais cidadãos do que no Rio. Só em 2017 foram mais de 4 mil pessoas mortas no Estado. Policiais foram 66. Neste ano de 2018, estamos ainda em maio e já passamos de 1.500 pessoas executadas. Só agentes de segurança foram mais de 30. O Comando Vermelho tomou conta do Estado do Pará. Está pagando para criminosos matarem policiais e agora matarem até parentes de policiais. No último final de semana foi baleada a mãe de um policial. Dois militares recentemente foram mortos, sendo um deles o filho de um policial que foi morto não tem um mês. É uma verdadeira caça aos policiais.

O Liberal: você acha que o governo do Estado deveria aceitar uma intervenção como a que ocorre no Rio de Janeiro?

Éder Mauro: não só acho como já pedi isso, embora a segurança pública seja uma obrigação do Estado. O problema é que o governo do Pará perdeu as rédeas da segurança. Desde o início do segundo mandato do senhor Simão Jatene, o governo pecou o tempo todo. Trouxe para ser secretário de Segurança uma pessoa que nem do Estado é. Será que não temos policiais e pessoas da área com capacidade para exercer o cargo de secretário de Segurança? O general Jansen, com todo respeito à pessoa dele, de segurança urbana ele não conhece nada. Nem conhece direito o nosso Estado. Para ele sair de dentro da secretaria para ir em São Brás, ele tinha que levar alguém porque não sabia o caminho. Quando lhe falaram de pirataria nos rios da Amazônia, ele nem sabia o que era.

O Liberal: mas o general já não é mais o secretário. Agora é um delegado de carreira, assim como você.

Éder Mauro: nós batemos por três anos e meio nessa tecla, dizendo que os policiais estavam sendo caçados e que o Comando Vermelho estava tomando conta de Belém, e o governador nada fez. Aí, de tanto ser pressionado, o governador tirou o general e trouxe de volta o Luiz Fernandes, que vem para a mídia dizer que a segurança pública está sob controle e que a população está segura na Grande Belém. Segura? Só se for ele e o governador que estão seguros, porque moram em condomínios e andam rodeados de policiais em carros blindados. Mas a população, que pega ônibus, que anda de bicicleta, que anda a pé nas ruas, sem proteção nenhuma, que mora nos bairros da periferia e até no centro, que vai num caixa eletrônico tirar uns trocados, e até quem está na porta da sua casa, essas pessoas estão sendo mortas. Isso não é estar seguro. Se eu estivesse à frente da segurança pública, o Pará não estaria assim. A culpa de a polícia não colocar os bandidos onde eles têm que ser colocados, ou no cemitério ou na cadeia, é do governador e do secretário.

O Liberal: em que momento o governo perdeu o controle da violência?

Éder Mauro: as organizações criminosas, como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, o PCC, instalaram-se dentro das penitenciárias já tem mais de dez anos. E isso eu avisei naquela época para as autoridades. Disseram que eu estava fantasiando. Essas duas organizações forçaram a criação de outra, o Primeiro Comando do Norte. Aqueles que não se filiassem ao Comando Vermelho ou ao PCC passaram para esta terceira organização. Hoje nós temos as três, que estão separadas dentro da cadeia, mas quem está mandando é o Comando Vermelho, que vive em conflito com o PCC. Quando eles se esbarram dentro de uma cadeia acontece o que aconteceu lá em Manaus, em Rondônia, em Natal.

O Liberal: mas você também, como delegado, é um gestor da área de segurança.

Éder Mauro: sou sim e fiz a minha parte. Mas não tenho participação nenhuma na área de segurança do governo do Pará. O governador Simão Jatene nunca me chamou nem para tomar um cafezinho. Passou três anos e meio com um cidadão que nada entende de segurança urbana e agora volta com o Luiz Fernandes, que exibe dados falsos e propaganda para dizer que aparelhou, que fez isso e fez aquilo. Mas na verdade eles amarraram a polícia.

