TÚNEL DO TEMPO -Há 16 anos, um crime de encomenda abalou Novo Progresso e região

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Em meio aos incêndios na Amazônia Jornalista do Portal Ver- o -Fato publicou a historia de um crime ocorrido em 2004 em Novo Progresso que foi destaque Nacional. Leia Abaixo;

Por: Ver -o -Fato Por Paulo Jordão – repórter

NOVO PROGRESSO –  Há 15 anos, um crime de encomenda abalou aquela região. Na morte do pequeno produtor rural e ambientalista Adilson Prestes,  não faltou o envolvimento de policiais e madeireiros. Ninguém até hoje foi preso e pagou pelo crime.
No dia 3 de julho de 2004, às 10 horas da manhã, Adilson Prestes, 33 anos, foi assassinado a tiros de pistola e revólver 38, em frente à casa dele, na Gleba Curuá, em Novo Progresso. Os acusados foram  dois pistoleiros, contratados pelo empresário José Paulo Abreu, dono de madeireira em Sinop (MT).
O comerciante Claudimir Ramos foi apontado como intermediário do crime. O motivo foi a disputa por uma área de 3 mil alqueires que Prestes e Abreu tinham comprado em parceria. Na época, o delegado José Alcântara Neves, de Conflitos Agrários, indiciou os dois e eles tiveram a prisão temporária decretada pela justiça paraense, mas não foram localizados.

Adilson Prestes chegou a ser chamado pela BBC de “Chico Mendes do Pará” (Foto:DIVULGAÇÃO)
Adilson Prestes chegou a ser chamado pela BBC de “Chico Mendes do Pará” (Foto:DIVULGAÇÃO)

Decorridos 15 anos e exatos dois meses do crime, nem os pistoleiros, muito menos o mandante e o intermediário, naturais do Estado do Mato Grosso, foram localizados e presos. Segundo o delegado Alcântara, a morte de Prestes foi contratada por R$ 10 mil.

Grilagem e roubo de madeira
Adilson Prestes, natural do Paraná, foi eliminado porque denunciava grilagem de terras, trabalho escravo e roubo de madeira de reservas indígenas no sudoeste do Pará, mas as autoridades da época ignoraram suas denúncias. Sem proteção policial e com medo de ser assassinado, Prestes comprou uma arma e andava com ela, o que levou a polícia a indiciá-lo por porte ilegal de arma.
Entre as pessoas que Prestes denunciou, estavam autoridades, policiais, empresários e grileiros mato-grossenses, que faziam a extração ilegal de madeira na divisa entre Mato Grosso e Pará. Em uma entrevista à TV Globo em 2003, ele denunciou a ação do grupo e disse que estava sendo ameaçado.

A BBC de Londres chamou Prestes de “Chico Mendes do Pará” (Foto:Arquivo Jornal Folha do Progresso)
A BBC de Londres chamou Prestes de “Chico Mendes do Pará” (Foto:Arquivo Jornal Folha do Progresso)

A BBC de Londres chamou Prestes de “Chico Mendes do Pará”, comparando a luta dele em defesa da floresta  à do líder seringueiro acreano, também assassinado por grileiros, no dia 22 de dezembro de 1988.
Na ocasião Prestes desenhou um mapa indicando os locais da exploração de mogno e apontou a existência de um cemitério clandestino. O delegado-geral da Polícia Civil do Pará na época, Luiz Fernandes Rocha, disse que havia provas concretas contra Abreu, que foi visto no hotel de Novo Progresso na companhia dos homens que teriam feito os disparos.
Quando foi interrogado, Abreu negou tudo. O juiz de Novo Progresso, Fredson Capellini, decretou a prisão temporária do madeireiro Abreu. Segundo o delegado Alcântara, Abreu queria vender as terras para agricultores de Mato Grosso, mas seu sócio Prestes queria permanecer com elas. Ele ouviu 38 pessoas no inquérito e todos os indícios apontam que Abreu é o mandante.
Uma discussão dos pistoleiros foi presenciada por uma testemunha. Um deles tentou desistir do assassinato, mas o outro o convenceu a continuar com o argumento de que “R$ 10 mil não se ganha todos os dias””, disse o delegado.
A polícia descobriu fortes indícios contra Abreu: a contradição em seu depoimento e o fato de ele ter mandado homens ocuparem as terras que eram de Prestes, um dia após o assassinato. Além do madeireiro, o comerciante Cláudio Ramos também nunca foi preso.
Ele contratou os dois pistoleiros, de quem era conhecido. O delegado não descartou também a possibilidade de o assassinato ter sido pago pelos grileiros denunciados por Prestes.

