Pesca predatória excessiva pode diminuir oferta e tamanho dos peixes nos rios da região

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Registros são mais recorrentes no período do verão amazônico, quando cardumes se concentram em lagos e rios. Cinco métodos de pesca excessiva são mais comuns na região.

A abundância e diversidade de peixes existentes na bacia amazônica são características da região norte do país. Em Santarém, no oeste do Pará, isso não é diferente. Culturalmente, no município é possível notar a compra e venda de pescado nos mercados locais durante o fim de tarde. Mas, a pesca predatória excessiva pode ameaçar essa variedade, visto que a retirada de quantidades significativas de peixes dos lagos, afeta a reposição natural das espécies.

Segundo o diretor de relações públicas e cultura da Colônia de Pescadores Z-20, Jucenil Coelho, o município tem passado por vários problemas em relação a este tipo de pesca por conta da presença de geleiras, inclusive no período do verão. “Elas não respeitam nossas regras, portarias, instruções normativas e acordos de pesca que nós temos. As comunidades sempre vêm trazer essas demandas para a gente levar até os órgãos de fiscalização”, destacou.

Todos os lagos e rios pertencentes a Santarém têm registros dessa prática criminosa, destacando-se neste aspecto: as regiões do Tapajós e Arapiuns, Lago da Aramanaí, Urucurituba, Tapará, Lago Grande, além do Lago do Maicá, considerado um berçário de espécies que abastecem o mercado local.

De acordo com Charles Hanry, professor da área de ciências econômicas de pesca e aquicultura da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), todo tipo de pesca é predatória, pois são retirados organismos do habitat natural. Porém, dependendo da forma como isso é feito, a ação tem consequências ao meio ambiente, como o desiquilíbrio ambiental.

“As consequências podem ser imediatas ou a médio e longo prazo. Quando se tira uma quantidade excessiva de organismo do meio ambiente acima da capacidade de renovação, alguns estoques podem precisar de dois, três, cinco ou dez anos para recompor a estrutura populacional”, explicou.

Para Hanry, é recorrente nos lagos a pesca excessiva direcionada a espécies de grande valor comercial (Pirarucu, Tambaqui) e cultural (como o acari). Quanto maior a procura, mais pescados e raros esses peixes vão ser, independentemente do método. Com o passar do tempo vai ser mais comum encontrá-los com tamanhos médios cada vez menores e preços mais elevados.

Com pouco mais de 40 anos no ramo pesqueiro, o pescador já aposentado Antônio Castro conta que logo no início era comum encontrar nos mercados santarenos peixes regionais de porte grande, porém, com a pesca excessiva isso teve reflexos. “Naquele tempo não existiam fábricas de gelo em Santarém e pegávamos apenas os peixes maiores para vender. Hoje em dia não vemos mais isso, os pescadores estão pescando com redes de malha pequena, pegando tudo, inclusive os peixes menores. Cada vez mais, com os anos passando, vai diminuindo a quantidade de oferta nos rios”, disse.

Tamanho médio para captura

Para algumas espécies, existem tamanhos mínimos para que sejam capturadas. Essas medidas foram estabelecidas para que os peixes possam, no mínimo, se reproduzir uma única vez, deixando descendentes para a conservação da espécie. Abaixo dessas medidas, segundo Hanry, pesquisas apontam que eles não maturaram sexualmente.

Uma das recomendações feitas pelo professor da Ufopa, é que os consumidores de peixes sejam mais exigentes, sabendo a procedência do produto e as leis que regem o período de desova.

“Tanto o pescador quanto o consumidor vão estar garantindo para a geração futura, aí entrar o conceito de sustentabilidade, o mesmo direto que eles têm hoje de usufruir do recurso”, enfatizou Hanry.

Tipos de pescas excessivas comuns na região

Apesar de serem proibidos, alguns métodos de captura do pescado são comuns na região do baixo amazonas. Essa pesca é multiespecífica (captura de várias espécies ao mesmo tempo).

Pesca de arrastão: é feita por redes com extensões superiores ao permitido pelos órgãos ambientais e têm malhas pequenas. Ao serem arrastadas em lagos, o fundo é alterado, dificultando a recolonização da área.
Pesca de “capa-saco”: na vazante dos rios, os peixes procuram sair dos lagos pelo canal, porém alguns pescadores colocam redes em formato de funil na passagem, bloqueando a migração do pescado. Sem alternativas, os peixes são capturados. Segundo Hanry, os aparelhos de pesca não devem ser superiores a um terço da largura desses locais para poder facilitar o fluxo de cardumes.
Pesca com currais: neste método é feita uma estrutura que acompanha o fluxo da água e os peixes são obrigados a passarem por ela, ficando presos no cercado. Consequentemente, eles são capturados.
Pesca com bombas: pescadores usam esse método em cardumes, lançando explosivos nos locais onde os peixes estão. Hanry alerta que este é um dos métodos mais danosos ao meio ambiente. “Com a onda da explosão, muitos peixes morrem perto da superfície, na metade e no fundo do rio, além de provocar um dano à estrutura do meio ambiente”.
Pesca de “batição”: comum durante o verão amazônico, essa técnica consiste em bater com madeira na superfície da água. Os peixes no instinto natural procuram abrigos, porém os aparelhos de pescas estão localizados nestes locais para a captura.

Orientação e preservação

Como instituição, a Colônia de Pescadores Z-20 orienta os associados por meio de programas de rádio, reunião e palestras nas comunidades sobre as formas corretas de captura e preservação do pescado. “O foco é sempre dar orientações para que eles sejam agentes de preservação. Sabemos que algumas pessoas dentro das comunidades fazem esse tipo de pesca, muitas vezes não tendo consciência do problema que podem estar causando para o meio ambiente e para a própria família”, explicou Jucenil Coelho.
Colônia de pescadores Z-20 faz orientações quanto a prática de pesca predatória excessiva (Foto: Geovane Brito/G1) Colônia de pescadores Z-20 faz orientações quanto a prática de pesca predatória excessiva (Foto: Geovane Brito/G1)

Colônia de pescadores Z-20 faz orientações quanto a prática de pesca predatória excessiva (Foto: Geovane Brito/G1)

Os parceiros nestas ações de preservação são a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) que fiscaliza as áreas de conservação ambiental, e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).

Quando há flagrantes, ocorrem apreensões de embarcações, redes de pescas e pescado, além da aplicação de multas. Geralmente, para não ficarem impróprios para consumo, os peixes são doados aos comunitários e a instiutições filantrópicas.

Fonte: G1 Santarém.
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