Barbeiro é ameaça em frutas e farinha, alerta pesquisadora.

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A falta de higiene no armazenamento, transporte, preparo e consumo tornam fontes de contaminação pelo protozoário da Doença de Chagas (Trypanosoma cruzi) o caldo de cana, a farinha de mandioca e de tapioca, sucos de frutas, chopps (sacolés), picolés e praticamente quaisquer outros frutos e alimentos, alerta a coordenadora do Programa de Doença de Chagas do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), a cardiologista e professora-doutora Dilma de Souza. No Pará, já houve surtos de contaminação do açaí pelo barbeiro, o inseto transmissor, mas as políticas públicas voltados ao manejo e à fiscalização reduziram as ocorrências e aumentaram a segurança do consumidor. Outros alimentos carecem de políticas específicas, fiscalização mais rigorosa e atenção do público.
De 1º de janeiro a 19 de julho, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) registrou 127 casos de Doença de Chagas, número elevado que evidencia um problema que não se restringe ao açaí. “O açaí é mais consumido, por isso há mais casos. Mas precisamos ficar alertas para os demais alimentos. Não podemos, por falta de higiene, contrair uma doença crônica tão grave que pode afetar o coração e o cérebro, que pode matar e só é tratável na fase inicial e com 80% de chance de cura”, ressalta a cardiologista. A espécie de barbeiro mais comum na região amazônica é a que causa problemas cardíacos.
A doutora Dilma explica que o desmatamento elimina o lar e os alimentos do barbeiro e o vetor da Doença de Chagas busca novos abrigos e comida em frutas diversas e outros alimentos. Essa é uma forma de contaminação que foge à tradicional, na qual o barbeiro picava uma pessoa e ali depositava fezes e ovos contaminados, conduzidos à corrente sanguínea. Nessa nova dinâmica de contaminação, o barbeiro é triturado junto com os alimentos não higienizados, como frutas batidas no liquidificador ou polpas. No caso da cana de açúcar, nos trituradores artesanais ou móveis. Em 2005, em Santa Catarina, houve surto de Doença de Chagas por consumo de caldo de cana. Em abril deste ano, no Rio Grande do Norte, 14 casos foram registrados também pelo caldo de cana.
“A primeira e mais básica regra de higienização de frutas e demais alimentos é lavá-los em água corrente e abundante. Há produtos específicos que facilitam a higiene, mas alguns são caros, pouco acessíveis a pessoas de baixa renda. Mas quase qualquer fruta e suco de fruta tem um risco de transmissão da Doença de Chagas. Se o fruto estiver contaminado e não for limpo antes de consumido ou preparado, há risco. O mesmo vale para frutas colhidas direto da árvore ou que acabaram de cair. Há pacientes que se contaminam por uma fruta que acabaram de pegar, mas não lavaram”, observa a cardiologista.
Os cuidados devem envolver também o transporte e armazenamento dos alimentos. É nesses momentos que aumenta o risco de contaminação de farinha, da tapioca e de frutas. Quem comercializa precisa estar atento a essas regras e o consumidor precisa cobrar segurança daquilo que consome.
A preocupação das autoridades de saúde se deve ao fato de que, entre agosto e dezembro, há o aumento do número de casos de Doença de Chagas pelo açaí e por outras frutas, que entram no período de safra.
Consumidores não parecem muito preocupados, até serem informados do risco. Nas feiras, experimentam a farinha com a mão. Nas lanchonetes e pontos de venda de caldo de cana, tomam a chamada garapa e outros sucos sem temor algum, até serem confrontados. “Na farinha e no caldo de cana também? Não era só no açaí? Só falam do açaí!”, assustou-se Ana Lúcia Pacheco, 52 anos.
LIMPEZA
O vendedor de açaí Mário Lobo garante ter feito todos os cursos e diz que segue à risca as regras da Vigilância Sanitária para bater e comercializar o açaí artesanalmente. Mas, mesmo com a pressão do poder público e da legislação em vigor, ele afirma que há mais de 3 mil pontos de venda de açaí na Região Metropolitana de Belém e nem todos são zelosos com a higiene. “Está para começar a época do pico do barbeiro. A preocupação aumenta e somos ainda mais atentos na hora de limpar o açaí, que vem cheio de sujeira. Na hora de catar, a gente percebe o quanto fica de imundície na mesa. Mas aí eu lavo, branqueio, uso hipoclorito. Eu tenho todos os cuidados, mas nem todo mundo tem”, pondera.
Fernando Duarte, vendedor de farinha de mandioca e de tapioca, diz que não tem conhecimento e nem pode garantir que os fornecedores, de São Miguel do Guamá, nordeste do Estado, seguem regras de higiene no momento da produção. “Aqui, a gente vê o que faz e os clientes cobram. Querem ver tudo coberto com plástico, sem bicho. Mas quando vem de lá, realmente não dá para saber”, admite.
Há mais de cinco anos vendendo caldo de cana, Manoel Nascimento diz que o seu fornecedor de cana envia produtos ainda sujos. Ele lava em casa e corta com terçado as palhas e raízes desnecessárias. Ao levar para moer na hora e produzir o suco, cobre com um plástico. “Eu tomo o caldo que faço e nunca tive doença. Nem nenhum dos meus clientes. Uso luvas para me proteger. Só que tem gente que não tem preocupação nenhuma e faz de qualquer jeito”, diz ele.
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