Lideranças rurais convocam políticos para reunião contra operação de combate a crimes ambientais no Pará

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Garimpo clandestino de cassiterita, na Vila Taboca, em São Félix do Xingu — Foto: Leonardo Tomáz/Ibama

Em áudios, moradores classificam como ‘terrorista’ a operação Curupira, do governo do estado, que embargou garimpos ilegais dentro de área de proteção ambiental em São Félix do Xingu. Secretário rebate críticas e afirma que não há destruição de máquinas, embora isso seja previsto em lei.

A Operação Curupira, do governo do Estado, chega ao décimo dia de atividade sob protesto, nesta sexta-feira (24), no sudeste do Pará.

Lideranças da região, onde a operação de combate a crimes ambientais é realizada, convocaram a população e parlamentares paraenses para reunião que busca “enquadrar” a atuação dos agentes de fiscalização. Os críticos alegam “abusos” da operação e dizem que ela “impede as pessoas de trabalhar”.

Iniciada no último dia 15, a operação “Curupira” atua nos municípios que registraram as maiores taxas de desmatamento no estado. A Unidade de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu é o primeiro alvo da operação. Ela está situada em em São Félix do Xingu, município do sudeste do estado com o maior rebanho bovino do país (2,5 milhões de cabeças).

Assediada por garimpos ilegais, a área de conservação estadual é a mais pressionada pelo desmatamento da Amazônia, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). No local, está instalada base fixa de fiscalização para a presença permanente de agentes do Estado.

De acordo com balanço parcial divulgado na quinta-feira (23), até o momento, três áreas de garimpo ilegal já foram embargadas dentro da APA Triunfo do Xingu. A operação deve seguir por tempo indeterminado, segundo o governo.

Três políticos confirmaram que iriam à reunião nesta sexta-feira em São Félix do Xingu: senador Zequinha Marinho (PL), deputado federal Caveira (PL) e deputado estadual Toni Cunha (PSC).

“A acusação que nos chega é que, por enquanto, a operação estaria atuando apenas em cima de pessoas humildes, de pequenos produtores. Se permanecer assim, a operação não passará de uma cortina de fumaça, sem muito efeito para combater o desmatamento na região, que é cometido pelos velhos conhecidos de toda a população, inclusive pelas autoridades, como já foi noticiado no passado”, diz o senador Zequinha.

Em vídeo, senador Zequinha xinga agentes do Ibama e os acusa de queimar carros e casas

Atuante a favor de garimpeiros no Pará, Zequinha Marinho, em 2020, se envolveu em polêmica por apoiar o protesto da categoria que reuniu integrantes de cidades de Cumaru do Norte, Ourilândia do Norte, Tucumã e São Félix do Xingu, alvos de operação do Ibama.

Na ocasião, manifestantes interditaram trecho da BR-158, e cobravam que áreas ilegais de garimpo fossem regularizadas. À época, o senador divulgou vídeo em apoio ao movimento, afirmando que os garimpeiros “estão fechando a BR-158 com toda razão”, em função de “perseguição que se deflagra contra os garimpos”, “queimando máquinas e equipamentos caros”.

Destruição de maquinários

De acordo com apuração do g1, um dos diferenciais da operação Curupira, além da instalação de bases fixas de fiscalização, é a destruição de maquinários usados nos crimes ambientais.

Para isso, explosivos foram levados até a região. A decisão foi interpretada por lideranças locais como “terrorista”, em áudios que circularam em grupos de garimpeiros, fazendeiros e comerciantes da região:

“A reunião é pra toda a população, os fazendeiros, pecuaristas, todos os afetados com esse negócio de fiscalização, que tá tocando o terror na região. É contra esses atos terroristas, isso é um verdadeiro terror que eles tão causando contra a nossa população”.

“Se caso os direitos estiverem sendo violados, defenderei o agro, e quem trabalha pra produzir e movimentar a economia.

Ressalto que as pessoas não podem ser niveladas e tratadas como bandidos. A grande maioria são trabalhadores honestos, que querem apenas oportunidade para regularizar suas áreas e continuar produzindo e sustentando suas famílias. Por fim, não admitiremos abusos e ou ações ilegais”, diz o delegado Caveira, deputado federal pelo Pará.

Em entrevista ao g1, o secretário de Segurança do Pará, Ualame Machado, rebateu as críticas. “Com relação ao maquinário, a recomendação é retirar os equipamentos e acautelar junto a algum órgão público. Não há destruição de máquina, não estamos fazendo isso, embora a destruição seja uma ação legal, já que o Ibama faz, por exemplo”.

Machado destaca que a fiscalização na região se dá como esforço para constranger a atuação de garimpeiros ilegais. “O Pará há mais de 15 anos figura entre os maiores desmatadores da Amazônia. São 15 municípios responsáveis por 70% do desmatamento no Pará. Nosso foco é combater isso”.

A respeito da mobilização contra a operação, o secretário diz que “é um movimento político, que conta com três políticos que defendem até o garimpo ilegal e a exploração de madeira em terra indígena, prática proibida atualmente no país”.

“Não estamos impedindo nenhum trabalhador legal de trabalhar. Estamos impedindo as práticas ilegais. As críticas vêm de um movimento político. Na verdade não é da população, porque ela está feliz com a operação. Só teme a operação quem está na ilegalidade”, afirma Machado.

Desafios da floresta em pé

Tarcísio Feitosa, pesquisador socioambiental desde 1988 e ganhador do prêmio GoldmanPrize (considerado o prêmio Nobel do meio ambiente), explica que “o garimpo é um problema social, e não só ambiental”.

“Há todo um sistema de investimento pesado, que envolve lavagem de dinheiro, narcotráfico, todo dinheiro podre está envolvido na questão do garimpo na Amazônia”.

O especialista afirma que “não adianta só queimar equipamentos, mas sim chegar até a fonte que financia o consórcio criminoso”.

“O garimpo ilegal extrapola a criminologia ambiental, pois não há mais uma associação criminosa, e sim um consórcio de associações. Tem político apoiando, tem dinheiro ilícito entrando na cadeia, o trabalho escravo ou de profundo risco, por isso tem que se alcançar desde quem comercializa, passando por quem transporta e principalmente a quem financia”.

Feitosa defende que, em paralelo às investigações e ações de fiscalização, é preciso ação visando a “mudança de rota da economia da Amazônia”.

“Não cabe mais ser pela destruição da floresta, observando as metas na questão das mudanças climáticas, e também das condições dos direitos humanos, é essencial sair com a operação de combate ao garimpo e gerar emprego na mesma velocidade, no mesmo volume e dedicação. É uma ação pela outra”.

“É preciso que nessa região da APA do Xingu se instale a economia da reconstrução florestal, com técnica, formação e capacitação, implantação da isenção fiscal, apoio e inserção de novas tecnologias, envolvendo políticas claras entre Município, Estado e União por um sistema único da economia da floresta em pé”.

Por:Jornal Folha do Progresso/Com informações do Gil Sóter e Taymã Carneiro, g1 Pará — Belém, em 24/02/2023/15:41:27

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