O Liberal: como amarraram?

Éder Mauro: por exemplo, na Polícia Militar, se um policial se envolve em troca de tiro com um bandido na rua e esse bandido morre, o policial tem que ficar no local, acionar o oficial da área para que avalie a situação. Ou seja, um oficial que não participou da ação, que não teve acesso nenhum aos fatos, é quem decide. Se for um oficial que não goste dos policiais que ali estão ele pode inclusive dar voz de prisão. Isso é andar na contramão do que precisa o cidadão paraense e o cidadão brasileiro, hoje. Falta um gestor que tenha peito, que tenha coragem realmente e também capacidade para combater os criminosos e este governo já mostrou que não tem.

O Liberal: então, você acha que a nossa polícia deveria agir como aquela policial que matou um rapaz que se preparava para assaltar um grupo de mães no meio da rua?

Éder Mauro: se eu fosse o presidente da República, daria uma medalha pra ela. Se eu fosse o governador do Estado dela, daria uma medalha pra ela. E tenho certeza que 95% do povo brasileiro daria uma medalha pra ela. Quem critica essa policial é uma meia dúzia de esquerdistas que certamente não gostam de polícia e que querem quanto pior melhor. Foi uma ação perfeita de uma policial que é preparada e agiu no momento certo. Acho até que ela deu pouco tiro. O cara ainda ficou estrebuchando no chão. Ela deveria ter dado era uns cinco tiros, até ele fechar o olho.

O Liberal: mas isso fere o que está estabelecido nos direitos humanos, deputado.

Éder Mauro: o povo não aguenta mais tanto direito e tanto benefício que se dá pra bandido em detrimento do cidadão de bem. Cidadão que trabalha e que dá os valores corretos para os seus filhos enquanto esses que não querem nada e que só querem roubar e matar levam a população ao desespero. Aqui no Pará, quando morre um policial é feito serenamente um inquérito para apurar a morte. Mas quando o policial mata um bandido, é aberto inquérito na delegacia, é instaurado inquérito na Corregedoria, tem processo administrativo para colocar o policial na rua, além dos órgãos e bandeiras dos direitos humanos que se levantam e a Ouvidoria que também vem pra cima, sem falar nas organizações que mandam seus capachos pra importunar o policial.

O Liberal: alguns policiais têm feito postagens nas redes sociais criticando a audiência de custódia. O que você acha?

Éder Mauro: o povo brasileiro, e no Pará não é diferente, e os próprios policiais que fazem os procedimentos, muitas vezes se veem prejudicados pela audiência de custódia. Vou citar um fato que aconteceu em Belém, na Pedreira. Dois bandidos estavam fazendo um assalto, os policiais chegaram na hora, trocaram tiros com eles, que saíram em fuga. Os policiais trocando tiro, tiro, os bandidos entraram num salão de beleza, ou foi numa farmácia, e fizeram uma moça refém. Negociaram durante umas duas horas com a polícia. Nessas negociações, eles pedem colete, pedem Coca-cola, pedem cigarro, pedem que se busque a piva deles, pedem a imprensa e o cacete a quatro. Foi assim na Pedreira. Aí eles se entregaram. Foram levados pra delegacia, onde o delegado passou a noite toda lavrando o flagrante. De manhã, foram levados para audiência de custódia. Sabe o que aconteceu? Foram liberados! Tá certo isso? É um absurdo! O policial, nestes caso, vira bandido – e o bandido é solto.

O Liberal: essa audiência ajuda a conter a superlotação nos presídios.

