Servidor do Ibama rebate Bolsonaro, que acusou órgão de abuso

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(Foto:Divulgação/Ampara Animal) – Roberto Cabral, servidor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), rebateu nesta terça-feira (23/8) as declarações de Jair Bolsonaro na véspera ao Jornal Nacional. Bolsonaro havia acusado o Ibama de abuso na destruição de equipamentos usados em crimes ambientais na Amazônia.

Disse Jair Bolsonaro nesta segunda-feira (22/8), em referência aos equipamentos usados em crimes e apreendidos por órgãos fiscalizadores:

“A destruição, como está em lei, é se você não puder retirar o equipamento daquele local. O que vinha acontecendo, e ainda vem, infelizmente, é que o material pode ser retirado do local, porque se chegou lá, pode ser retirado. E há o abuso de uma parte, por parte do Ibama”.

Cabral, que já comandou operações do Ibama, se licenciou do instituto recentemente para se candidatar à Câmara pela Rede no Distrito Federal. O servidor citou três argumentos principais para desmentir Bolsonaro, que atacou a destruição dessas máquinas e insinuou que a retirada dessas máquinas de garimpos ou terras indígenas poderia ser feita facilmente.

O primeiro é a condição precária dos caminhões usados em crimes ambientais. “Os caminhões que estão puxando toras de madeira são bem precários, sucateados, com freio quase arrebentando. Já houve situações em que o caminhão perdeu o freio e tombou com um agente nosso. E se o criminoso continua dirigindo o caminhão e sofre um acidente, a responsabilidade é do Estado”, disse Cabral.

O segundo argumento é a dificuldade de locomoção na Floresta Amazônica. “Tem que levar um caminhão prancha para retirar o maquinário. No meio da mata ainda não tem onde manobrar. Em vários quilômetros o caminhão vai ter de entrar de ré. A balsa só sai na época de chuva. E se sair com o trator, vai a cinco quilômetros por hora. Imagine rodar mais de 50 quilômetros só para chegar à estrada de chão”.

Por último, Cabral apontou que a lentidão para retirar o maquinário põe em risco a vida dos agentes que participam da operação.

“Já presenciei um conflito no meio da mata, com troca de tiros em uma emboscada porque tentaram resgatar o caminhão que estávamos tentando retirar do local. Também há o risco de passar por vilarejos cujos moradores são contra a fiscalização do Estado. Vão se posicionar na rua e tentar arrematar o maquinário. Na hora da abordagem, os policiais e agentes federais têm o elemento surpresa a seu favor. Se você começa a fazer a guarda do terreno para retirar essas máquinas, isso se perde”.

Ainda segundo Roberto Cabral, a fiscalização do Ibama protege ainda uma competição comercial justa. “A serraria [ilegal] está roubando madeira e não pagando nada para o Estado, com uma vantagem no lucro em relação às empresas que são legalizadas e fazem o manejo durante os anos”.

A destruição de florestas na Amazônia alcançou um novo e alarmante patamar durante o governo Bolsonaro. O desmatamento no bioma aumentou 56,6% entre agosto de 2018 e julho de 2021, em comparação ao mesmo período de 2016 a 2018Igo Estrela/Metrópoles

De acordo com a pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), mais da metade (51%) do desmatamento do último triênio ocorreu em terras públicas, principalmente (83%) em locais de domínio federal.

Dois anos após o “Dia do Fogo”, as queimadas na região voltaram a quebrar recordes anuais. Em 2020, a Amazônia Legal registrou o maior índice dos últimos nove anos (150.783 focos de fogo), um valor 20% maior que no ano anterior e 18% maior que nos últimos cinco anos.

Em 2019, Bolsonaro se envolveu em algumas polêmicas ao ser pressionado sobre as medidas para controlar a situação das queimadas na Amazônia. Na época, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou que o mês de julho havia registrado um aumentos de 88% nos incêndios, em comparação com o mesmo período do ano anterior .

O presidente da República questionou a veracidade das informações e chegou a afirmar que se o relatório fosse verdadeiro a floresta já estaria extinta. O diretor do instituto, Ricardo Galvão, acabou exonerado por conta da qualidade das informações divulgadas pelo órgão Ricardo Fonseca/ASCOM-MCTIC

Bolsonaro chegou a culpar as Organizações não governamentais (ONGs) pela situação na floresta. Segundo o presidente, o objetivo era enviar as imagens para o exterior e prejudicar o governo.

Diante da polêmica, o governo lançou edital com o intuito de contratar uma equipe privada para monitorar o desmatamento na Amazônia. O presidente também convocou um gabinete de crise para tratar das queimadas e prometeu tolerância zero com os incêndios florestais.

Porém, durante os três anos de governo de Jair Bolsonaro, as políticas ambientais foram alvo de críticas por conta dos cortes orçamentários, desmonte de políticas de proteção ambiental e enfraquecimento de órgãos ambientais Reprodução

Em 2020, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o chefe do Executivo voltou a criar polêmicas ao declarar que os incêndios florestais eram atribuídos a “índios e caboclos” e disse que eles aconteceram em áreas já desmatadas. Além disso, Bolsonaro alegou que o Brasil é vítima de desinformação sobre o meio ambiente Agência Brasil.

No ano seguinte, Bolsonaro elogiou a legislação ambiental brasileira e o Código Florestal e enalteceu a Amazônia durante a assembleia. Além disso, disse que o futuro do emprego verde estava no Brasil Agência Brasil

Em novembro de 2021, o presidente classificou as notícias negativas sobre a Amazônia como “xaropada”. Contudo, de acordo com o Inpe, a área sob risco tem 877 km², um recorde em relação à série histórica.

Durante um evento de investidores em Dubai, Jair disse que a Amazônia não pega fogo por ser uma floresta úmida e que estava exatamente igual quando foi descoberta em 1500Agência Brasil

Estudo do Ipam, divulgado em 2022. alerta que a tendência é que o desmatamento cresça ainda mais na Amazônia caso sejam aprovados projetos de lei que estão em discussão no Congresso. Segundo o instituto, esses textos preveem a regularização de áreas desmatadas e atividade de exploração mineral em terras indígenas. (Com informações de Guilherme Amado Eduardo Barretto/metropoles).

Jornal Folha do Progresso em 23/08/2022

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