Pessoas mais afetadas pela crise do clima são ‘líderes vivos’ e agentes da mudança, diz presidente da COP30

O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30. — Foto: Fernando Donasci/MMA

Em nova carta à comunidade internacional, embaixador André Corrêa do Lago defende que comunidades vulneráveis ocupem o centro das decisões climáticas e propõe que a conferência em Belém seja um “ritual de passagem” para um modelo climático mais justo.

O presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, divulgou nesta terça-feira (12) a quinta carta da presidência da conferência à comunidade internacional.

No texto, ele afirma que as populações mais atingidas pela crise climática, muitas vezes em situação de vulnerabilidade histórica, não devem ser vistas apenas como vítimas, mas como “líderes vivos” do cuidado, da resiliência e da regeneração.

“Mais do que limitadas por sua vulnerabilidade, essas pessoas são mestres em vitalidade, sabedoria e criatividade. Não são apenas periféricas por sua geografia – são protagonistas na linha de frente da mitigação, adaptação e partilha de recursos. São agentes da mudança, portadoras de perspectivas e soluções únicas”, escreveu Corrêa do Lago.

📝ENTENDA: As cartas publicadas pelas presidências das COPs são instrumentos diplomáticos para mobilizar países, setor privado, sociedade civil e outros atores antes da conferência.

É nelas que os presidentes definem prioridades, sinalizam a agenda e buscam construir consensos entre os 198 países-membros da Convenção do Clima da ONU.
a COP30 e nosso futuro

Assim, o documento descreve o papel de diferentes grupos, como mulheres e meninas, que “sustentam o tecido da resiliência comunitária”, jovens que lembram “que o tempo não é abstrato – é urgente, vivido e deles”, povos indígenas que guardam “grande parte da biodiversidade mundial” e comunidades tradicionais que carregam “sabedoria ancestral da terra, das águas e dos mares”.

Também menciona afrodescendentes, moradores de periferias urbanas e trabalhadores mais expostos aos impactos do aquecimento global, como agricultores, operários da construção e profissionais de segurança pública.

Para Corrêa do Lago, esses grupos demonstram liderança excepcional ao transformar desigualdade em energia para mudança.

“Nós os reconhecemos não porque vocês precisam de reconhecimento, mas porque precisamos da sua coragem — para superar nosso medo da perda, da mudança e da falta de controle. Precisamos da sua coragem para nos ensinar que liderança genuína não vem da autoridade, mas do cuidado e do afeto.”

No mesmo texto, a presidência propõe que a COP30, marcada para novembro em Belém, seja tratada como um “ritual de passagem”.

Segundo o embaixador, o encontro deve permitir “o luto pela perda daqueles que nos deixaram em razão de eventos climáticos extremos — das enchentes no Brasil e na Índia às ondas de calor na Espanha e no Japão” e também pelo “modelo de desenvolvimento que prometeu prosperidade no passado, mas que já não oferece esperança para o futuro”.

O documento apresenta ainda três prioridades que, segundo a presidência, devem guiar as negociações:

Reforçar o multilateralismo e o regime climático da ONU (UNFCCC);
 Conectar a agenda climática à vida real das pessoas;
Acelerar a implementação do Acordo de Paris, com ações e ajustes estruturais em todas as instituições capazes de contribuir para o objetivo.

Licypriya Kangujam, uma ativista climática indígena da Índia, segura uma faixa com os dizeres "Acabem com os combustíveis fósseis. Salvem nosso planeta e o nosso futuro", em um protesto durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de Dubai, a COP 28. — Foto: REUTERS/Thomas Mukoya
Licypriya Kangujam, uma ativista climática indígena da Índia, segura uma faixa com os dizeres “Acabem com os combustíveis fósseis. Salvem nosso planeta e o nosso futuro”, em um protesto durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de Dubai, a COP 28. — Foto: REUTERS/Thomas Mukoya

Entenda como funcionam as cartas da COP:

Além das delegações oficiais, as cartas são endereçadas à comunidade internacional em sentido amplo, incluindo empresários, artistas e líderes comunitários. Historicamente, elas também dão destaque à mobilização popular e à inclusão de grupos vulneráveis,

Desde março, a presidência já divulgou cinco cartas com temas específicos. A primeira lançou o conceito de “mutirão global”.

A segunda apresentou a estrutura de governança e os quatro pilares da conferência. A terceira propôs reduzir a burocracia nas COPs.

A quarta listou 30 metas em seis eixos temáticos. A quinta, agora, coloca a ação climática centrada nas pessoas como eixo principal da conferência em Belém, prevista para novembro.

As cartas também funcionam como mecanismo de transparência, ao comunicar intenções e expectativas da presidência, e como plataforma para incluir vozes historicamente marginalizadas no debate climático.

Ao mesmo tempo, criam responsabilidade: o que é proposto nelas passa a ser cobrado na conferência, reforçando a necessidade de que o discurso simbólico se traduza em compromissos e resultados concretos.

Observatório do Clima criticou crise de hospedagem

Nesta terça, o Observatório do Clima afirmou que a crise de hospedagem em Belém ameaça transformar a COP30 “na mais excludente da história”, reduzindo a participação de delegações nacionais, representantes da ONU, observadores e jornalistas.

A rede de organizações ambientais apontou que, a 90 dias da conferência, o debate sobre a cúpula climática está sendo “monopolizado pelo único tema que deveria ser um não-assunto: a infraestrutura hoteleira”.

Segundo o OC, a negligência do governo federal e do governo do Pará, que tiveram mais de dois anos para resolver o problema, criou uma “bomba” que explodiu agora, com países cogitando mudança de sede e organizações da sociedade civil dizendo que não terão condições de participar.

No texto, a entidade afirma que, sem uma solução imediata, a conferência corre o risco de frustrar a expectativa de ser “a COP do povo” e ter mobilização maciça pelo clima, já que os custos de hospedagem — considerados proibitivos — reduzem, e ainda devem reduzir mais, a presença de representantes da sociedade civil global.

O OC alerta ainda que o esvaziamento não apenas comprometeria a legitimidade das negociações, como daria a países contrários ao avanço do Acordo de Paris “a desculpa perfeita” para bloquear acordos.

“Uma COP esvaziada seria, além de um vexame histórico para o Brasil, uma preciosa oportunidade perdida para a humanidade num momento em que temos apenas cinco anos para manter viva a meta de temperatura do acordo do clima”, diz a nota.

O documento também lembra que, desde a candidatura para sediar a COP30, o governo brasileiro conhece as demandas logísticas de um evento dessa magnitude e deveria ter adaptado a cidade para recebê-lo, e não o contrário.

“O governo teve tempo para construir hotéis e trazer navios, entre outros itens que compõem as necessidades da conferência. Fez menos do que o necessário. Contou com a dedicação e extrema paciência da população local, que agora é cobrada injustamente sobre os preços extorsivos das acomodações”, acrescentou a rede.

 

Fonte: Roberto Peixoto, g1/Jornal Folha do Progresso e Publicado Por: Jornal Folha do Progresso em 12/08/2025/17:55:22

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