Éder Mauro: se essa providência foi tomada para não lotar as cadeias, quem a tomou não pensou. Ah, então não é pra lotar cadeia? Então vamos deixar o pessoal cometer crime à vontade porque a orientação geral é pra não lotar a cadeia. Eu prefiro uma cadeia lotada de bandidos mas que você cidadão de bem esteja na rua com segurança. Que você cidadão de bem não seja morto nem assaltado. Não quero generalizar. Existem excelentes juízes que passam a régua, não refrescam, põem o bandido onde tem que colocar, mas é muito subjetiva a avaliação. O que eu digo é que este é um procedimento que só tem prejudicado o país. A audiência de custódia e o Estatuto da Criança e do Adolescente só beneficia bandido.

O Liberal: são recursos legais para reduzir a violência, assim como o Estatuto do Desarmamento.

Éder Mauro: não funcionam. Foi criado o Estatuto do Desarmamento com a intenção jogada pra população de que iriam tirar as asmas das ruas e diminuir os homicídios por arma de fogo. Quem foi desarmado? Só o cidadão de bem entregou arma. O tiro saiu pela culatra. Bandido não entrega arma. O Estado tinha que desarmar bandido, não cidadão de bem. Se o Estado desarma o bandido e dá segurança, sabe quantas vezes você cidadão de bem vai usar arma? Nenhuma. Você viu a quantidade de armas encontradas em Americano naquela fuga. Ainda bem que os policiais que estavam na muralha agiram rápido e mataram se não me engano uns 30 bandidos. E ainda teve gente querendo encher o saco desses policiais. Como fizeram no caso de Pau d´Arco.

O Liberal: em Pau d’Arco, deputado, os policiais foram até a Fazenda Santa Lúcia com mandados de prisão, não uma permissão para matar. Eles poderiam chegar em Redenção, na volta, na condições de heróis, mas preferiram se tornar homicidas.

Éder Mauro: se os bandidos tivessem entregado as armas, tudo bem, seriam levados sob custódia. Mas tem filmagem de antes e depois dessas armas. Eu não estava lá, você não estava lá, o povo em geral não estava lá. Quem estava lá eram os bandidos e os policiais. E os policiais disseram que houve troca de tiros. Então eu vou acreditar em quem? No policial ou no bandido? Eu acredito no policial. Embora haja deputados que se dizem de esquerda e levantam a bandeira em defesa dos bandidos.

O Liberal: o senhor está falando do deputado Bordalo?

Éder Mauro: sim, ele mesmo. Isso não se pode aceitar.

O Liberal: então, você acha que o policial tem o direito de matar aquelas pessoas?

Éder Mauro: o que dá o direito ao policial de matar é o direito que ele tem de não morrer.

O Liberal: para você, bandido bom é bandido morto?

Éder Mauro: eu não tenho a menor dúvida. Eu falo isso sem pestanejar. Bandido bom é bandido morto. É melhor um bandido morto do que um cidadão de bem assassinado. Quem vai fazer a escolha não sou eu, é o bandido. Quantas vezes trocamos tiros nas ruas nestes meus 30 anos de polícia? Respondi muito processo por causa disso, e perdi muitos policiais também. Hoje eu tenho que carregar comigo a dor pela morte de policiais. Foi assim lá em Santa Cruz do Arari, por exemplo, em que um cabo da PM levou dois tiros de 12 no peito e eu não esqueço ate hoje. Como outros tantos policiais trocaram tiros nas ruas e perderam a vida, e perderam a vida defendendo o cidadão de bem. Bandido não perde a vida defendendo cidadão de bem.

O Liberal: tudo isso acontece porque a lei penal brasileira é frouxa?

Éder Mauro: eu não diria isso. Estamos empenhados na mudança da Lei de Processo Penal, na Câmara Federal, e na questão de redução da maioridade penal, inclusive em comissão de que eu participo. Não é que a lei seja frouxa. Frouxos são os gestores. Quem está na linha de frente, combatendo o crime, não é frouxo. Eu já respondi a vários processos por combater o crime. Sempre que um bandido morre em troca de tiro, o policial responde inquérito. Eu respondi vários, por homicídio, por invasão e tortura, abuso de autoridade, esses são os processos que eu respondo. Mas graças a Deus não tenho nenhum por corrupção.

