Nova investigação expõe condições imundas e sofrimento animal em diversas fazendas de suínos no Brasil

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Gravações inéditas feitas pela ONG Sinergia Animal mostram porcas grávidas mantidas em gaiolas, ambientes sujos e procedimentos controversos em filhotes

Imagens de divulgação

Uma investigação inédita conduzida pela ONG Sinergia Animal revela práticas controversas e irregularidades que causam sofrimento a milhões de porcos criados no Brasil. Pela primeira vez em anos, investigadores conseguiram documentar os bastidores de parte da produção de carne suína no país, expondo as condições insalubres em que animais são mantidos e o impacto em seu bem-estar.

Divulgadas em outubro, as imagens foram gravadas em diversas fazendas no Sul do país, onde concentra-se 70% da produção nacional. Os registros mostram porcas grávidas mantidas em gaiolas individuais, onde não conseguem caminhar ou sequer se virar. Inseminadas repetidamente ao longo de suas vidas para gerar os leitões abatidos pela indústria da carne, essas fêmeas enfrentam sofrimento prolongado devido ao confinamento extremo. Nas gravações, animais são vistos mordendo as grades de ferro, em desespero, numa tentativa de aliviar a frustração.

“As gaiolas de gestação causam intenso sofrimento físico e psicológico aos animais, o que levou a prática a ser banida no Reino Unido e em diversos países. No Brasil, infelizmente, as imagens mostram que milhares de porcas ainda vivem nessas condições terríveis — essas gaiolas ainda são amplamente usadas no setor agropecuário nacional. As porcas passam meses aprisionadas durante a gravidez e, após parir, são mantidas em gaiolas de lactação. É um ciclo de confinamento extremo”, diz Cristina Diniz, diretora da Sinergia Animal no Brasil.

Os investigadores da organização também flagraram inúmeras porcas com infecções e complicações graves de saúde, como mastite e prolapsos. Em um depoimento em áudio, a funcionária de uma das fazendas investigadas comentou sobre uma das porcas no local e confirmou que essa é uma situação comum. “Ela jogou o reto dela pra fora. Na hora de criar, como fez muita força, acabou jogando pra fora. Muitas porcas jogam até o útero pra fora, daí morre na hora”, revelou. Segundo ela, os animais que morrem são cortados em pedaços e jogados em uma composteira no local.

As condições sanitárias são alarmantes. As porcas e seus filhotes são forçados a deitar sobre seus próprios dejetos, sem qualquer possibilidade de se limpar. “Ao contrário do que muitos pensam, os porcos são animais limpos e muito inteligentes. O seu comportamento natural é se deitar o mais longe possível das áreas onde urinam e defecam, o que torna esse tipo de confinamento extremamente estressante e um risco para a saúde”, explica a Dra. Patricia Tatemoto, gerente de bem-estar animal e pesquisa da ONG. Em uma das imagens divulgadas pela Sinergia Animal, a funcionária relata que uma porca com um nódulo visível em uma das mamas desenvolveu mastite, uma inflamação dolorosa comum em fazendas industriais — agravada pelo ambiente imundo e a falta de cuidados veterinários adequados.

O descaso com o bem-estar animal não afeta apenas as porcas adultas, como também os seus filhotes. Os leitões são submetidos a práticas controversas logo após o nascimento, quando são castrados e têm seus rabos, dentes e orelhas mutilados sem uso de anestésicos e analgésicos. Apesar de proibido pela IN 113/2020 do Ministério da Agricultura e Pecuária no Brasil, a investigação revelou que leitões têm seus dentes cortados com alicates em uma das fazendas. “Tem um alicate, daí abre a boquinha dele e corta só o dentinho dele”, descreve uma funcionária.

“O corte de dentes é uma prática adotada pela indústria para evitar problemas causados ou agravados pelas próprias condições estressantes em que esses animais vivem. A superlotação dos galpões e o ambiente pobre de estímulos positivos podem levar filhotes confinados a se morderem. O tamanho das ninhadas também vem sendo manipulado pela indústria, aumentando ao longo dos anos e gerando mais competição entre os leitões na lactação. E, em vez de melhorar as condições em que os animais são mantidos, a indústria opta por ‘resolver’ a situação que causou com uma mutilação dolorosa”, lamenta Tatemoto.

Ranking de bem-estar animal

Para a Sinergia Animal, a investigação evidencia o quanto a suinocultura brasileira ainda precisa avançar em bem-estar animal. Anualmente, a organização classifica as maiores produtoras de carne suína do país em seu relatório Porcos em Foco, analisando o progresso do setor para acabar com práticas que causam sofrimento animal. Em 2023, 66% das empresas avaliadas reportaram novas políticas de bem-estar animal.

“Apesar de observarmos um importante avanço, até o momento nenhuma empresa pontuou o suficiente para se classificar na Categoria A. Ainda mais preocupante é ver grandes produtoras como a Aurora Alimentos, que abate mais de 7,3 milhões de porcos por ano e é a terceira maior do Brasil, entre as últimas colocadas em políticas de bem-estar animal. É inaceitável que uma empresa desse porte ainda permita tanto sofrimento”, aponta Diniz.

A Sinergia Animal pede que os consumidores peçam à Aurora Alimentos para que adote uma política de bem-estar mais contundente, eliminando completamente o uso de gaiolas de gestação em suas operações e proibindo o corte de orelhas — prática conhecida como mossagem e já banida por 7 das 9 maiores empresas de carne suína do país.

Para assistir a investigação na íntegra, acesse: www.youtube.com/watch?v=60ORNKtOI5o

 

Fonte: Jéssica Amaral e Publicado Por: Jornal Folha do Progresso em 09/10/2024/15:45:39

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