Padre: “Temer cometeu crime na Flona Jamanxim”

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Revoltado com o decreto assinado pelo presidente Michel Temer (PMDB) que diminuiu a área da Flona do Jamanxim, localizada na região sudoeste do Pará, o coordenador da Frente em Defesa da Amazônia (FDA), padre Edilberto Sena, declarou, em entrevista exclusiva à nossa reportagem, que ficou revoltado com o chefe do Poder Executivo Nacional.

padre Edilberto Sena
padre Edilberto Sena

O Governo Federal publicou no dia 20 deste mês duas Medidas Provisórias, a MP 758 e a 756, que alteram os limites de quatro Unidades de Conservação (UCs) localizados no estado do Pará. As medidas colocam em risco a proteção legal das áreas que já sofrem com o desmatamento e o aumento dos conflitos fundiários e de grilagem de terras na Amazônia.

A MP 758 altera os limites do Parque Nacional de Jamanxim e da Área de Proteção Ambiental do Tapajós e foi criada para atender a passagem da Estrada de Ferro (EF) 170, linha férrea que fará o transporte de grãos do Mato Grosso ao Pará até o porto de Miritituba, de onde serão exportados.

Já a MP 756, além de modificar os limites da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim e do Parque Nacional do Rio Novo, criará uma Área de Proteção Ambiental do Jamanxim. Todas essas UCs ficam na região sudoeste do Pará que é também cortada pela BR-163.

Para o padre Edilberto, o decreto de Temer se consolida, como “mais um crime hediondo legalizado na Floresta Amazônica”. O religioso critica duramente o gestor nacional. “Como pode um governo passageiro assinar um decreto como esse de duração constante e efeitos irreversíveis? Michel Temer sem o menor escrúpulo, decreta a diminuição de uma Floresta Nacional sem escutar os técnicos do IMPA, do IBAMA, do ICMBIO, das comunidades que são afetadas. Já desde o governo Dilma vinha acontecendo a invasão da Floresta Nacional do Jamanxim. Fazendeiros, madeireiros, garimpeiros, todos grilaram terras da Flona  Jamanxim. Na época, pensaram em desmembrar 300 mil hectares dos um milhão, trezentos e um mil hectares originais. Tal proposta era para legalizar a  grilagem já ocorrida, sem que o ICMBIO desse conta de evitar. Não resolveu o problema”, dispara padre Edilberto.

Segundo ele, mesmo podendo ser afastado do cargo em poucos meses, o presidente Michel Temer, agravou a situação na Flona Jamanxim. “Agora, o governo mais interino do que o de Dilma amplia o crime. Michel Temer atende aos interesses da voracidade dos 250 grileiros posseiros que estão dentro da Flona  e chegando mais. Por Decreto pessoal, Temer diminui 43% da floresta grilada. Isto reduz 743.540 hectares  da Flona. Boa parte desta área já é hoje pasto de fazendas, com 105 mil cabeças de gado, é área de garimpos ilegais e de exploração madeireira. Nenhum desses posseiros grileiros foi punido, mas a floresta e os rios foram”, aponta padre Edilberto.

CONFLITO: De acordo com ele, a morte do sargento do Grupamento Tático Operacional (GTO), João Luiz Pereira, de 45 anos, em junho deste ano, marcou os conflitos ocorridos na Flona Jamanxim. “Quem foi punido foi o policial que acompanhava o ICMBIO, há alguns meses, numa inútil fiscalização e foi assassinado pelo madeireiro. Afinal, o governo aceita ser submisso aos donos de áreas griladas e protegidas por balas de 38 e das cartucheiras!”, exclama padre Edilberto.

Para ele, decretos como o documento assinado pelo presidente Michel Temer contribuem para o desmatamento da Amazônia e o aumento dos conflitos no campo. “Assim vão se reduzindo as florestas, a biodiversidade, e poluindo os rio. Segundo informações dos IMPA, só neste ano que está terminando foram desmatados cerca de 8 mil quilômetros de floresta na Amazônia. O Pará é o segundo maior estado  desmatador e a Flona Jamanxim está neste perímetro amazônico”, revela padre Edilberto.

CONIVÊNCIA: De acordo com ele, os políticos da região são cúmplices desses crimes, por falta de coragem de defender o território amazônico, da devastação. Sena afirma que nem os políticos municipais, os estaduais e os federais defendem a Amazônia. “Quem defende a floresta e sua biodiversidade? Um exemplo do que ocorre com a Flona Jamanxim é o caso de Santarém. Dentro da cidade, de frente para o belo rio Tapajós, de um lado a multinacional CARGILL implantou um porto moderno, aplaudido por empresários e políticos. Invadiu o rio, destruiu parte de um sítio arqueológico e se apossou de um quarteirão de lazer popular. Exporta de em torno de dois milhões e oitocentos mil toneladas de soja por ano e emprega apenas 450 trabalhadores. Do outro lado da cidade, está a entrada de um belo lago, em frente ao rio Amazonas. Ali se anuncia construção de quatro grandes portos graneleiros semelhantes ao da CARGILL. Todos são forasteiros e um é estrangeiro. No momento parte da sociedade civil, moradores de nove bairros que serão diretamente prejudicados, lutam contra o absurdo dos portos que invadirão a APA Maicá. Mas 98 por cento dos 21 atuais vereadores estão abertamente favoráveis aos projetos portuários, sacrificando a Área de Proteção Ambiental. Resistir é preciso, mas são poucos os dispostos a se arriscar a enfrentar esse monstro de dez chifres”, critica padre Edilberto.

FLONA DO JAMANXIM: Criada em fevereiro de 2006 pelo Decreto Presidencial nº 10.770, a Flona do Jamanxim está localizada a noroeste da rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163), na divisa entre os estados do Pará e Mato Grosso. Tem um perímetro de 1.301.120 hectares. A Flona do Jamanxim, é o maior conjunto de unidades de conservação do País. Ela foi criada em 2006, com mais de 1,3 milhão de hectares, para diminuir o desmatamento da Amazônia trazido pela BR-163. Além disso, permite o uso sustentável de recursos florestais. Com a criação da Flona, o governo queria barrar o avanço do desmatamento em uma das principais fronteiras na Amazônia. Dez anos depois da implementação da reserva, o governo ainda não pagou indenizações aos ocupantes e os limites da Flona estão sendo novamente discutidos.

Segundo a Polícia Civil, durante a operação, os agentes do Ibama incendiaram um acampamento de madeireiros. No caminho de volta, os agentes ficaram presos em um atoleiro e ao retornarem, surpreenderam um homem no local. O sargento ainda deu voz de prisão ao suspeito que conseguiu fugir. Houve perseguição e o sargento foi atingido por dois tiros. O policial ainda conseguiu voltar e pedir ajuda, mas não resistiu e morreu a caminho da cidade.

Por: Jefferson Miranda /O Impacto

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