Impactos da política econômica no dólar e a reação dos mercados globais
(Foto: Reprodução) – As promessas de expansão fiscal e protecionismo de Donald Trump podem influenciar a trajetória do dólar, enquanto o Federal Reserve analisa seus próximos passos para conter pressões inflacionárias e manter a estabilidade da economia americana
Com a vitória de Donald Trump nas eleições, o mercado financeiro reagiu imediatamente, ajustando a percepção sobre o dólar em função das propostas econômicas apresentadas pelo ex-presidente. Trump sinalizou desde sua campanha um modelo econômico expansionista, com foco em incentivos fiscais, investimento em infraestrutura e desregulamentação de setores. Esses movimentos buscam acelerar a economia doméstica, mas também aumentam a preocupação com o déficit fiscal e a inflação.
No curto prazo, o impacto imediato tem sido uma desvalorização do dólar em relação a outras moedas, incluindo o real. Essa resposta reflete o otimismo inicial dos investidores com a possibilidade de um estímulo forte à economia dos EUA, mas também uma percepção de que a moeda americana pode perder valor diante de um aumento do déficit e das incertezas em relação à inflação. Esse efeito, se persistente, poderá se intensificar caso a política expansionista se concretize.
O Federal Reserve, por sua vez, desempenha um papel crucial na definição da trajetória do dólar nos próximos meses. Historicamente, o Fed se preocupa em manter a inflação sob controle e pode, portanto, reagir a uma política de forte expansão fiscal com um aumento nas taxas de juros. Tal medida elevaria o custo do crédito e, em tese, valorizaria o dólar. Entretanto, se o aumento for gradual e calibrado para evitar pressões inflacionárias abruptas, a resposta do dólar pode ser menos intensa.
Outro ponto a se observar é o impacto do protecionismo econômico, que Trump defendeu como meio de estimular a produção doméstica em detrimento de produtos importados. Essa estratégia, embora favoreça certos setores dos EUA, tende a criar tensões comerciais e pode prejudicar a balança comercial americana, impactando negativamente a demanda pelo dólar em um cenário globalizado.
No entanto, caso o Brasil adote uma política monetária expansionista, promovendo crédito e investimentos, isso pode contrabalançar o impacto da desvalorização do dólar frente ao real, pelo menos temporariamente. Nos primeiros 100 dias de mandato, espera-se que a aplicação prática dessas políticas forneça mais clareza ao mercado sobre o rumo do dólar. Para além de uma leitura de curto prazo, o acompanhamento das decisões fiscais e monetárias dos EUA será determinante para prever a trajetória da moeda americana.
O efeito das políticas de Trump será, portanto, uma combinação de suas próprias ações e da resposta do Federal Reserve, com desdobramentos importantes para o câmbio e a economia global.
*Yvon Gaillard, cofundador e CEO da Dootax. Com mais de 15 anos de atuação no mercado, Yvon é um dos principais personagens na revolução do sistema fiscal do país. Economista formado pela FAAP e com MBA pela Business School São Paulo, liderou projetos em empresas como Gol Linhas Aéreas e Thomson Reuters.
Fonte: Renato Caliman – Yvon Gaillard, economista e CEO da Dootax e Publicado Por: Jornal Folha do Progresso em 06/11/2024/16:05:04
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