Mais uma morte anunciada
Prestes sabia que iria ser assassinado. Ele esteve em Belém, em 2004, e fez sérias denúncias de grilagem de terras, roubo de madeira de reservas indígenas, devastação da floresta e tráfico de drogas. Dois anos antes, em 2002, quando pela primeira vez esteve na capital, ele já sofria ameaças de morte e veio pedir proteção.
Segundo o Ver-o-Fato noticiou, o promotor de Justiça Mauro Mendes de Almeida encaminhou um dossiê a todas as autoridades, cobrando providências, mas parou por aí. Prestes foi largado à própria sorte

Na agenda de Prestes, o telefone do suposto mandante da morte dele (Foto:Reprodução)
Na agenda de Prestes, o telefone do suposto mandante da morte dele (Foto:Reprodução)

Ele participava da Pastoral da Juventude da CPT de Santarém e usava um crucifixo com a imagem de Cristo. Nas aldeias dos caiapós, de quem era amigo, se pintava de índio. A morte dele gerou inquérito policial, ação do Ministério Público e pouco empenho do Poder Judiciário, igual a dezenas de outros crimes envolvendo a questão agrária.
De acordo com o dossiê entregue pelo promotor Mauro Almeida, em 25 de maio de 2004, um mês e nove dias antes de ser morto, Prestes enviou e-mail ao então delegado federal Walame Machado, hoje secretário de Segurança Pública do Estado, encaminhando informações sobre a situação na região.
No dia 26 de maio, ele telefonou para o irmão, Ademir Prestes, em Castelo dos Sonhos, e avisou para ter cuidado, pois o major da PM Marcelo e o delegado da Polícia Civil Mascarenhas e o nacional Rubens Zílio, o “Rubão” estavam ameaçando prendê-lo.
Ainda segundo o dossiê, em junho de 2004, o madeireiro Abreu, acusado de ser o mandante da morte, aconselhou Roberto Justino Cavaleiro Meira a fazer uma porteira na estrada para impedir a passagem das pessoas.
Feito isso, três homens, “Rubão”, Alcindo Francio (Camelo) e Dieser, denunciaram Roberto e espalharam a notícia de que um grupo fortemente armado liderado por Prestes e parentes, construíram barricadas em duas vicinais e encheram a área de pistoleiros.
Em 20 de junho, policiais de Santarém tentam prender Adilson Prestes e seu cunhado “Sido” nas terras da família, no assentamento Nova Fronteira, em Moraes Almeida, a 100 km de Novo Progresso. Os dois fugiram para o mato com medo de serem mortos. Os policiais exibiam fotos de Adilson e do irmão, Prestes. Tudo foi testemunhado pela irmã deles, Ivanilda Prestes, mulher de “Sido”.
Um dos policiais era conhecido por comandante Luiz (coronel da PM), que usa óculos de grau. Outros envolvidos foram o major PM Antenor, o capitão PM Risuenho e o sargento PM Nóia. Os policiais chegaram em duas caminhonetes toyotas brancas.

Encapuzados e matadores
A toyota branca, que sempre aparecia na região de Castelo de Sonhos, com homens encapuzados para matar, era de Leonir Bachinski, dono da madeireira Tigre, que saia com o apoio de Mascarenhas, major Marcelo e do sargento Nóia; o subtenente Nazaro de Cuiabá e Clodomiro, braço direito de Nazaro, apoiados pelo empresário Rubens Zílio de Moraes de Almeida e a Colonizadora Paralelo 16.
Entraram na Gleba e Vanderlei Bandeira Farrapo estava em outra toyota branca, com inscrição Auto Posto Dado, placa JZB 1461. Foram contados nas duas toyotas dezoito homens armados, todos com armas calibre 12 de repetição.
Em 01 de julho, o jornal O Liberal publicou matéria informando que madeireiros do distrito de Moraes de Almeida, em Itaituba, acusavam um grupo de bandoleiros, chefiados por Adilson Prestes, de “desestruturar e desequilibrar a ordem e a Justiça na região, promovendo pressões, perseguições e ameaças de morte, que impediram os proprietários de terem acesso às suas próprias terras”.

Foto:Arquivo
Foto:Arquivo

Eles acusavam Prestes e seus parentes de “entulhar duas estradas vicinais com árvores, colocarem cancelas e encherem o local de pistoleiros, apropriando-se do que não lhes pertencem”.
Os madeireiros diziam que a comunidade de Moraes de Almeida estava agradecida à Polícia Militar, “ao major Antenor e ao capitão Risuenho por terem restabelecido a segurança, ordem e a legalidade na Gleba Curuá, onde vivem muitas das famílias prejudicadas pelo fechamento das estradas”.
Durante a operação, seis pessoas foram presas e armas apreendidas, além de motosserras e carga de madeiras em tora. Prestes foi acusado de utilizar um trator na área para roubar madeira das terras pertencentes a Júlio Paludo, que fez um registro do fato no destacamento da Polícia Militar de Moraes de Almeida, comandado pelo sargento Antônio Luís Nóia da Silva.
Dois dias depois, Prestes foi assassinado. E sobre a morte dele, até hoje, paira um véu de silêncio ensurdecedor.
E de impunidade completa. Leia matéria completa AQUI

Por:Paulo Jordão – repórter Ver o Fato
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