‘Recebi o dinheiro de um funcionário do Ibama e de um professor da Ufopa’, diz dono de caminhão que capotou no Corta Corta

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Josielson Mendes da Silva, de camisa preta manga longa, Jaderson Marques e Edivaldo Sanches no momento do carregamento do caminhão — Foto: Dominique Cavaleiro/G1

O acidente durante transporte de carga de madeira doada à Ufopa, matou quatro pessoas. A polícia investiga o caso.

Ainda abalado pela perda do irmão e do genro no grave acidente com o caminhão de sua propriedade, na região do Corta Corda, dia 20, Ordinelson Almeida afirma que o transporte da madeira foi contratado por um funcionário do Ibama e um professor da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

O G1 e a TV Tapajós ouviram na manhã desta quarta-feira (25), no bairro Jutaí, Ordinelson, filhos, viúvas e irmãos das vítimas do trágico acidente. Eles reclamam da demora para o socorro de Josielson, a vítima que morreu no domingo (22), no Hospital Municipal Dr. Alberto Tolentino Sotelo e da falta de apoio por parte dos órgãos envolvidos na mega operação de transporte de madeira apreendida na área de assentamento, e que havia sido doada à Ufopa.

“Quem fez o primeiro contato comigo foi um funcionário do Ibama, por telefone. Ele disse que era pra buscar a madeira no Corta Corta e levar para o campus da Ufopa, na Maracangalha. Foi combinado o valor de R$ 2 mil por viagem. Íamos fazer umas 20 viagens. Eu recebi R$ 1 mil de um funcionário do Ibama em frente ao residencial Cravo do Maicá, na Curuá-Una. E já no velório, apareceu o professor Raul, da Ufopa, que me deu mais R$ 1 mil e disse que ia ver como eles podiam ajudar. Depois todo mundo sumiu”, relatou Ordinelson.
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Ordinelson Almeida (de camisa preta e bermuda) e outros familiares das vítimas do trágico acidente — Foto: Sílvia Vieira/G1

Segundo o gerente regional do Ibama em Santarém, Roberto Abreu, os dois pagamentos, antes da viagem e após o acidente, foram feitos por um professor da Ufopa. “Foi o professor da Ufopa que fez os contatos com o proprietário do caminhão. Nós estávamos em comboio na Curuá-Una, ficamos aguardando. Todos os pagamentos foram feitos pelo professor da Ufopa”, afirmou.

A Ufopa foi contatada para se manifestar sobre a contratação do caminhão para o transporte da madeira, uma vez que, no sábado (21), emitiu nota afirmando que não havia contratado o serviço, mas até agora não respondeu.

Segundo o proprietário do caminhão, seriam necessárias 20 viagens para trazer os 200 metros cúbicos de madeira serrada. No caminhão dele, eram transportados cerca de 10 a 12 metros cúbicos de madeira. O acidente aconteceu ainda na primeira viagem. Ordinelson acredita que o irmão, Ornilson Silva de Almeida, que dirigia o caminhão, perdeu o controle do veículo no final de uma ladeira, onde havia uma curva. Uma elevação do relevo teria provocado a quebra da barra de direção, provocando o capotamento.

“Logo após a descida tem uma curva no local chamado Água Azul. Pelo que as testemunhas relataram, ele (Ornilson) tentou fazer a curva, só que ao ver que não ia conseguir, colocou entre duas mangueiras. Ele fez o certo, porém, tinha uma espécie de canaleta logo na frente onde bateu e quebrou a barra de direção, freou tanto que arrancou pedaços de pneu. Não sei dizer com que peso o caminhão estava, mas a capacidade dele era para 14 toneladas. Mas temos filmagens de um trecho de subida, em que um caminhão do BEC vinha puxando ele”, contou Ordinelson.
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Caminhão capotou na região do Corta Corda após não conseguir realizar curva em ladeira — Foto: Reprodução/Redes Sociais

À espera por respostas

Quatro pessoas morreram vítimas do acidente com o caminhão: Ornilson Silva de Almeida, Jaderson dos Santos Marques, Edivaldo Sanches Souza e Josielson Mendes da Silva. Duas faziam parte do mesmo núcleo familiar. Ornilson, o motorista, era irmão de Ordinelson, e Josielson era genro de Ordinelson. A esposa de Josielson, Karen Jane, de 22 anos, está grávida de quatro meses do primeiro filho do casal.

