Carta assinada por 68 médicos pede ‘medidas urgentes’ na região de Altamira, no PA, diante da Covid-19

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Hospital Regional Público da Transamazônica, em Altamira — Foto: Pró-Saúde

Documento pede aquisição e distribuição de medicamentos; ampliação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI); e contratação de pessoal.

Uma carta assinada por 68 médicos pede “medidas urgentes” no sistema de saúde da região de Altamira, sudoeste do Pará, diante do avanço da pandemia da Covid-19. Eles pedem aquisição e distribuição de medicamentos, ampliação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e contratação de pessoal.

Os profissionais afirmam que “não há respiradores nem profissionais suficientes, não há equipamentos de proteção individual, (…) que o isolamento social voluntário não ocorreu e não foi aumentada a capacidade de atendimento na rede de alta e média complexidade”.

Altamira é referência para o atendimento de pacientes de outros municípios, além de indígenas e povos tradicionais da região.

A cidade registra, na noite desta quarta-feira (13), 133 infectados pelo novo coronavírus e duas mortes. Segundo boletim mais recente, o município teve 43,9% de isolamento social na terça (12).

O documento foi endereçado ao Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM/PA); Ministério Público Estadual do Pará (MPPA); Ministério Público Federal (MPF); Secretaria Estadual de Saúde (Sespa); Secretaria de Saúde de Altamira; ProSaúde; e à Norte Energia. O G1 entrou em contato com todos os citados e aguarda retorno.

“Nossa região já dispunha de número insuficiente de leitos de UTI (9 leitos) para atender mais de 400 mil habitantes dispersos em uma área maior do que muitos países – muitas pessoas demoram dias de deslocamento para chegar ao Hospital Regional via fluvial e estradas em péssimas condições”, citam.

Ainda segundo o documento, o atendimento a pacientes com sintomas do novo coronavírus é feito com “improvisos”, “como transformar os únicos 5 leitos de UTI Pediátrica em leitos para adultos com COVID-19, diminuindo a já deficiente capacidade de atendimento a crianças em estado grave na região”.

Os médicos afirmam que, dos 152 respiradores que chegaram da China, e não funcionam, três foram enviados pelo governo do estado.

“Doação”

A carta cita, ainda, que dez leitos anunciados como “doação” pela Norte Energia têm previsão de entrega apenas para o mês de julho.

A empresa é responsável pelo funcionamento da usina hidrelétrica de Belo Monte e responde a indícios de não cumprimento de condicionantes, segundo o MPF.

Em nota, a Norte Energia confirmou que os dez leitos de UTI completos, com respiradores e monitores, têm previsão de entrega para junho e julho, afirmou que “contribui com comunidades e sistema de saúde da região” e que “tem cumprido rigorosamente com as obrigações previstas no âmbito do licenciamento ambiental do empreendimento”. A nota afirma que a empresa:

“doou 1.500 cestas básicas à Fundação Nacional do Índio (Funai) para abastecer comunidades indígenas do Médio Xingu que mantém distanciamento social por determinação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai)”, totalizando 126 toneladas de alimentos;
“apoia logística de entrega das cestas, disponibilizando quatro embarcações, sendo duas balsas, uma voadeira e um barco; “forneceu 13,5 mil litros de combustível para 10 veículos do Exército Brasileiro, que percorreram cerca de 2000 km para entrega em 17 aldeias da Terra Indígena Trincheira Bacajá;
“doou 126 mil equipamentos de proteção individual (EPIs) ao 10º Centro Regional da Sespa; “doou EPIs ao 51º Batalhão de Infantaria de Selva (51-BIS), do Exército Brasileiro;
“adquiriu milhares de EPIs e de testes para detecção da doença com previsão de entrega nos próximos dias”.

Confira a carta na íntegra:

Altamira, 11 de maio de 2020.
Ao Conselho Regional de Medicina do Pará – CRM – PA
Ao Ministério Público Estadual do Pará – MEP – PA
Ao Ministério Público Federal – MPF
À Secretaria Estadual de Saúde – SESPA
À Secretaria de Saúde de Altamira
À PROSAÚDE
À Norte Energia S.A.

