Relatos de Sobrevivente de uma Chacina em Novo Progresso

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Este caso relatado por um dos sobreviventes aconteceu no ano de 1980 em uma propriedade onde hoje é a cidade de Novo Progresso.  É uma história que marcou aquela época e foi esquecida aos tempos.

Famílias que já viviam na época ainda permanecem em Novo Progresso e conhecem desta barbárie que aconteceu aqui.

“Algumas personagens ainda residem em Novo Progresso”.

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Idacir Fassioni

Olá!  meu nome é Idacir Fassioni, nasci no dia 03 de março de 1971, sendo o terceiro filho de um casal abençoado, meus pais Dalsi José Fassioni e Rosa Emília Carvalho Fassioni, terceiro filho nascido em 1971, o meu irmão mais velho nascido e 1967, e o outro nascido em 1969, bem como os mais novos nascidos em 1973 e 1975, bom, nosso pai era motorista de caminhão, vivia viajando, era uma pessoa muito alegre, quando chegava queríamos todos sair com ele, estar com ele. Em 1974 o meu irmão o segundo, por descuido, esmagou a mãozinha em um moedor de cana, há principio nada muito grave, mas houve complicações e ele veio a falecer, tétano ou erros por algum medicamento prescrito pra ele na época, não sei ao certo.

Em 1979 meu pai e outros familiares decidiram migrar para o Mato Grosso ou Pará, na época eram lugares que estavam em crescimento, sendo uma terra de oportunidades, então 4 famílias negociaram suas propriedades subiram para a terra de oportunidades, Nossa Família, a família de duas tias com marido e filhos, e também a quarta família de um primo com sua família e também de um sobrinho desse primo, na época todos novos, meu pai tinha 34 anos, minha mãe tinha 32, enfim nessa faixa de idade.

Moramos em uma pequena cidade na época hoje uma boa cidade chamada Sinop no Mato Grosso, acho que foi uns 2 a 3 meses, depois mais uns 2 a 3 meses em Santa Carmem também no Mato Grosso. Nesses períodos nossos pais estavam à procura de terras, de um lugar para se fixar. Pois bem, no final de 1979 começo de 1980, compraram áreas as margens da BR-163, no Km 1085. Hoje nesse lugar é uma prospera cidade no Para, chamada Novo Progresso, meus tios e tias e suas famílias montarem seus acampamentos em suas terras, e nossa família juntamente com o casal de primos montaram acampamentos na área que meu pai havia escolhido. Bom começava ai uma realização de sonho por parte de todos. Minha mãe sofria muito com problemas na coluna. Passado alguns meses já plantando, arroz, feijão, meu pai decidiu que teríamos que vender o caminhão para poder ter condições de investimento na área adquirida, todos nós passávamos por situação difícil financeiramente. No meio da Amazônia, era complicado, tudo muito caro, mas estávamos conseguindo, meus pais tinham o sonho de ser criador de gado, estávamos desbravando abrindo a área para plantar, e meu pai contratou um homem para ajudar nesse desmatamento.

Meio pai então foi negociar o caminhão, vendeu o caminhão, e minha mãe foi fazer um tratamento na coluna, acho que foi em Cuiabá, quando meu pai voltou, sem o caminhão e com uma caminhonete C-10 azul marinho, esse empregado pediu pra sair, que não iria mais trabalhar ali, isso foi em um sábado, acredito que dia 25 de maio de 1980.