Fabiane Guimarães, 19 anos, era esposa de Jaderson dos Santos Marques, de 24 anos. Ela está grávida 3 meses, do primeiro filho do casal.

Jaderson e Edivaldo eram amigos das outras vítimas e já haviam trabalhado juntos em outras oportunidades.

“Pra mim, não importa o caminhão, eu queria ter meu irmão de volta, o meu genro, os meninos que saíram daqui pra ir ganhar o seu dinheiro trabalhando”, disse Ordinelson em meio a lágrimas.

As famílias estão dilaceradas pelas perdas e cobram das instituições envolvidas na operação de transporte da madeira, apoio e assistência.

“A gente quer que a verdade apareça. Eu perdi meu irmão e meu genro. Minha filha está grávida. Os outros também querem saber como vão viver, um deixa cinco filhos. Tem outra moça quer está grávida e o filho já vai nascer sem pai. Nós só queremos justiça. Que eles ajudem essas famílias, porque o meu ‘ganha-pão’ era aquele caminhão. Mas pra mim, não importa o caminhão, eu queria ter meu irmão de volta, o meu genro, os meninos que saíram daqui pra ir ganhar o seu dinheiro trabalhando”, disse em meio a lágrimas.

“Tudo o que eu quero é meu filho de volta. Ele saiu de casa para trabalhar e quando voltou foi dentro de um caixão. Dói demais”, disse Maria Cileida, mãe de Jaderson Marques.
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Fabiane Guimarães, grávida de três meses, e Maria Cileida, mãe de Jaderson dos Santos Marques — Foto: Sílvia Vieira/G1

Para Maria Cileida, mãe de Jaderson, não está sendo possível sequer olhar para as fotos do filho de quando ele ainda estava vivo. É dor que não cabe no peito. “Eu não consigo falar, não consigo ver as fotos, os vídeos do meu filho vivo. A esposa dele está grávida, nós estamos sem chão, sem norte. Eu fico me perguntando: ‘Meu Deus, e agora, o que vai ser de nós?’ Meu filho era tudo pra mim, era ele que me ajudava. Ninguém dá certeza de nada pra gente, não falam nada”.

Karen Jane não sabe como será a vida sem Josielson. Ela ainda tenta compreender porque o socorro ao marido demorou tanto. Ele teve acesso a um vídeo gravado por um morador do Corta Corta, em que o marido dela aparece bastante machucado, mas consciente, dizendo seu nome, o endereço do casal e como chegar até lá.

É muito triste. Ele podia estar vivo se não tivessem demorado tanto a socorrer. Deixaram ele ficar sofrendo com um monte de madeira em cima dele. Meu filho não vai conhecer o pai”, disse Karen.
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Karen Jane, esposa de Josielson, está grávida de quatro meses — Foto: Sílvia Vieira/G1

Segundo Karen, pessoas que viram o acidente contaram para os familiares que foram até lá, que Josielson ficou por mais de meia hora gritando por socorro. “Ele estava consciente, ele pedia socorro e as pessoas que estavam no comboio não deixavam que ninguém se aproximasse para tirar a madeira. Isso é desumano”, lamentou.

O acidente aconteceu por volta das 20h30 do dia 20, e Josielson foi socorrido pelo Samu por volta de 01h30 do dia 21, segundo relato dos familiares.

Josielson e Jaderson estavam em cima da carga de madeira quando o acidente aconteceu. Além da madeira, seis pneus de carreta retirados da área onde a madeira foi apreendida, haviam sido colocados na carroceria do caminhão a pedido do Ibama.

Inquérito instaurado pela Polícia Civil de Santarém apura as responsabilidades pelo transporte da madeira, contratação do serviço e pelo acidente.

“Já solicitamos as perícias técnicas ao CPC, vamos ouvir os órgãos envolvidos nessa operação, de modo a elucidar os fotos e a culpabilidade pelo ocorrido, inclusive em relação ao fato de duas pessoas virem em cima da carga na carroceria do caminhão”, informou delegado Jaime Paixão.

Por Sílvia Vieira, G1 Santarém — PA

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