Polícia investiga 4 suspeitos da morte de estudante paraense

Diego Machado tinha pedido ajuda à família para sair de alojamento

“Diego morreu por ser quem ele era e por estar dentro do Fundão”. A afirmação de Pérola Gonçalves, melhor amiga de Diego Vieira Machado, resume o cenário em que o estudante de 29 anos da UFRJ foi assassinado: um campus com amplo histórico de violência, em que grupos conservadores espalham preconceito e no qual o jovem denunciou, há dois meses, um ataque homofóbico. Gay, negro e bolsista, ele sofria ameaças, como disseram testemunhas ouvidas ontem na Divisão de Homicídios, que já tem quatro suspeitos do assassinato do aluno de letras.

— Entre eles, há estudantes da universidade. A principal linha de investigação é assassinato por homofobia — disse Fábio Cardoso, delegado responsável pelo caso.

Tudo fazia com que Diego se sentisse um alvo. A ponto de, no último contato com a família, do Pará, ter pedido ajuda financeira para sair do alojamento onde morava.

— Sabíamos que havia algo errado, porque ele nunca pedia dinheiro, vivia com pouco. Eu depositaria R$ 300 para ele no dia 20, mas não deu tempo — contou sua tia, Edna Vieira Machado.

No último sábado, como fazia diariamente, Diego foi correr de manhã pelo campus. À tarde, era esperado num cineclube organizado pelos amigos. Não apareceu. Seu corpo foi encontrado por volta das 18h, à margem da Baía de Guanabara, perto do alojamento. Tinha marcas de espancamento e estava nu da cintura para baixo. Estranhamente, de forma parecida com a de um jovem que, segundo Diego publicou no Facebook em 7 de abril, foi deixado “nu e humilhado na rua”, após ser atacado por seguranças da obra do campo olímpico de rúgbi, ao lado da Faculdade de Educação Física.

Duas semanas depois da denúncia, a empresa de segurança contratada pelo consórcio Campos Olímpicos, responsável pela construção da arena, foi substituída. No Fundão, corre a informação de que os vigias eram truculentos com os alunos. Oficialmente, a troca se deu quando a instalação foi entregue ao Comitê Rio 2016.

O equipamento fica a menos de 50 metros de uma pista de corrida que Diego costumava frequentar, próximo à cena do crime. Um lugar ermo, à beira da Praia do Catalão, tomada de lixo e por onde usuários de drogas perambulam, mas que, nos fins de semana, reúne praticantes de esportes — muitos de fora da UFRJ. É um dos pontos mais temidos na Cidade Universitária, de 5,23 quilômetros quadrados, nos quais se multiplicam casos de assaltos e até estupros, porém de policiamento escasso.

PICHAÇÕES HOMOFÓBICAS

O medo é maior para estudantes LGBT. Pichações têm aparecido pelo Fundão com ameaças a homossexuais: já foram vistas em banheiros do Centro de Tecnologia. Até recentemente, uma delas estampava um muro perto do alojamento, com a pergunta: “Já matou um viado da UFRJ hoje?” Em outro campus, na Praia Vermelha, alunos de comunicação se depararam, em junho, com a inscrição “morte aos gays da UFRJ” na porta de um banheiro. Responderam pintando o lugar com as cores do arco-íris.

Em mais uma reação contra a homofobia, coletivos LGBTs de vários cursos, como medicina, letras e direito, se juntaram no Fundão para protestar. Estenderam cartazes em homenagem a Diego. E recepcionaram calouros para a matrícula com bandeiras gay e do movimento transexual.

Eles convivem, no entanto, com grupos conservadores, muitas vezes com integrantes de opiniões homofóbicas. Em maio, um e-mail atribuído à Juventude Revolucionária Liberal Brasileira intimidava bolsistas: “Tomem cuidado (…) Vamos começar por um certo aluno que se diz minoria e oprimido por ser homossexual (…). Que gosta de mandar e receber nudes de seus amiguinhos pederastas”.

Há relatos de movimentos conservadores em cursos como odontologia e letras. Na medicina, o grupo Esquadrão de Bombas foi proibido pela universidade em maio deste ano, depois de um trote violento em 2013. Numa das fotos da época, um calouro aparecia com uma placa onde estava escrito “viadinho tatuado”. Segundo estudantes, o convívio com esses alunos era tenso.

— Eles já expulsaram estudantes LGBT de festas e cantavam músicas de opressão, às vezes machistas e homofóbicas — contou uma aluna de medicina.

ALUNOS ANDAM EM GRUPOS

Há quase dois meses, a UFRJ criou uma campanha, batizada “Não se cale”, para receber denúncias de preconceito. Os estudantes, contudo, reclamam de negligência da universidade, não só em casos de homofobia e racismo, mas também na questão da violência que assusta o Fundão cotidianamente. Na Faculdade de Letras, os alunos temem o bloco H, mais vazio, e procuram andar em grupos.

— Evitamos até usar celulares nos corredores — disse o estudante Rodrigo Sancho.

Pior para quem mora no alojamento. Amiga de Diego, a estudante de química Ivie Garrido foi assaltada à mão armada, em outubro do ano passado, perto de onde ele foi encontrado morto. Ela sente medo, assim como Pérola Gonçalves:

— Outros alunos podem chegar em casa e dizer aos pais que estão seguros, que saíram deste lugar perigoso. Nós, do alojamento, não. Moramos aqui.

A investigação está só começando. A polícia vai apurar se a morte tem relação com o caso relatado por Diego na internet. Ainda não se sabe, também, se ele sofreu violência sexual. Por telefone, da periferia de Belém, a mãe do rapaz chora ao pensar no filho que não conseguiu criar — ele cresceu com a avó.

— Queria muito dizer o quanto eu o amava. Se pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente, não o deixaria ir para tão longe — afirmou Nazareth Vieira Machado. — Ele só queria estudar.

O corpo de Diego será velado em Belém nesta quarta-feira (6), dia em que o corpo deve chegar do Rio de Janeiro.

Por: Redação ORM News com informações de O Globo

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