Uma semana depois no dia 02 de junho de 1980, esse individuo voltou e Assassinou meu pai que estava dormindo, simplesmente chegou e o matou com um tiro atrás da orelha do lado direito, acredito que foi com espingarda, em seguida já virou e assassinou esse primo que estava no quarto ao lado com sua família, nisso a Prima Nega, esposa do primo Zé, tentou sai correndo e o Assassino a agarrou e ficou em luta corporal com ela, e ela começou a gritar, chamando pelo sobrinho deles, o Valdécio, esse sobrinho deles era um rapas forte, e saiu do quarto onde dormiam ele, eu e meu irmão mais velho Kiko. Indo ao encontro para atender o socorro da nega, o assassino largou a Prima Nega, pegou um revolver e saiu correndo atrás do Valdécio que correu rumo ao quarto onde estávamos, sem saída, foi morto com dois tiros no peito, isso a um metro de onde eu estava, nisso fiquei quietinho embrulhado na coberta, ele não me viu, mas, meu irmão Kiko saiu correndo e ele saiu em perseguição a meu irmão, com o revolver descarregado na mão, e pegou um machado no canto da parede, correndo atrás de meu irmão desferiu um golpe com o cabo do revolver que meu irmão apagou, e ele começou a desferir golpes com o machado na cabeça de meu irmão Kiko. Voltando a casa onde já não haviam mais pessoas adultas, pois quem estava na casa nessa altura eram eu no quarto 3, o Elias com 2 aninhos e sua irmã Eliane com 6 meses no quarto 2, e no quarto 1 estavam meus dois irmão mais novos um com 6 e o outro com 4 anos, lembro-me que eles estavam chorando e falando com meu pai, acorda pai, acorda! E eu com 9 anos escutando, ouvi o assassino perguntou com vós alterada, “Cadê o dinheiro, cadê o dinheiro” meu irmão mais novo o de 4 anos falou meio que alegre pois estava revendo o homem que brincava com aquela vóz conosco, e disse “é você Silvio?”, acredito que por terem o reconhecido, o assassino também os matou, ouvi os gritos, o maior foi com 6 facadas e o menor quase decapitado por completo, isso aconteceu por volta de uma hora da manhã, voltei a dormir, com medo, mas votei a dormir ouvindo o barulho dele procurando e revirando os quartos 1 e 2, a procura do dinheiro da venda do caminhão.

Bem cedo fui acordado por meu irmão Kiko, todo ensanguentado, com sangue seco e ainda com sangue minando de sua cabeça, já estava clareando o dia, me lembro dele ter dito, “acorda lete, acorda, mataram nosso pai, mataram nossos irmãos”, quando abri os olhos vi o Valdécio atravessado na cama de solteiro do meio, fomos ao quarto 1 e vi meu pai com meu irmão mais novo por cima dele quase decapitado, e meu irmão de 6 anos no canto da parede no chão, do quarto 1 se acessava o quarto 2 e vimos o primo Zé, morto como que se estivesse dormindo, com o Elias e a Eliane chorando, acredito que de fome, pois eram bem pequeninhos. A Mãe deles conseguiu fugir pela mata, mas nós até então não sabíamos, pegamos as crianças, lembro que meu irmão tentou ligar a C-10, não conseguiu, ele amarrou o facão embainhado na cintura, pegou o Elias e eu Peguei a Eliane, lembro que coloquei ela no cangote, e fomos rumo a BR morrendo de medo de nos depararmos com o Assassino, ao entrar na BR e andarmos por uns 500 metros a Nega nossa prima nos viu e veio ao nosso encontro, seguindo pela BR chegamos próximo a casa de Nossos Tiu Nene e Pimpa, e ela perguntou como que já soubesse quem foi que fez tudo aquilo, eu apenas confirmei. Daquele momento em diante começou uma casada ao assassino, que foi morto alguns dias depois.

Fico Imaginando o sofrimento de minha mãe, que em pouco tempo perdeu o marido e três filhos com menos de 10 anos.

Sei que ela é temente a Deus e se apegou Nele para poder suportar a dor das perdas, eu e meu irmão mais velho, que sofreu, lutou para sobreviver e conseguiu cresceu, virou um Homem honrado e respeitado, acho que ele serve de exemplo para muitos jovens de hoje em dia.

Bom vai me perguntar porque estou escrevendo e compartilhando isso tudo?

Acho que porque Deus me tocou em fazer esse relato e tentar passar que todos nós temos nossos sofrimentos… e que não acredito em ser vitima da sociedade.

Caso Alguém  tenha imagens ou outras informações sobre este caso favor enviar para  Redação do Jornal Folha do Progresso.

Facebook do sobrevivente Idacir Fassioni : https://www.facebook.com/idacir.fassioni/photos?source_ref=pb_friends_tl

*E-mail : folhadoprogresso@folhadoprogresso.com.br

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“Exclusiva para Jornal Folha do Progresso”

Por Redação Jornal Folha do Progresso

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