Depois de confronto com ‘homem branco’, gripe derruba índios

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Integrantes de tribo foram contaminados em um conflito e isolados para evitar epidemia

Um confronto com um grupo não identificado fez mal à saúde de uma tribo indígena do Acre. Sete integrantes da Aldeia Simpatia contraíram gripe, doença contra a qual não têm defesas naturais, e tiveram de ficar numa espécie de quarentena por seis dias, sob forte tratamento, para evitar a disseminação de uma epidemia. Foram os próprios indígenas que telefonaram e pediram ajuda para uma base da Fundação Nacional do Índio (Funai). A operação, encerrada no dia 11, foi divulgada apenas na semana passada.

Mesmo com a ligação, não foi fácil aproximar-se dos índios, que são do povo Ashaninka. Uma equipe de emergência chegou próximo à aldeia no dia 2 de junho, seguindo vestígios da tribo. Inspetores da Funai, mateiros, intérpretes e um médico levaram 25 dias para conseguir abordar os indígenas.

Resistência a vacinas

Outras duas visitas foram realizadas naquele mês — todas pacíficas, mas rápidas. Os pesquisadores voltavam em poucas horas para o interior da mata. Mas foi o suficiente para que o diagnóstico fosse confirmado. O conflito com o “homem branco” terminara em gripe para cinco homens e duas mulheres.

O tratamento começou no dia 4 deste mês, quando os índios tomaram os primeiros remédios. Dois dias depois, os doentes, que estavam na mata, foram levados para uma base da Funai. Durante o tratamento, que durou quase uma semana, os índios resistiram a tomar vacinas, mas foram convencidos pelos intérpretes e aceitarem medicação oral.

O grupo foi monitorado durante toda sua estada, até o tratamento ser cumprido. Não houve casos mais graves nem evolução da gripe para pneumonia. Os índios foram liberados para voltar às suas malocas apenas quando não havia mais riscos de epidemia.

— Conversamos com o grupo indígena por meio de intérpretes, e eles relataram que sofreram atos de violência praticados por não índios nas cabeceiras do Rio Envira, no Peru — conta Carlos Travassos, coordenador geral de Índios Isolados e Recém-Contatados da Funai. — Por se tratar de uma região de fronteira, estamos tomando medidas para investigar os fatos relatados e implementar um plano de ação com o governo peruano.

O plano de contingência realizado com os Ashaninkas só é aplicado quando uma tribo isolada pede socorro ou se for identificado algum fator que a colocaria em perigo. Na sexta-feira passada, a Funai e o Ministério da Saúde discutiram novas operações que poderiam ser adotadas na área.

— Foi uma situação preocupante, porque, como os índios têm pouquíssima imunidade (ao influenza), o quadro poderia ter evoluído para uma pneumonia, colocando-os em risco de morte — explicou Douglas Rodrigues, médico da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que participou da operação no Acre. — Além disso, temíamos que as sete pessoas do grupo de contato pudessem contagiar os demais integrantes de seu povo ao voltar para a aldeia.

Novo contato mês que vem

Equipes da Funai e do ministério vão procurar a aldeia no próximo mês, quando tentarão vacinar o maior número possível de Ashaninkas. Apesar da resistência inicial, Rodrigues acredita que a iniciativa pode dar certo “chegando a tempo e montando uma estrutura”. Já o ministro da Saúde, Arthur Chioro, prometeu aumentar a equipe médica para a população indígena. Para o plano dar certo, falta combinar com a isolada tribo acriana, que foi vítima do ataque, mas também sabe resistir a visitas indesejadas.

Fonte: ORMNews.

Publicado por Folha do Progresso fone para contato  Tel. 3528-1839 Cel. TIM: 93-81171217 e-mail para contato:folhadoprogresso@folhadoprogresso.com.br

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