Pará tem 168 mil crianças e adolescentes trabalhando

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Antes que eles completem a primeira década de vida, as responsabilidades pelo sustento da família já recaem sobre suas costas. Com o auxílio de um carro de mão, a missão de cada dia é percorrer as ruas em busca de clientes interessados em comprar verduras e frutas. Em meio a centenas de adultos que circulam apressados, o sol forte da manhã e o peso do carrinho empurrado são parte da rotina. Em plena capital do Estado, o trabalho árduo é a condição enfrentada por dezenas de crianças no bairro da Cabanagem.

Na manhã ensolarada da última terça-feira (19), a quantidade de crianças e adolescentes que se encontravam trabalhando na rua Damasco, principal da Feira da Cabanagem, deixava evidente que a situação do trabalho infantil no Pará ainda é uma realidade a ser enfrentada. Desde o início do dia, cerca de 11 meninos e meninas aparentando cerca de 10 anos de idade carregavam verduras, negociavam com clientes, recebiam o pagamento e aguardavam, por muito tempo, o surgimento de uma nova oportunidade de venda.

De volta ao mesmo local dois dias depois, na sexta-feira (22), a presença das mesmas crianças trabalhando é a confirmação de que a situação é costumeira. Mais uma vez com o auxílio dos carros de mão recheados com verduras, as crianças e adolescentes disputavam, contra feirantes adultos, a atenção dos clientes.

Em casa

Escancarada na Feira da Cabanagem, a realidade do trabalho infantil é oficializada pelos números da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD). Um estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA), com base nos dados do PNAD de 2015, aponta que o Pará tinha 168.421 crianças e adolescentes trabalhando. (ver box abaixo). Tal número corresponde a 15% do total de crianças de 05 a 17 anos residentes no Estado.

Apesar de alarmantes, os números podem ser ainda maiores se considerado que muitos casos de trabalho infantil acabam sendo subnotificados. Professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e pesquisadora da área de comunicação e trabalho infantil, Danila Cal aponta que nem sempre os dados oficiais correspondem à situação exata, porque “há formas de trabalho infantil menos visíveis, inclusive, para as estatísticas”.

Uma pesquisa realizada pela professora ouviu adolescentes que relataram manter rotinas de labutas extremamente exaustivas dentro da própria casa, trabalhando para a própria família. “Elas são, muitas vezes, as únicas responsáveis por todas as tarefas domésticas da casa e isso atrapalha, inclusive, os estudos e a sociabilidade das adolescentes”, aponta Danila, destacando a necessidade de reflexão sobre esta condição.

TRT-8 realiza campanhas para combater o trabalho infantil

Os números de crianças no trabalho infantil só não maiores devido às ações desenvolvidas há anos pelo Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT-8), através da desembargadora Maria Zuíla Dutra e da juíza Vanilza Malcher. O objetivo é conscientizar a sociedade de que criança tem de estudar e aproveitar esta fase da vida. Ao longo desse período, vem sendo realizadas caminhadas e campanhas com o objetivo de conscientizar as pessoas neste sentido, de que o trabalho infantil traz prejuízos à infância e à adolescência em geral. Uma nova campanha será desenvolvida durante o Círio de Nazaré deste ano com a missão de atingir a todos os segmentos da sociedade para a importância do assunto. É um dos poucos órgãos públicos que vêm se debruçando sobre o tema e a necessidade de erradicação do trabalho infantil.

Na Cabanagem, muitos trabalham próximos dos pais

A familiaridade mantida pelas crianças durante o trabalho desenvolvido na Feira da Cabanagem deixa evidente que a situação não é recente naquele local. Apesar de afirmarem desconhecer os nomes dos meninos e meninas que trabalham com a venda de produtos no mercado, muitos comerciantes destacam que a convivência com eles é frequente.

A autônoma Maria Antônia Siqueira, 39 anos, aponta que a presença das crianças é diária. Em muitos casos ela percebe a pouca idade das meninas que passam vendendo sacos de verduras. “São crianças bem pequenas mesmo e são elas que têm a responsabilidade de vender e de garantir aquela renda”. Maria Antônia trabalha no local há mais de 10 anos e lembra que, quando começou a frequentar a feira, a presença de crianças e adolescentes trabalhando não era tão comum. De alguns anos para cá, porém, o trabalho infantil cresceu na região. “Muitos deles estão aqui com o conhecimento dos pais”, diz.

Mais antigo na Feira da Cabanagem, o açougueiro Rui Ferreira, 63 anos, também confirma que os pais das crianças costumam ficar por perto. “Eles vêm, mas quando dá a hora do colégio eles vão embora. O problema é que tem dias que não tem aula ou quando chove o colégio vai para o fundo. Sem aula eles acabam vindo para cá mesmo”, reitera

Fonte: DOL.
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