O Relato da Progressense confinada em Wuhan, epicentro do coronavírus: ‘É como uma prisão domiciliar’

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O relato de uma brasileira confinada em Wuhan, epicentro do coronavírus: ‘É como uma prisão domiciliar’

Depois de viajar diversas vezes à China desde 2010, Reisi Liao mudou-se para o país com o marido em novembro
Imagem: Arquivo pessoal

Reisi Liao mudou-se em novembro para cidade de 11 milhões de habitantes que está de quarentena; há uma semana praticamente não sai de casa e, com bebê dois anos, evita inclusive descer para as áreas comuns do condomínio.
A paraense Reisi Liao mudou-se de Novo Progresso para a cidade chinesa de Wuhan no dia 8 de novembro.
Seu marido é natural da Província de Hubei e, depois muitos anos de idas e vindas, o casal decidiu ficar definitivamente na China por causa da “incerteza” que ronda o Brasil, da “instabilidade do governo e da economia, que não vai tão bem”, segundo ela.

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“E a gente encontra esse cenário”, diz ela, referindo-se à epidemia de coronavírus, que matou cem pessoas apenas na Província de Hubei e provocou o fechamento da cidade de Wuhan, considerada o epicentro da contaminação.
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Há seis dias, Wuhan vive em uma espécie de quarentena. Não se pode entrar ou sair da cidade, o transporte público parou de circular, as aulas nas escolas e na universidade foram suspensas.
Apenas algumas farmácias e supermercados continuam abertos.
Desde então, Reisi praticamente não saiu de casa. É o marido que sai para comprar mantimentos, apenas pelo tempo mínimo necessário e protegido por uma máscara.
Com um filho de dois anos, ela não desce nem para as áreas comuns do condomínio, para evitar uma exposição desnecessária do bebê ao risco.
“É como se fosse uma prisão domiciliar.”
Enquanto ela conversa com a reportagem, os sogros jogam dominó na sala do apartamento. Eles vieram de uma cidade próxima para as festividades do Ano Novo Lunar e, agora, por causa do bloqueio, não podem mais voltar.
Para passar o tempo, Reisi lê, assiste à televisão. “Cuidar do bebê também mantém a gente bem ocupado”, ela brinca.
Como não fala mandarim, sua principal fonte de informação são os portais em português.
Brasileiros pedem para ser retirados
Ela e os outros brasileiros que vivem em Wuhan mantêm contato por meio de um grupo de WeChat, serviço de mensagens instantâneas semelhante ao WhatsApp.
São cerca de 50 pessoas, segundo ela, muitos estudantes que hoje estão praticamente isolados dentro do campus da Universidade de Wuhan, que suspendeu as aulas.
Parte do grupo quer voltar ao Brasil ? e já fez o pedido à diplomacia brasileira.
Em entrevista nesta terça-feira (28/1) à Rede Globo, o embaixador brasileiro em Pequim, Paulo Estivallet de Mesquita, afirmou, entretanto, que a China não autorizou voos para evacuação de cidadãos estrangeiros.
E disse ainda que as autoridades brasileiras agirão “assim que possível”, quando a quarentena for suspensa pelo governo chinês.
Países como Japão e Estados Unidos já anunciaram a intenção de retirar seus cidadãos das zonas afetadas em voos fretados.
“Se você me perguntar, eu queria voltar era ontem”, diz a paraense de 46 anos.
Ela teme que o confinamento possa se estender por muito mais tempo ? a última grande epidemia na China, ela lembra, durou 9 longos meses.
O surto da Síndrome Respiratória Aguda Grave (conhecida pela sigla em inglês Sars), também causada por um coronavírus, começou em 2002 e matou 774 pessoas, entre 8.098 infectadas.
A quarentena decretada desta vez pelas autoridades chinesas, entretanto, não tem precedentes, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Ela atinge hoje cerca de 18 milhões de pessoas ? os 11 milhões de habitantes de Wuhan e os 7,5 milhões que vivem em Huanggang, distante 70 km.

Cidade fantasma
Na última vez em que Reisi saiu de casa, alguns dias atrás, deparou-se com uma cidade vazia.
Ela foi jantar na casa da cunhada, que também vive no distrito de Hanyang ? segundo a brasileira, o trânsito entre bairros também está limitado.
Encontrou ruas e estradas vazias, as poucas pessoas que circulavam pelas calçadas usavam máscara.
“Um cenário meio apocalíptico.”
Os primeiros rumores de que havia um vírus novo circulando em Wuhan começaram em dezembro, ela conta. Inicialmente, falava-se que a doença não era transmitida entre humanos.
“Cheguei a perguntar pro meu marido se não precisávamos usar máscara, mas ele disse que as notícias eram de que ela só era transmitida pelo contato com a carne dos animais infectados.”
Falou-se que o agente transmissor seria o morcego. Posteriormente, cogitou-se que a epidemia teria se alastrado a partir de um mercado de alimentos, transmitida por carne de cobra.
Os rumores circularam por dias até que as autoridades se manifestassem, lembra Reisi.
Nesta segunda-feira, o prefeito de Wuhan admitiu que sua gestão demorou para responder à crise e afirmou que deixaria o cargo.
A cidade é um importante ponto de conexão da rede de transporte do país: fica a poucas horas de trem de grandes cidades, o que a torna estratégica para a infraestrutura ferroviária de alta velocidade.
Wuhan também tem um importante porto fluvial, construído no curso intermediário do rio Yang Tsé ? que, com quase 6,4 mil quilômetros, é o maior rio da Ásia e o terceiro do mundo.
Seu tamanho e importância econômica, além do fato de ser um hub de transportes, explicam em parte por que o vírus viajou tão rapidamente no sudeste da Ásia e até chegou aos Estados Unidos.
Enquanto isso, a brasileira tenta acalmar a família no Pará e fala diariamente com a filha, de 23 anos, que pede para ela voltar.
Ela e o marido têm esperança de que, passado o inverno rigoroso que os recepcionou em Wuhan, a situação “dê uma amenizada”.

Por:Camilla Veras Mota – Da BBC News Brasil em São Paulo
Da BBC News Brasil em São Paulo
28/01/2020 14h35
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