Suplemento de hoje mostra brasileiros no meio da floresta

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No pequeno vilarejo, o futebol garante a diversão da garotada

O PP Maués só partiria dentro de uma hora, mas os tombadilhos estreitos e longos já estavam tomados por redes para uma viagem noturna descnendo o Amazonas. Na hora em que deveria atracar no porto regional que lhe emprestou o nome, o Maués teria viajado 15 horas desde o estádio da Copa do Mundo mais próximo.

Um segundo barco seria necessário para chegar a povoados indígenas ainda mais remotos que pretendiam assistir à partida entre Brasil e México no dia 17 de junho, dentro de apenas dois dias. Sem eletricidade nem sinal de celular, a vila recorreria a um gerador a diesel para saciar a paixão isolada pelo futebol.

Enquanto o Rio de Janeiro e suas praias emprestam o pano de fundo turístico para a Copa do Mundo, o fascínio pelo evento esportivo mais popular do mundo pode ser sentido até mesmo em algumas das áreas mais isoladas da floresta tropical, onde raramente estranhos botam os pés.
“O futebol está no nosso sangue”, disse André Pereira da Silva, 32 anos, chefe da pequena comunidade de índios sateré- -mawé em Manaus, a maior cidade do Amazonas, que atuava como guia. O destino pretendidoera sua aldeia natal, Monte Salém, uma das cerca de 150 comunidades sateré-mawé com aproximadamente 11 milhabitantes no baixo Amazonas.

“Espere só até ver”, disse Pereira da Silva. “Você vai achar que está no meio das estrelas”. Quando garoto em Monte Salém, ele fazia bolas de futebol com a seiva de seringueiras, utilizando um galho para modelar o látex numa esfera por vezes incontrolável. “Dez árvores para uma bola”, ele disse, sentado na minúscula sala de jantar do barco com o filho caçula. Mais de 300 passageiros estavam a bordo do navio com cerca de metade da extensão de um campo de futebol. As crianças brincavam entre as bagagens ou ficavam olhando sobre o parapeito.

A maioria dos passageiros fica deitada nas redes, dormindo, lendo ou ouvindo música e jogando emsmartphones. Alguns assistiam enquanto Lionel Messi e a Argentina faziam seu jogo de estreia contra a Bósnia-Herzegovina em minúsculas telas verdes. A partida também era exibida num pequeno televisor cheio de chuviscos na cozinha do barco.

“O Messi está devagar hoje”, disse Rodrigo Xavier, 26 anos, torcedor do Brasil que se divertiu com a observação. Abruptamente, a cozinha se esvaziou. O barco não tinha antena parabólica e o televisor perdeu contato com o sinal de Manaus.

Às 8h de segunda-feira, o barco chegou a Maués, pequeno porto regional onde o guaraná rico em cafeína é produzido para ser utilizado em refrigerantes, bebidas energéticas e chás. Fogos de artifício saudaram a chegada do barco. Nas ruas acima das docas, lojas vendiam bolas de futebol, bonés, cornetas plásticas e camisas de Neymar, o jovem atacante brasileiro. Até mesmo um gatinho usava coleira verde e amarela, as cores do Brasil.

Alguns homens vestiam camisas de grandes clubes brasileiros – Flamengo e Vasco da Gama –, fidelidade construída nas décadas de 1950 e 60, quando o único sinal de rádio que chegava a Maués vinha do Rio, a 2.500 quilômetros dali. Pereira da Silva carregava um saco de roupas para dar aochefe de Monte Salém ou trocar por sementes para fazer colares e braceletes. Ele ficou de encontrar os pais em Maués, para depois viajarem juntos ao vilarejo ancestral da família.

Pelo menos esse era o plano. Agora havia um problema. O gerador em Monte Salém estavaquebrado. Depois do café da manhã, ele descobriu outra vila com um gerador funcionando. A viagem até Nova Belo Horizonte demoraria 75 minutos numa lancha a motor partindo deMaués.

No pequeno vilarejo, o futebol garante a diversão da garotada


Por: NYT/ O Liberal

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