Pecuarista invade terra indígena de MT para criar gado e abastecer exportações da JBS à União Europeia, diz ONG
Gado criado na propriedade de Mauro — Foto: Tuane Fernandes/Greenpeace
O Greenpeace diz que Mauro Fernando Schaedler cria gado ilegalmente na Terra Indígena Pequizal do Naruvôtu, e que o rebanho é vendido a frigoríficos da JBS. A empresa nega irregularidades.
Uma investigação da ONG ambiental Greenpeace aponta que frigoríficos da JBS que exportam à União Europeia foram abastecidos por gado criado de forma ilegal pelo pecuarista Mauro Fernando Schaedler, na Terra Indígena Pequizal do Naruvôtu, localizada entre os municípios de Canarana e Gaúcha do Norte (MT).
A denúncia foi conduzida pela equipe da ONG e divulgada na última quinta-feira (25), no entanto, não foi formalizada aos órgãos fiscalizadores.
Em nota, a JBS negou irregularidades e informou que uma auditoria interna foi realizada para debater as compras mencionadas pela Greenpeace e concluiu que todas seguiram os critérios estabelecidos pela Política de Compra Responsável de Matéria-Prima, assim como os protocolos definidos pelo setor (veja íntegra da nota no final da reportagem).
“Diante das informações apresentadas pela investigação, a JBS bloqueou preventivamente a Fazenda Itapirana e solicitou esclarecimento ao produtor”, diz trecho da nota.
A denúncia do Greenpeace apontou ainda que Mauro é proprietário das fazendas Três Coqueiros II e Itapirana, e está envolvido em práticas de “lavagem de gado” para comercializar os bovinos criados ilegalmente.
“É assim que Mauro Fernando tem garantido a comercialização dos animais produzidos de forma irregular dentro da TI Pequizal do Naruvôtu para duas unidades frigoríficas da JBS: um na Barra do Garças e outro em Água Boa”, disse o Greenpeace.
A lavagem de gado ocorre quando bois criados em áreas irregulares, como terras desmatadas, invadidas ou dentro de territórios indígenas, são transferidos para fazendas sem problemas legais, que “limpam” a origem dos animais. Essas fazendas vendem o gado para frigoríficos, escondendo o vínculo com a destruição ambiental.
A investigação aponta ainda que, para burlar a fiscalização, o pecuarista Schaedler transferiu 1.238 cabeças de gado da Fazenda Três Coqueiros II para a Fazenda Itapirana, entre janeiro de 2018 a fevereiro de 2025, após a primeira propriedade ser embargada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 2023, por operar sem licença ambiental dentro do território indígena.
Além disso, as propriedades de Schaedler na Amazônia acumulam multas ambientais que somam R$ 3,1 milhões. O pecuarista foi apontado na denúncia como um dos fazendeiros que contestam a demarcação oficial da terra dos Naruvôtu, homologada pelo governo brasileiro em 2016.
Veja abaixo a ligação das propriedades de Mauro com a Terra Indígena:
2006
Um laudo antropológico da Fundação Nacional do Índio (Funai) reconhece oficialmente a área tradicionalmente ocupada pelo povo Naruvôtu.
2016
A Terra Indígena Pequizal do Naruvôtu é homologada pelo Governo Federal.
No mesmo período, fazendeiros da região, incluindo Mauro Fernando Schaedler, iniciam disputas judiciais contestando a demarcação da terra.
2018–2025
É registrado o período em que ocorre a prática de transferência de gado da Fazenda Três Coqueiros II para a Fazenda Itapirana.
2023
A Fazenda Três Coqueiros II é flagrada desenvolvendo atividade agropecuária ilegal dentro da TI Pequizal do Naruvôtu.
O Ibama aplica multa e embarga 592 hectares da propriedade por operar sem licenciamento ambiental.
2025
O Supremo Tribunal Federal (STF) reafirma a validade da demarcação da Terra Indígena Pequizal do Naruvôtu.
O reconhecimento fortalece a proteção ao território e deslegitima as tentativas de contestação por parte dos fazendeiros da região.
Do território ilegal à Europa
Entre 2018 e 2021, o frigorífico da JBS em Barra do Garças recebeu pelo menos 216 bois da Fazenda Itapirana e continuou comprando animais dessa propriedade até este ano (veja notas no fim da reportagem). Essa unidade é a única da cidade autorizada a exportar carne para a União Europeia, e dados alfandegários indicam que a carne oriunda dessas fazendas pode ter sido comercializada para diversos países europeus, como Espanha, Alemanha, Itália, Países Baixos e Reino Unido.
“Grandes corporações, como a JBS, precisam ser reconhecidas pelos danos que provocam e pela sua contribuição com a emergência climática e com a crise da biodiversidade, além de serem responsabilizadas pelos impactos socioambientais e danos que seus modelos de negócio promovem. O lucro não está acima da vida”, concluiu o Greenpeace na denúncia.
Outro frigorífico da JBS, localizado em Água Boa, recebeu 2.640 bovinos da Fazenda Itapirana entre 2019 e 2025, conforme registros de movimentação de gado. Essa unidade exporta para vários destinos, incluindo Hong Kong, que tem importado carne e miúdos bovinos em grandes quantidades nos últimos anos.
Sobreposição com Terra Indígena
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o critério de sobreposição com Terras Indígenas considera áreas em diferentes fases do processo de demarcação, incluindo fases como declarada, homologada, regularizada ou interditada.
Uma propriedade é considerada apta quando o mapa georreferenciado, com base no Cadastro Ambiental Rural (CAR), não possui sobreposição com Terra Indígena na data da compra do gado. Já uma propriedade é considerada inapta quando esse mapa possui sobreposição com Terras Indígenas, sendo que os limites variam dependendo do tamanho da propriedade.
Íntegra da nota da JBS
“O Greenpeace falhou em demonstrar o trânsito do gado da fazenda Três Coqueiros para as fábricas da JBS. Auditoria das compras apontadas pelo Greenpeace constatou que todas seguiram a Política de Compra Responsável de Matéria Prima da Companhia e o protocolo setorial.
Ainda assim, diante das informações apresentadas pela “investigação”, a JBS bloqueou preventivamente a Fazenda Itapirana e solicitou esclarecimento ao produtor.
A JBS monitora 100% dos seus fornecedores por meio de imagens de satélite de alta resolução e cruzamento de informações de bases oficiais. Desde 2021, a companhia implementou a Plataforma Pecuária Transparente, que utiliza tecnologia blockchain e permite aos fornecedores da JBS verificar a conformidade de seus próprios fornecedores, assim enfrentando o desafio setorial de acesso à informação — a indústria não tem acesso a Guias de Trânsito Animal como as que foram utilizadas nessa investigação”.
Fonte: G1 MT e Publicado Por: Jornal Folha do Progresso em 29/09/2025/16:43:49
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