A pandemia do Coronavírus iniciou na China em dezembro de 2019. Em janeiro de 2020 já chegava à Europa e em fevereiro tivemos o primeiro caso no Brasil. Hoje, são mais de 4 milhões de casos no mundo e quase 300 mil mortos registrados, 11.200 no Brasil. Ainda há muito o que se aprender sobre o vírus e a doença COVID-19, porém há pelo menos 2 meses já era previsto o alastramento da doença pelo Brasil chegando invariavelmente à Região Norte e à Região de Altamira e médio Xingu. Sabia-se também da infectividade do vírus e gravidade da doença, com cerca de 15% dos casos necessitando de tratamento de terapia intensiva (UTI) e cerca de 3,5% chegando a óbito.

Há 1 mês vimos o caos se instalar em cidades do Norte e Nordeste. O problema agora está em nossa casa e não estamos preparados. Não temos respiradores, nem profissionais suficientes, não há equipamentos de proteção individual para os trabalhadores da saúde, o isolamento social voluntário não ocorreu e não foi aumentada a capacidade de atendimento na rede de alta e média complexidade para dar conta de demanda.

Nossa região já dispunha de número insuficiente de leitos de UTI (9 leitos) para atender mais de 400 mil habitantes dispersos em uma área maior do que muitos países – muitas pessoas demoram dias de deslocamento para chegar ao Hospital Regional via fluvial e estradas em péssimas condições. Até agora o que conseguimos fazer foram improvisos, como transformar os únicos 5 leitos de UTI Pediátrica em leitos para adultos com COVID-19, diminuindo a já deficiente capacidade de atendimento a crianças em estado grave na região. Chegaram 3 respiradores enviados pelo governo do estado, inadequados para atender pacientes graves e que não serão utilizados pelo risco ao paciente. Os 10 leitos anunciados como “doação” pela Norte Energia no Jornal Nacional, têm previsão de entrega apenas para o mês de julho, quando será muito tarde. Cabe ressaltar que a empresa descumpriu diversos compromissos fundamentais, previstos como condicionantes para instalação e funcionamento da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

O que é evidente para nós, médicos, mas parece passar despercebido por gestores da saúde e dos governos, é que uma UTI não se faz apenas com respiradores. São necessários leitos, monitores multiparamétricos, bombas de infusão, antibióticos para tratar infecções, sedativos e analgésicos potentes para tirar a dor e permitir que os doentes não acordem quando estão intubados, medicações vasoativas para o coração não falhar, corticoides para reduzir inflamação. E é fundamental também que haja uma equipe de profissionais preparada e quantitativamente suficiente para prestar a assistência. Hoje, um número importante de médicos, fisioterapeutas, equipes de enfermagem já testaram positivo para o Coronavírus e não há quem os possa substituir.

Infelizmente o vivemos hoje é desesperador, pois nem os 9 leitos de que dispunham estão completos: faltam medicamentos básicos para a manutenção da vida e do tratamento intensivo colocando em risco a vida de nossos doentes para além daquele inerente à essa terrível doença que é a COVID-19.

A experiência no tratamento da doença em outros países (Espanha) e outros estados do Brasil tem mostrado que a chave para reduzir a mortalidade é o tratamento precoce, antes que o paciente necessite de UTI. Nesse sentido é fundamental garantir a ampla distribuição dessas medicações na rede básica de saúde. Bem como disponibilizar exames laboratoriais e tomografia de tórax de maneira mais ampla.

Em face a essa situação triste e alarmante, nós, médicos de Altamira e região pedimos que medidas urgentes sejam tomadas tais como: aquisição e distribuição de medicamentos preconizados para o tratamento da COVID-19 pelo ministério da saúde e para terapia intensiva, ampliação imediata dos leitos de UTI completos, tomografia de tórax, contratação médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, equipes de higienização e limpeza.

Certos de contar com vossa compaixão e providências urgentes.

Atenciosamente.

Por Taymã Carneiro, G1 PA — Belém

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