Seminário no Pará aponta necessidade de proibir exportação de gado vivo e de mais fiscalização até proibição
Foto:Camila Sousa | Especialistas e autoridades defendem o fim da atividade inconstitucional e cobram maior presença de órgãos de fiscalização federais
Promovido pela Promotoria de Justiça de Barcarena, organização não governamental Mercy For Animals (MFA), Comissão de Direito Animal da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará (OAB-PA) e Ministério Público Federal (MPF), o evento chamou a atenção para os impactos do desastre de 6 de outubro de 2015, que vitimou quase 5 mil bois vivos e despejou 700 toneladas de óleo no rio Pará, causando um dos piores desastres ambientais da história do Pará.
Participantes do seminário classificaram a exportação de animais vivos como um ato de crueldade e que, portanto, é inconstitucional. O entendimento é que essa atividade é intrinsecamente problemática do ponto de vista do bem-estar animal e acarreta elevados riscos ambientais, sanitários, sociais e econômicos.
Segundo a responsável pelo Departamento Jurídico da MFA na América Latina, Paula Cardoso, as chances de uma nova tragédia como a do naufrágio do navio Haidar ocorrerem aumentaram muito, porque este ano o Brasil se tornou o maior exportador de bovinos vivos do mundo e, desse total, 66,4% da atividade está concentrada no porto de Barcarena.
O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Animais da OAB-PA, Wellington Santos, destacou que os animais de exportação não têm proteção jurídica e que a mudança na lei federal é necessária para que eles obtenham direitos. “A crueldade é visível no olhar e no cheiro desses animais. Em viagens que duram em média 20 a 30 dias em alto mar, eles estão expostos a fezes, urina e doenças. Muitos animais não chegam ao local de destino e são triturados e jogados ao mar”, ressaltou.
O estresse térmico foi abordado no seminário como um dos fatores mais cruéis da exportação de animais vivos, sendo considerado o pior sofrimento para os animais durante o transporte marítimo. Essa condição de crueldade é imposta pelo confinamento em embarcações descritas como “caixas de metal com pouca ventilação”, onde os animais são submetidos ao sol escaldante e a altíssimas temperaturas. Como resultado desse estresse, muitos animais morrem durante a viagem e são lançados ao mar.
Mais fiscalização e barreiras – Enquanto a proibição total é considerada a melhor solução, o promotor de Justiça Márcio Maués, titular da 1ª Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, da Infância e Juventude de Barcarena, apresentou propostas concretas que visam aumentar o controle sobre a atividade:
- Exigência de licenciamento ambiental: foi instaurado um procedimento para exigir da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas) o licenciamento ambiental para a atividade de exportação de animais vivos. A Constituição estabelece a necessidade de realização de estudo de impacto ambiental e licença para atividades potencialmente lesivas ao meio ambiente, e a atividade é considerada lesiva, registra Maués.
- Inclusão no Termo de Ajuste de Conduta (TAC) da Carne Legal: o membro do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) informou que foi proposta a inclusão da Companhia Docas do Pará (CDP) e da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) no TAC da Carne Legal, do MPF. O objetivo é vincular a exportação à obrigatoriedade da comprovação da origem lícita dos animais, verificando se foram criados em áreas sem desmatamento ilegal, sem trabalho escravo, e sem invasões a unidades de conservação ou a terras indígenas ou quilombolas.
- Regulamentação municipal do trânsito: segundo Maués, há planos para propor aos Poderes Executivo e Legislativo municipal que regulamentem o trânsito e a permanência de carretas com animais vivos em Barcarena, para garantir a ausência de poluição do meio ambiente e a integridade da população, tendo em vista o mau cheiro, as fezes, e os riscos de acidentes.
A ausência de fiscalização efetiva foi um ponto criticado no evento, onde foi apontado que os órgãos federais de fiscalização, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Marinha, não se fazem presentes de forma permanente em Barcarena.
Lideranças comunitárias e moradores relataram os impactos contínuos do desastre e da atividade de exportação. Pescadores afirmaram que o pescado diminui a cada ano e que algumas espécies desapareceram. Ribeirinhos denunciaram a contaminação da água, que causa problemas de pele em crianças e adultos, e a insuficiência do fornecimento de água potável. “Não é a gente que está acabando com a natureza. Alguém tá destruindo e alguém vai ter que pagar por isso. Infelizmente somos nós que estamos pagando até agora”, desabafou uma moradora.
O representante da Associação dos Barraqueiros da Praia de Vila do Conde, Henrique Nery Carvalho, lembrou que o turismo na região, uma importante fonte de renda, foi drasticamente afetado e nunca se recuperou totalmente. Além disso, a comunidade convive diariamente com os transtornos causados pelas carretas que transportam os bois, como mau cheiro e o risco de acidentes fatais na rodovia.
Crime, não acidente – A vereadora de Belém Marinor Brito foi enfática ao classificar o naufrágio como um crime. “Isso não é acidente: colocar essa quantidade de animais em um navio sem a menor condição de segurança”, afirmou. Paula Cardoso, da MFA, explicou que a atividade foi transferida do porto de Belém para Barcarena após uma ação judicial motivada pelo impacto no turismo da capital. “A conta foi transferida para Barcarena e hoje quem convive com isso são vocês”, alertou aos presentes.
O promotor de Justiça Márcio Maués reforçou o risco de novas tragédias, explicando que os navios utilizados não são adequados para o transporte de animais. “Não existe navio adequado ao transporte de animais. A propensão a acidentes com esses navios é muito maior do que com navios comuns”. Segundo a MFA, essas embarcações, muitas vezes velhas e adaptadas, têm o dobro de chances de naufragar em comparação com a frota mercante padrão.
Ao final do evento, o membro do MPPA informou que, além das medidas já em andamento, será redigida uma carta com os encaminhamentos do seminário e que será dada continuidade ao diálogo com os órgãos responsáveis para implementar as propostas de maior controle e fiscalização.
Importância da participação – A MFA incentivou a comunidade a atuar como testemunha ocular, registrando, por fotos e vídeos, flagrantes de maus-tratos no transporte terrestre e problemas de saúde e ambientais para munir o Ministério Público. A MFA também divulgou o abaixo-assinado pelo fim da exportação de animais vivos no endereço exportacaovergonha.com.br
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