Professora paraense é premiada por projeto voltado a jovens da periferia

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Iniciativa foi contemplada no 11º Prêmio Professores do Brasil 2018
(Foto:  Akira Onuma/O Liberal) – O diálogo construtivo entre professor e estudantes pode superar barreiras culturais e modificar cenários adversos, como mostra a relação estabelecida entre a professora Lília Melo e os alunos da Escola Estadual Brigadeiro Fontenelle, localizada no bairro da Terra Firme, em Belém. A partir de uma iniciativa que busca transformar os jovens da periferia em protagonistas da sua própria história, estimulando-os a também modificarem a realidade a sua volta a partir de uma consciência crítica, ela conquistou o título regional do 11º Prêmio Professores do Brasil 2018. Chancelada pelo Ministério da Educação (MEC), a premiação será entregue no dia 29 deste mês, no Rio de Janeiro.

A professora de Língua Portuguesa Lília Cristiane Barbosa de Melo, 42 anos, quinze destes dedicados ao ensino, atua com 11 turmas do Ensino Médio na Escola Brigadeiro Fontenelle, cravada no centro nervoso de um dos bairros com maior índice de violência na capital paraense.

E foi com o projeto que desenvolve junto aos alunos da escola estadual onde leciona, intitulado “Terra Firme: Juventude periférica – Do Extermínio ao Protagonismo!”, que ela se inscreveu e teve sua atuação reconhecida entre os relatos de experiências pedagógicas exitosas no País, contemplados pelo Professores do Brasil 2018.

Nas ruas

Lília conta que no ano letivo de 2015, após uma chacina ocorrida por conta da morte de um policial militar no bairro da Terra Firme, os estudantes passaram a fazer poesias sobre a temática negra e a violência na periferia das cidades. As ações tiveram a parceria de coletivos culturais, como o Tela Firme (webjornal) e Casa Preta (sobre cultura afro).

Em abril de 2018, uma nova chacina ganhou destaque no noticiário local, atingindo, inclusive, uma família de moradores da Terra Firme. Umas das vítimas, um garoto, era aluno da Escola Brigadeiro Fontenelle. E outras pessoas assassinadas no episódio eram conhecidos dos alunos da professora Lília Melo.

Uma das ações do projeto, até então, era levar para praças e vias públicas manifestações de cultura de rua, como o hip hop e oficinas de tambor. “A nossa proposta sempre foi de tornar a rua um espaço de socialização e não apenas de deslocamento, por causa do toque de recolher imposto pela criminalidade. A ideia era resgatar as brincadeiras de rua, as conversas nas portas das casas, a rotina de interatividade que foi desaparecendo. Só que a chacina daquele ano fez com que os alunos parassem as atividades, e alguns até de ir a escola”, destacou a educadora.

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Com as mortes, o ânimo dos estudantes – e da própria professora, como ela mesma confessa – com as atividades do projeto, que tinha 400 estudantes registrados, esmoreceu. “No entanto, quase que simultaneamente, foi lançado o filme ‘Pantera Negra’, abordando a cultura afro, e eu fiquei impactada com a produção. Queria que os alunos também assistissem ao filme”, contou Lília.

Ocorre que, pelos cálculos que havia feito, o custo da ida de cada aluno ao cinema sairia a R$ 55,00, o que a escola não teria condições de bancar. Foi quando ela decidiu fazer uma postagem sobre essa dificuldade nas redes sociais e, em menos de 24 horas, alcançou 200 compartilhamentos.

A campanha na internet destinada a conseguir ingressos promocionais em salas de cinema chegou ao conhecimento do diretor de um shopping center que resolveu ceder 200 ingressos para uma sessão do filme aos alunos. Em seguida, outro shopping center também aderiu à campanha e ofertou mais 200 lugares para os estudantes.

Após essas sessões os alunos voltaram a debater temas pontuais, inclusive em rodas de conversa em instituições de ensino superior. Com a parceria do empresário Roberto Tuelho, autor do projeto Mais Um Passo, os alunos resolveram organizar a primeira biblioteca comunitária ativada por estudantes da rede pública. E também montaram o Cine Clube TF (com página no Facebook), que incentiva a produção de documentários e dialoga com cineastas como Alan Kardec e Januário Guedes.

O relato dessas experiências ao MEC trouxe como resultado a premiação, cuja cerimônia está marcada para o dia 29, no Sesc Jacarepaguá (RJ). Na ocasião, ela receberá o título da Etapa Regional Norte (Ensino Médio) do Prêmio Professores do Brasil. “Tenho os melhores alunos do Norte do Brasil. O prêmio é fruto de um trabalho coletivo, somos um só na periferia”, ressalta.

 
Por: Eduardo Costa/Redação Integrada 5 de Novembro de 2018 às 23:03 Atualizado em 5 de Novembro de 2018 às 23:09

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