Agricultor morto na mesma região que Dorothy Stang no PA liderava assentamento com 120 famílias e denunciava invasões
Agricultor Ronilson de Jesus Santos era liderança em assentamento agrário em Anapu, no Pará. — Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
Ronilson de Jesus Santos foi executado com tiros na cabeça em Anapu, assim que o filho caçula saiu para comprar peixe para almoçarem. Dois homens usando capacetes chegaram até a casa dele, nos fundos, e atiraram. ‘Queremos manter o legado dele e saber quem são os covardes que fizeram isso’, diz filha.
Famílias do assentamento agrário Virola-Jatobá, em Anapu, no sudoeste do Pará, pedem Justiça pelo assassinato de Ronilson de Jesus Santos, de 53 anos. Liderança de 120 famílias no campo, ele foi encontrado morto com tiro na cabeça por volta das 14h20 da sexta-feira (18), logo depois que o filho caçula havia saído para comprar peixe para almoçarem.
Quatro dias antes do crime, Ronilson gravou na última segunda-feira (14) um vídeo denunciando a invasão de madeireiros e pistoleiros na região. No vídeo, ele relatou que invasores estavam entrando na área, construindo acampamentos e mexendo em plantações.
“Os fazendeiros estão ali construindo barraco, tirando estaca, fazendo tudo, fazendeiro com pistoleiro dentro da área. Isso não pode acontecer”, ele dizia no vídeo.
Além de liderança no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Virola Jatobá, Ronilson também era dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Contraf Brasil) e atuava na luta pela reforma agrária no Pará.
Vivendo na área desde 2016, os agricultores de Virola-Jatobá relatam que a situação estava escalando em tensão por disputa de terra.
Ao g1, filha de Ronilson, Janiele Anunciação de Jesus revelou “que a situação estava bem complicada, porque começou a aparecer um pessoal querendo tomar a área, ameaçando, amedrontando, e foram entrando”.
“São madeireiros, pistoleiros, não sei por que tanta ganância. Eles tiraram muita estaca, até hoje estão lá, um monte de estaca para todo o lado. A gente sempre se sentiu desamparado, desprotegido, sem saber em quem confiar. O que a gente quer agora é que o sacrifício dele não tenha sido em vão”.
Janiele disse que, agora, a família quer respostas da Justiça pelo crime. Ronilson deixa esposa e oito filhos.
“Vamos ficar aqui para manter o legado dele, fazer valer o sacrifício dele pela nossa comunidade para um ver o sonho dele se tornar realidade que é cada um nós viver no seu lote tranquilo, trabalhando. Queremos saber quem foram os covardes que fizeram isso com o meu pai”.
O agricultor estava sozinho na hora do crime, nos fundos da casa onde morava no bairro Alto Bonito. Dois homens usando capacete chegaram em uma moto azul no fim da manhã. Os tiros atingiram a cabeça da vítima, que morreu no local.
Investigações
O crime com características de execução ocorreu na mesma região em que a missionária Dorothy Stang foi assassinada em 2005.
O PDS Virola-Jatobá, área de quase 40 mil hectares, fica a 25 quilômetros da rodovia BR-230, a Transamazônica, e foi regularizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em 2002. O projeto é resultado do trabalho da norte-americana e, desde a criação, vem sendo alvo de disputa de terra.
Segundo a Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (Deca), em Altamira, município vizinho a Anapu, oitivas estão sendo realizadas sobre o assassinato de Ronilson e, em breve, os agentes devem ir a campo para coletar provas e depoimentos.
Nenhuma linha de investigação será descartada no momento, segundo a polícia, e possíveis suspeitos já foram identificados. Ninguém havia sido preso até esta a manhã deste domingo (20).
O assassinato ocorreu dia antes de 23 de abril, quando a Comissão Pastoral da Terra (CPT) vai lançar o relatório anual de “Conflitos no Campo Brasil”.
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado do Pará (Fetraf Pará) divulgou uma nota dizendo que “o Pará não pode continuar sendo o palco de massacres silenciosos e repetidos, enquanto comunidades inteiras vivem com medo, ameaçadas por interesses que privilegiam a grilagem, a pistolagem e o lucro acima da vida”.
Em nota publicada nas redes sociais, a Contraf Brasil repudiou o crime e prestou solidariedade à família de Ronilson.
A confederação disse que “tem o compromisso de denunciar esse crime bárbaro” e que “vai tomar providências para exigir a apuração rigorosa dos fatos e a punição dos responsáveis”.
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, disse em nota que a região onde o crime ocorreu “é palco de conflito entre agricultores e madeireiros”.
O ministro disse também que está tomando providências para que o crime não fique impune, e informou que conversou com o secretário de Segurança Pública do Pará (Segup) para pedir a investigação do caso e a proteção aos demais agricultores.
Teixeira também solicitou à ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, que o assentamento Virola Jatobá e o acampamento no Vale do Paracuru sejam incluídos no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos.

A Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) informou, em nota, que equipes especializadas da Polícia Civil foram deslocadas para o município de Anapu para reforçar o policiamento e agilizar a investigação do caso.
Ainda segundo a secretaria, agentes das Policias Militar e Civil seguem em diligências na região para identificar e responsabilizar os autores do crime.
A Segup informou ainda que a Ronilson não integrava o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) e que, também, não havia pedido para a inclusão.
O g1 solicitou nota aos órgãos competentes citados na reportagem e aguardava respostas até publicação da reportagem.
Informações que ajudem na apuração do caso devem ser repassadas ao Disque Denúncia, pelo número 181.
Fonte: G1 PA e Publicado Por: Jornal Folha do Progresso em 22/04/2025/09:40:10
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