O Liberal: mas tem cinco processos no Supremo.

Éder Mauro: sim, eu vivi 30 anos na polícia e nesse tempo respondi um monte de processos. Quando virei deputado federal, quatro desses processos foram para o Supremo. Depois, já como deputado, abriram mais um naquela polêmica com o deputado Jean Willys. Os quatro primeiros processos saíram daqui do Tribunal do Pará pela questão do foro privilegiado. Desses quatro, dois foram arquivados e hoje, com o foro parcial determinado pelo STF, os outros dois foram devolvidos ao Tribunal do Pará, em um dos quais já fui absolvido. O único que ficou no Supremo foi o quinto, impetrado pelo Jean Willys.

O Liberal: naquele debate sobre policiais que só estariam matando pobres e negros na periferia de Belém?

Éder Mauro: sim. Um embate que tivemos numa das comissões. Nós estávamos avaliando essa questão de mortes de negros e pobres da periferia. Eu digo que, na verdade, quem está morrendo, independentemente de ser negro ou pobre, é a juventude. O tráfico assedia e leva essa juventude para o crime, o que muitas vezes os leva à morte. Aí, o deputado Jean Willys disse que se o problema era esse então que as drogas fossem liberadas, o traficante se tornasse um empresário e a juventude que vendesse droga tivesse carteira assinada. É um absurdo!

O Liberal: a droga, então, é o principal condutor na escalada da violência no Pará?

Éder Mauro: nestes meus anos todos de polícia, dezenas, centenas de vezes eu fui procurado por pais, mães, irmãos de jovens que tinham se perdido nas drogas, pedindo socorro. Porque estava quebrando, esfolando, batendo dentro de casa, pra conseguir dinheiro pra droga. A droga não acaba só com a pessoa que usa, mas com a família. Chegou na delegacia uma vez a mãe de um viciado. Ela me contou que chegou em casa e viu o filho agonizando. Ele disse pra ela que estava fazendo tudo pra largar, mas não conseguia. Então ele pediu: “Mamãe, me mate, por favor, me mate”. Hoje, quando eu vejo ministro participar de passeata de liberação de droga, eu fico triste. Ah, vamos liberar só a maconha, porque no Paraguai é liberado… Que se dane a liberação deles. Na Indonésia não é liberado e quem traficar morre. Lá o índice de drogas é quase zero. Traficante não existe. Eu não aceito quem diz que a maconha é igual a cigarro. O sujeito usa maconha e vai usar crack e pasta de cocaína e vai acabar com a vida dele e a vida da família. Por mim, seria pena de morte para traficante neste país.

O Liberal: noto que você se emociona quando fala do assunto. Existe um caso desses na sua família?

Éder Mauro: sim, existe, nunca escondi. Eu e mais quatro irmãos somos filhos de militar, educados no regime militar, o que eu agradeço ao meu finado pai. Mas o meu irmão caçula não pegou esse mesmo rigor. Quando nos mudamos para o bairro onde moro há 40 anos, o meu pai tinha muito serviço, minha mãe passou a trabalhar, e o tratamento que os quatro tivemos não foi o mesmo que meu irmão caçula teve, entrando na adolescência, com 13, 14 anos. Aí, ele acabou sendo alcançado pelo traficante e se tornou um viciado. Ao ponto de eu, já como delegado, ter recebido uma ligação em que o policial me disse que encontraram meu irmão com droga. Na época, só o porte já dava cadeia. Eu disse pode prender, faça o procedimento correto. E ainda hoje todos nós lutamos para que isso acabe, porque entristece a nossa família.

O Liberal: você já fumou maconha?

Éder Mauro: nunca! Nunca! Graças a Deus, nem cigarro, nem maconha, nunca! Ninguém mais do que eu sabe o quanto a droga acaba com a vida das pessoas e das famílias.
Por: Portal ORM, por Paulo Silber

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