Novo Progresso tem nome entre os 37 do Pará, na ‘lista suja’ do trabalho análogo à escravidão

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(Foto:Reprodução) – Na mais recente atualização do cadastro de empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à escravidão, conhecida como “lista suja”, publicada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), no dia 7 de outubro, o Pará se destaca com 37 nomes de pessoas físicas e jurídicas mencionados. A lista inclui fazendas, garimpos, estabelecimentos comerciais e industriais espalhados por diversos municípios paraenses.

Entre os locais com maior número de ocorrências, Cumaru do Norte lidera com cinco empregadores incluídos na lista. Jacareacanga, São Félix do Xingu e Uruará também se destacam, com três, duas e duas ocorrências, respectivamente. Os dados evidenciam um cenário preocupante nas áreas rurais do Estado, onde a fiscalização ainda enfrenta obstáculos significativos.

De acordo com dados do MTE, o ano de 2023 registrou 3.190 trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão no Brasil, o maior número dos últimos 14 anos. No Pará, especificamente, 74 pessoas foram libertas dessas condições.
Combate à escravidão

À CENARIUM, o assistente social Francisco Lima, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), refletiu sobre seus 14 anos de atuação na luta contra o trabalho análogo à escravidão e ao tráfico de pessoas. Ele destacou que, desde a sua fundação, a CPT sempre pautou a defesa dos direitos humanos, incluindo o combate à escravidão de homens, mulheres e jovens. Uma das iniciativas da CPT é a campanha “De olho aberto para não virar escravo”, que visa tirar a invisibilidade do trabalho escravizado, denunciar o sistema que perpetua essa prática e pressionar o Estado para romper esse ciclo perverso.

“O trabalho da CPT, nesses quase 50 anos, no combate ao trabalho escravo é muito focado na prevenção junto às comunidades vulneráveis ou em regiões onde há um número elevado de trabalhadores encontrados em situação de trabalho escravo. Essa prevenção acontece em comunidades, territórios, escolas, municípios vulneráveis e em diversos espaços como sindicatos de trabalhadores rurais e conselhos locais. Também promovemos eventos anuais, como o 28 de janeiro, Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, realizando palestras, oficinas e treinamentos com profissionais da rede de assistência social. Utilizamos a mídia e meios de comunicação locais, como rádios comunitárias, para alcançar comunidades sem acesso à internet, levando informações e orientando os trabalhadores sobre como denunciar situações de exploração”, explicou Francisco.

Ele destacou também que, em seus quase 14 anos atuando especificamente na campanha de combate ao trabalho escravizado, já vivenciou casos impactantes, como o de um grupo de trabalhadores resgatados de uma fazenda no sudeste do Pará, que havia sido aliciado no município de Monsenhor Gil, no Piauí. Esse grupo se organizou com apoio da CPT, resultando na formação do assentamento Nova Conquista, que se tornou um exemplo de resistência e organização contra a escravidão. A partir desse processo, os trabalhadores conseguiram acesso à Reforma Agrária e hoje vivem em suas terras, produzindo e sem a necessidade de migrar em busca de trabalho.
Formação para agentes de assistência social Criança Feliz em Marabá (Arquivo pessoal)

Francisco também ressaltou os desafios enfrentados pelos trabalhadores que conseguem escapar dessas situações. “Muitos trabalhadores carregam marcas profundas de exploração física e psicológica. Recentemente, acompanhei dois trabalhadores que conseguiram fugir de uma fazenda, e suas histórias revelam não apenas violações de direitos, mas também um sofrimento psicológico severo. Eles enfrentam assédio moral e violência física, adoecendo nesse ambiente de trabalho”, relatou.

