Pesquisa mostra que extrativismo não prejudica regeneração de castanheiras

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A coleta de frutos da castanheira-do-brasil (Bertholletiaexcelsa, Lecythidaceae) não impede o crescimento de novas árvores na floresta. A conclusão é de uma pesquisa realizada pela Embrapa avaliando áreas de mata em Mato Grosso e Roraima.

O trabalho, ainda não publicado, avaliou quatro parcelas de nove hectares cada uma, onde foram identificadas e monitoradas todas as castanheiras. Duas vezes ao ano, ao longo de cinco anos, a equipe de pesquisa visitava os locais, acompanhava os extrativistas contando a quantidade de frutos coletados e o montante remanescente na floresta, entre eles aqueles esquecidos e os que eram quebrados pela fauna. Ao mesmo tempo, foi feita a avaliação de plantas regenerantes, ou seja, novas árvores em crescimento na mata.

Como forma de comparação, uma área dentro da parcela de pesquisa não teve os frutos coletados e também contou com monitoramento dos indivíduos regenerantes.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Hélio Tonini, a avaliação estatística dos dados mostrou que não houve efeito da taxa de coleta sobre a regeneração natural da espécie. Dessa forma, ele conclui que são ineficazes e até mesmo desnecessárias medidas de restrição à coleta para garantir a regeneração natural. “Mesmo sob altas taxas de coleta de sementes, a espécie consegue regenerar-se de forma satisfatória em áreas sujeitas a aberturas periódicas do dossel”, explica Tonini.

O pesquisador argumenta que durante o período de coleta, o extrativista passa no máximo duas vezes em cada árvore. Como o intervalo é grande, há tempo suficiente para ação da fauna, principalmente cutias, os maiores responsáveis pela manutenção da regeneração natural da castanheira. O roedor consegue quebrar o ouriço caído no chão, retira as amêndoas e enterra aquelas que não consegue comer no momento. Muitas delas acabam esquecidas e germinam, formando novas árvores.

Outro agente com papel importante na disseminação das sementes é o próprio homem. No transporte das castanhas pelas trilhas feitas na mata, algumas acabam caindo e germinando. De acordo com Hélio, na literatura há um estudo feito no Pará que avaliou as plantas regenerantes ao lado das trilhas usadas pelos coletores.

“As trilhas mais batidas, onde mais gente passava, era onde mais tinha castanheira. Então a ação do homem provavelmente é mais benéfica do que maléfica para a regeneração”, argumenta.

Diferença nos tamanhos

A avaliação dos indivíduos regenerantes mostrou que há na mata árvores de médio porte e plantas bem pequenas. Porém, poucos indivíduos intermediários são encontrados. Essa característica foi interpretada durante muito tempo como efeito negativo da atividade extrativista.

Porém, explica Hélio, o acompanhamento dos novos regenerantes, mesmo com a continuidade da coleta de castanha-do-brasil mostra que esse não é o motivo para a ausência de indivíduos intermediários.

Para ele, a explicação está na abertura de clareiras no passado ocasionadas pela atividade madeireira, fogo ou alguma outra ação do homem. Com a maior entrada de luz na mata, as árvores menores se desenvolveram mais rapidamente. A redução da luminosidade, devido ao crescimento das espécies pioneiras, fez com que castanheiras mais jovens não tivessem o mesmo desenvolvimento acentuado, ficando uma diferença na população.

“Não tem muito a ver com a quantidade de frutos que você extrai da área e sim com as aberturas. Onde tem castanhal é sinal de distúrbio na mata. É sinal de que houve alguma coisa ali. Ou caiu muita árvore, teve exploração madeireira, ou teve derruba e queima feita por índios há muitos anos. A castanheira precisa de luz”, argumenta Tonini.

Dispersão genética

Por meio da avaliação genética das castanheiras, a pesquisa também mostrou que as cutias chegam a levar as sementes a uma distância de até 650 metros da árvore do local onde pegou a semente. Porém não são os roedores os principais responsáveis pela variabilidade genética das castanheiras em uma mata.

Por meio do estudo do fluxo de pólen na floresta, foi possível identificar que abelhas polinizadoras conseguem carregar o pólen de uma árvore a outra numa distância de até 950 metros.

A pesquisa foi feita por meio da análise de DNA de todas as castanheiras da parcela experimental e de plantas germinadas a partir de sementes coletadas de árvores matrizes.

Comparando o DNA das regenerantes na floresta com o restante da população, foi possível identificar os pais daquela planta e a distância em que ela se encontrava deles.

Já a análise do DNA das mudas germinadas a partir das sementes coletadas, permitiu, por comparação, identificar a árvore pai, ou seja, a que forneceu o pólen. Como a polinização é feita pelas abelhas de grande porte, os dados permitiram inferir a distância máxima percorrida pelos insetos levando o pólen.

O fluxo gênico, seja por meio da dispersão de sementes ou da polinização, é fundamental para garantir a maior variabilidade genética das castanheiras. A pesquisadora Aisy Baldoni ressalta a importância dessa diversidade para a conservação da espécie. A castanheira-do-brasil é considerada vulnerável na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN), que reúne e classifica espécies com risco de extinção.

“Quanto maior a variabilidade genética de uma população, maior a chance de sobreviver a intempéries, doenças, pragas, problemas climáticos, deficiências morfológicas, etc.”, explica Aisy Baldoni.

Fonte: painelagroeconomico.com
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