Como uma mentira ajudou o Brasil a conseguir ver a Copa de 70 ao vivo na TV

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Reprodução / Internet Imagem: Reprodução / Nesta semana, o SporTV está exibindo a campanha do Brasil na Copa de 70, que marcou o tricampeonato nacional. O Mundial daquele ano marcou principalmente a primeira transmissão ao vivo de um jogo de um Mundial no nosso país. Mas algo curioso é que, se não fosse a mentira de um diretor que foi negociar os direitos de transmissão para o nosso país, os jogos jamais teriam sido exibidos. O ano era 1969 e, até ali, não se tinha muita certeza se o Brasil teria os jogos ao vivo mo… –

Nesta semana, o SporTV está exibindo a campanha do Brasil na Copa de 70, que marcou o tricampeonato nacional. O Mundial daquele ano marcou principalmente a primeira transmissão ao vivo de um jogo de um Mundial no nosso país. Mas algo curioso é que, se não fosse a mentira de um diretor que foi negociar os direitos de transmissão para o nosso país, os jogos jamais teriam sido exibidos.

O ano era 1969 e, até ali, não se tinha muita certeza se o Brasil teria os jogos ao vivo mostrados na TV. A viabilidade técnica já existia: em fevereiro daquele ano, foi inaugurada a Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações), que montou sua base de Tanguá, distrito de Itaboraí, no Rio de Janeiro. Lá, os sinais de satélite da rede Intelsat, que distribuía o sinal da Copa do México para todo o mundo, eram recebidos e enviados para as TVs brasileiras.

Mas até ali, nenhuma TV ainda podia transmitir a Copa do Mundo de 1970 ao vivo, porque os direitos também não haviam sido negociados. Poucos meses depois, esse assunto na teoria também foi resolvido pela TV Tupi, pioneira emissora do país que ficou no ar até junho de 1980.

José de Almeida Castro, histórico diretor da Tupi, fechou um acordo de exclusividade para a Copa de 70 com a empresa mexicana VT Latin Programs, criada pelo Comitê Organizador da Copa para cuidar desse assunto. Mas assim que o acordo de exclusividade foi anunciado pela Tupi, as outras TVs reagiram.

Globo, Bandeirantes e, principalmente, a Record, disseram que o acordo era ilegal porque um acordo assinado por todas as emissoras de televisão da época, no ano de 1966, proibia exclusividade de transmissões de jogos da seleção brasileira. As TVs afirmavam que não poderia existir monopólio.

A questão foi para o Ministério das Comunicações, que, após reuniões e discussões, decidiu anular o contrato entre a empresa mexicana e a TV Tupi. Além disso, o órgão do Governo Federal também determinou que as emissoras fizessem um “pool” – transmissão conjunta das TVs, onde compartilhavam profissionais e até estrutura técnica – para exibir a Copa de 70.

Determinado o fato, executivos rumaram ao México para fechar novamente o contrato com a VT Latin Programs. Nessa viagem, estavam executivos históricos da TV brasileira, como Walter Clack (considerado por muitos o executivo mais importante da história da Globo), Paulo César Ferreira, diretor da Rádio Nacional; e Flávio Alcaraz Gomes, vice-presidente da ABERT (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão). Além de José de Almeida Castro, da TV Tupi, citado mais acima.

Ao chegar ao México, essa história começa para valer. As negociações não estavam fáceis. A empresa mexicana pedia US$ 1.2 milhão, um valor absurdo para a época. As TVs ofereceram menos da metade – US$ 550 mil. A primeira contraproposta foi recusada pela VT Latin Programs. As reuniões continuaram mas nada saída.

Foi em uma dessa reuniões que a “mentira que salvou a Copa” acabou sendo contada. Paulo César Ferreira, irritado com o executivo Emilio Azcárraga, que comandava a empresa e os direitos de transmissão, bateu na mesa e começou a contar que a não venda dos direitos de transmissão para as TVs brasileiras seria considerado uma afronta pelo Governo Federal. Mais que isso: a seleção brasileira poderia não entrar em campo.

Quem relata o fato é Walter Clarck, no seu clássico livro “O Campeão de Audiência”. “Paulo César – que não por acaso, tinha o apelido de ‘Tarzan’ – deu uma enorme porrada na mesa e blefou, com uma cara de pau: ‘Pois bem, senhor. O senhor é o homem mais poderoso da América Latina. Faça o que bem entender. Não transmita a Copa para o Brasil. Mas também fique certo de que não vai ter a seleção brasileira no campo. Você acha que o governo brasileiro vai permitir que a nossa seleção jogue? Depois de uma ofensa dessas do México? Nunca! E eu quero ver como vai ficar essa m… da sua Copa sem o Brasil'”.

O blefe deu certo. Emílio Azcárraga, intimidado pela fala de Paulo César Ferreira, acreditou que, de fato, o Brasil não poderia entrar em campo. Alguns dias depois, a renegociação foi fechada. O contrato, cotizado pelas emissoras de TV, foi fechado pela bagatela, hoje simplória, de US$ 715 mil.

No fim, Globo, Tupi, Band e Record (essas duas últimas com a alcunha de Rede de Emissoras Independentes) exibiram os jogos do Brasil ao vivo. O restante das partidas era mostrado em VT, bem diferente do que acontece nos dias atuais.
Por:Gabriel Vaquer Colaboração para o UOL, em Aracaju 19/04/2020 04h00
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