Ele enfatizou a necessidade de fortalecer a rede de apoio aos trabalhadores resgatados. “O Estado precisa criar mais mecanismos para atender a demanda do pós-resgate, que exige muita ação e apoio contínuo. A ampliação de políticas públicas é essencial para evitar que essas pessoas retornem ao ciclo de exploração e aliciamento, caindo novamente na rede do trabalho escravo”, concluiu Francisco.
Lista Suja no Pará

Veja abaixo a lista completa de empregadores do Pará incluídos na mais recente atualização da “Lista Suja” do trabalho análogo à escravidão:

1. Adriano Salomão Costa de Carvalho – Garimpo do Salomão, Cumaru do Norte/PA
2. Afonso Batista Cavalcante – Fazenda Primavera e Fazenda Pedra Branca, Nova Ipixuna/PA
3. Agropecuária Rio Aratau LTDA. – Fazenda Arataú, Novo Repartimento/PA
4. AL E C Instalações e Manutenções LTDA – Avenida Conselheiro Furtado, 76, Belém/PA
5. Antônio Silvério dos Reis – Fazenda Carga Pesada, São Félix do Xingu/PA
6. Carlos Duarte Soares – Fazenda VIP, Uruará/PA
7. Célio dos Reis Campos de Amaral – Fazenda Delta do Triunfo, São Félix do Xingu/PA
8. Cleusa Marcelino Teodoro Pereira – Garimpo da Cleusa, Cumaru do Norte/PA
9. Dirceu da Luz – Sítio Castanhal, Medicilândia/PA
10. Edeuvaldo Gomes dos Santos – Fazenda Novo Progresso, Senador José Porfírio/PA
11. Edival da Luz – Estabelecimento Rural, Medicilândia/PA
12. Edivan Alves de Souza – Marcenaria do Edivan, Redenção/PA
13. Edson Barbosa da Mata – Fazenda Mutun-Acá, Novo Progresso/PA
14. Elismar Ribeiro de Castro – Fazenda Alto Paraíso, Uruará/PA
15. Eloina Rodrigues de Cerqueira Oliveira – Fazenda Céu Azul, São Geraldo do Araguaia/PA
16. Elton Mendanha da Costa – Garimpo de Extração de Ouro, Rio Maria/PA
17. Emylio Sá de Mendonça – Garimpo do Pau Rosa, Jacareacanga/PA
18. Ernesto Hiroshi Harayashiki – Fazenda Harayashiki, Tomé-Açu/PA
19. Espólio de Durvalina Rodrigues da Costa – Bairro da Campina, Belém/PA
20. Getulio Viana Miranda Junior – Fazenda Serra Rica, Cumaru do Norte/PA
21. Guama Comércio de Compensados e Representações EIRELI – Fazenda Moreira, Rondon do Pará/PA
22. Heiras Cultivo de Eucalipto EIRELI – Loteamento Pequizeiro, Couto Magalhães/TO
23. João Victor de Sousa Ramos – V Ramos Engenharia e Construção EIRELI, Benevides/PA
24. José Paulo Lima Costa – Fazenda Montes Altos, Pacajá/PA
25. Lenir Maria Pimenta – Fazenda Serra Rica, Cumaru do Norte/PA
26. Luciano Juliano Rosa Borges – Fazenda Vale da Paz, Cumaru do Norte/PA
27. Marcos Borges de Araújo – Fazendas Pedra Preta e Futura, São Félix do Xingu/PA
28. Mateus Cantanhede Camargo – Garimpo, Rio Maria/PA
29. Michio Sato – Fazenda Tauarizinho, Peixe-Boi/PA
30. Neirivania da Silva Tedesco – Fazenda Santa Paula, Magalhães Barata/PA
31. Raifran Oliveira Nunes – Garimpo do Pau Rosa, Jacareacanga/PA
32. Raimunda Oliveira Nunes – Garimpo do Pau Rosa, Jacareacanga/PA
33. Roberta dos Santos Silva & CIA LTDA – Rodovia BR230, KM 141, Anapú/PA
34. Rogério Almeida da Cunha – Rua Magalhães Barata, 21, Tucuruí/PA
35. Rogério Pirschner – Fazenda 3 Irmãos, Tucuruí/PA
36. Valdemir Alves dos Santos – Fazenda Mata Verde, São Félix do Xingu/PA
37. Vanúbia Silva Rodrigues – Fazenda Bela Vista Presente de Deus, Ourilândia do Norte/PA

Fonte:Jornal Folha do Progresso com revista Cenarium  e Publicado Por: Jornal Folha do Progresso em 14/10/2024/07:28:14

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