Mais de 1.000 bovinos morrem após surto de morte súbita em confinamento do Centro-Oeste

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Investigação aponta excesso de amido na dieta e “falha” vacinal como principais causas da morte súbita em confinamento; o caso expõe alerta crescente para a enterotoxemia em sistemas intensivos. Um dos maiores surtos de mortalidade já registrados em confinamentos brasileiros acendeu um alerta urgente para nutricionistas, veterinários e pecuaristas. Mais de 1.000 bovinos Nelore morreram de forma súbita — doença conhecida como morte súbita em confinamento — em um grande confinamento do Centro-Oeste, que aloja cerca de 20.000 animais. As informações foram divulgadas pela Revista DBO, na tradicional coluna Fatos & Causos Veterinários, escrita por Enrico Ortolani, professor e referência em patologia veterinária.

Segundo Ortolani, a morte dos animais ocorreu de forma abrupta, muitas vezes durante a madrugada, sem sinais prévios de doença. Trata-se de um cenário que vem se tornando mais frequente nos sistemas intensivos modernos, impulsionados pelo uso crescente de concentrado energético e por protocolos nutricionais cada vez mais agressivos.

O avanço rápido do problema e o padrão das mortes em caso de morte súbita em confinamento

De acordo com o relato, os animais estavam entre 30 e 60 dias de cocho, em excelente condição corporal e ganhando, em média, 1,7 kg por dia — desempenho típico de bovinos “campeões de cocho”.

As mortes começaram em pequenos lotes, mas evoluíram rapidamente. A maioria dos animais era encontrada deitada de lado, com o abdômen bastante distendido, quadro compatível com intensa fermentação e acúmulo de gases no intestino delgado.

Na necropsia, Ortolani descreve que as alças de jejuno e íleo estavam avermelhadas, repletas de gás e com conteúdo hemorrágico, além de secreção clara e fibrinosa — lesões típicas de enterotoxemia por Clostridium perfringens.

Investigação aponta dois fatores decisivos

1. Excesso de amido na dieta

Ao revisar o manejo nutricional, o consultor constatou que o confinamento havia aumentado recentemente o teor de concentrado energético, chegando a 49% de amido por quilo de matéria seca da ração — porcentual considerado muito alto para sistemas intensivos, especialmente sem equilíbrio adequado de fibra.

Esse excesso favorece a rápida passagem de amido não digerido para o intestino delgado, criando ambiente ideal para multiplicação explosiva do Clostridium perfringens tipo A, bactéria normalmente presente em pequenas quantidades, mas capaz de se tornar letal em situações de desequilíbrio.

2. Falha vacinal — em nível nacional — contra o tipo A

Outro ponto crítico identificado foi que o protocolo de vacinação aplicado pelo confinamento incluía proteção apenas contra os tipos C e D de C. perfringens, como ocorre com a maioria das vacinas comerciais, mas não contemplava o tipo A — exatamente o agente envolvido nos surtos relatados.

Segundo Ortolani, não há proteção cruzada entre os tipos C/D e o tipo A, deixando o rebanho vulnerável.

Como a doença age e por que a morte é tão rápida

A enterotoxemia tipo A provoca:

  • Hemorragia intensa no intestino delgado;

  • Produção de toxinas letais;

  • Formação de grande volume de gases;

  • Necrose acelerada das paredes intestinais.

O processo evolui em poucas horas, impedindo que os animais apresentem sinais clínicos notáveis. Por isso, a maioria é encontrada já morta.

Casos desse tipo são mais frequentes a partir dos 30 dias de cocho, quando os animais passam a consumir volumes maiores de ração e atingem picos de desempenho — exatamente o perfil dos bovinos afetados.

Medidas emergenciais conseguiram conter o surto

Após o diagnóstico, o confinamento adotou duas ações imediatas:

  • Redução do teor de amido de 49% para 40%;

  • Aplicação de vacina contendo toxoide contra C. perfringens tipo A.

De acordo com Ortolani, a mortalidade despencou rapidamente após as medidas corretivas, indicando que o foco do problema foi corretamente identificado.

Ortolani alerta: surtos estão aumentando em confinamentos brasileiros

Em outro texto de sua autoria, também divulgado pela DBO e reproduzido pela FMVZ/USP, Ortolani destaca que casos de morte súbita triplicaram em confinamentos que intensificaram o uso de concentrado energético.

Ele observa que a intensificação acelerada muitas vezes ocorre sem ajuste proporcional de fibra, sem capacitação adequada de equipes e com pouca atenção ao impacto das mudanças dietéticas na microbiota intestinal.

O especialista ainda aponta que a maioria das vacinas disponíveis no mercado não oferece proteção contra o tipo A, com exceção de poucos produtos — uma lacuna importante para um segmento que cresce ano após ano.

O que fica de lição para a pecuária brasileira com o surto de morte súbita em confinamento

Os surtos apresentados por Ortolani reforçam uma mensagem crítica:

  • Confinamento intensivo exige precisão nutricional;

  • Ajustes abruptos na dieta podem desencadear tragédias sanitárias;

  • Vacinar apenas contra os tipos C e D não protege contra o tipo A;

  • Protocolos devem ser revisados anualmente por nutricionistas e veterinários.

Com a intensificação da produção e o aumento do uso de energéticos, a enterotoxemia tipo A deixou de ser um evento esporádico e pode se tornar um dos maiores desafios sanitários dos confinamentos modernos.

Ortolani encerra seu alerta cobrando uma resposta da indústria e das autoridades: é urgente que o Mapa e as empresas veterinárias revisem e atualizem as formulações vacinais para atender à nova realidade do confinamento brasileiro.

Fonte: Com informações da Revista DBO, através do autor Enrico Ortolani. e Publicado Por: Jornal Folha do Progresso em 24/11/2025/10:07:11

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