Pesquisa científica revela os danos à Amazônia

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As perdas de carbono na floresta amazônica pela degradação florestal representam até 40% das perdas pelo desmatamento. É o que revela artigo publicado este mês por cientistas brasileiros e britânicos na revista Global Change Biology. O estudo, que coletou amostras de plantas e solos em 225 pontos da região e é o maior já realizado para as florestas tropicais degradadas, aponta a perda de carbono em florestas que passam por perturbações, como extração madeireira e fogo acidental.

A Amazônia tem um papel de destaque na contenção do processo de aquecimento global. Ela estoca cerca de 90 bilhões de toneladas de carbono, o que corresponde a 35% do carbono presente nas florestas tropicais no mundo. No entanto, os pesquisadores mostram que, além da perda de carbono através do desmatamento, a floresta também perde muito carbono quando é degradada.

A exploração madeireira e os incêndios acidentais na região causam a perda de cerca de 54 milhões de toneladas de carbono, que representam 40% da perda anual pelo desmatamento da floresta, o que não vem sendo contabilizado nos números oficiais. Para se ter uma ideia melhor dessa quantidade, a perda equivale a mais de 40 milhões de carros circulando durante um ano.

Estudo – A pesquisa iniciou em 2009 com pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental, Museu Paraense Emilio Goeldi e Universidade de Lancaster (Reino Unido), no âmbito da Rede Amazônia Sutentável. Ao longo desses anos foram levantados dados de campo em duas regiões da Amazônia Oriental: nos municipios paraenses de Belterra e Santarém, oeste, e Paragominas, nordeste do Pará. Nesses locais foram estudadas 87 mil amostras de plantas e 5 mil amostras de solo.

A pesquisadora Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, explica que a análise dos dados de campo foi combinada com a análise de imagens de satélite desde a década de 80. “Esse é um dos grandes diferenciais do trabalho, pois realizou-se uma pesquisa detalhada em áreas de florestas degradadas, que normalmente são difíceis de visualizar nas imagens de satélite. Até então as pesquisas com emissões de carbono referiam-se ao desmatamento da floresta, ou então a estudos focados em distúrbios isolados. Este é o primeiro estudo que contempla áreas degradadas e diferentes tipos de distúrbio com um todo”, explica.

A quantidade estocada de carbono foi avaliada em diferentes tipos de florestas: intacta ou primária; com exploração seletiva de madeira; e explorada e queimada (ver infográfico). Para chegar a essa quantidade, a conta é simples: 50% de uma árvore – a parte aérea (folhas) e madeira – é carbono, medida que vale para plantas em geral. Os resultados do estudo nos diferentes tipos de floresta mostram que as perdas de carbono vão de 18% a 57% quando se compara as áreas degradadas às áreas intactas.

A combinação dos danos causados pela extração de madeira e incêndios acidentais pode então transformar as florestas em um mato denso, cheio de árvores e cipós de pequeno porte, resultando em armazenamento 40% menor nos estoques de carbono nas matas degradadas.

A pesquisadora Erika Berenguer, da Universidade de Lancaster, primeira autora do artigo, explica que a degradação florestal frequentemente começa com a extração de madeiras de alto valor comercial, como o mogno e o ipê. A retirada dessas árvores causa danos a dezenas de árvores vizinhas. “Uma vez que a floresta tenha sido explorada, formam-se muitas aberturas, o que significa que a floresta se torna muito mais seca devido à exposição ao sol e ao vento, o que por sua vez aumenta o risco de fogos acidentais se espalharem por dentro dessas florestas”, afirma. Ela ressalta ainda que desmatamento significa a remoção completa da floresta, enquanto que a degradação significa que a floresta continua em pé, mas tem sua estrutura e suas funções profundamente afetadas.

“A degradação da floresta é um elemento importante a se considerar no papel que o Brasil desempenha frente às emissões de carbono”, explica Joice Ferreira. Há a necessidade de políticas públicas voltadas para a redução do uso do fogo na agricultura e para o controle da extração ilegal de madeira.

Para o pesquisador Jos Barlow, da Universidade de Lancaster e do Museu Goeldi, o estudo abre novas perspectivas para entender o uso da terra na Amazônia, os processos de degradação e os impactos da ação do homem sobre a floresta.  “O próximo passo é entender melhor como essas florestas degradadas respondem a outras formas de distúrbios causados pelo homem, especialmente aqueles oriundos das mudanças climáticas, como períodos de seca mais severos e estações de chuva com maiores níveis de precipitação”, finaliza Barlow.

Rede – A Rede Amazônia Sustentável (RAS) é um consórcio de trinta instituições brasileiras e estrangeiras, da qual participam mais de 100 pesquisadores que desenvolvem estudos para avaliar a sustentabilidade dos usos da terra no leste da Amazônia. Junto com comunidades locais e organizações não-governamentais, a rede gera conhecimento para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Criada em 2009, a rede é coordenada pela Embrapa Amazônia Oriental, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade de Lancaster (Reino Unido) e Instituto Ambiental de Estocolmo (Suécia). Para conhecer o trabalho da Rede Amazônia Sustentável visite www.redeamazoniasustentavel.org

Fonte: ORMNews.

Publicado por Folha do Progresso fone para contato Cel. TIM: 93-81171217 e-mail para contato: folhadoprogresso@folhadoprogresso.com.br

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